Na vspera de completar seis meses no cargo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) demitiu na ltima semana dois ministros, modificou as funes de 3 das 4 pastas que ficam no Palcio do Planalto e anunciou pessoalmente troca de comando em duas estatais: o BNDES e os Correios.
Com esses gestos, alguns considerados intempestivos at por auxiliares, o presidente d sinais de que busca uma nova maneira de governar e deixar para trs a difcil relao com o Congresso at aqui –e que lhe rendeu sucessivas derrotas, como a mais recente rejeio do decretos de armas pelo Senado.
Nesta sexta (21), ele itiu que, por "inexperincia", cometeu erros ao distribuir algumas funes de equipe, em especial no dilogo com o Legislativo.
O presidente redistribuiu as funes entre trs pastas do Planalto: Casa Civil, Secretaria-Geral e Secretaria de Governo. A principal delas foi retirar das mos do ministro Onyx Lorenzoni a tarefa da articulao poltica. Caber ao chefe da Casa Civil cuidar da coordenao do governo.
O dilogo com o Legislativo ar para o recm-chegado Luiz Eduardo Ramos, general de quem Bolsonaro amigo e que substituir Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido aps desgaste provocado por crticas de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), e do escritor Olavo de Carvalho.
No primeiro semestre como presidente, Bolsonaro adotou um modo oscilante na maneira de governar. Agora, tem demonstrado maior descontrao nas aparies pblicas.
A mudana de humor, na avaliao de aliados, foi influenciada pelas manifestaes pr-governo no fim de maio.
Desde ento, o presidente tem parado com frequncia para cumprimentar e conversar com apoiadores ao entrar e sair da residncia oficial, o Palcio da Alvorada. Aproveita a ocasio para dar entrevistas aos reprteres que fazem planto no local.
Apesar de uma melhora de clima, assessores presidenciais no acreditam que ele v adotar de forma constante uma verso "paz e amor", mantendo o mtodo de "fritura pblica" de seus auxiliares antes de demiti-los.
Em recente caf da manh com jornalistas, o presidente disse que antes de demitir algum da equipe "d tempo para que a pessoa se enrole". Na sequncia, anunciou que demitiria o general Juarez Cunha da presidncia dos Correios.
No dia 15, Bolsonaro acordou irritado com a notcia de que Joaquim Levy, ento presidente do BNDES, havia indicado Marcos Barbosa Pinto para cargo de diretor de mercado de capitais do BNDES.
Barbosa considerado ligado a nomes do PT por ter sido chefe de gabinete de Demian Fiocca na presidncia do BNDES (2006-2007), durante o governo Lula.
Pelo WhatsApp, Bolsonaro mandou naquele sbado um ultimato a Levy: se ele no demitisse o diretor, seria defenestrado. Na sequncia, o presidente avisou o ministro Paulo Guedes (Economia) sobre a mensagem.
Mal deu tempo de Guedes conversar com Levy e o prprio Bolsonaro divulgou publicamente sua insatisfao.
O banco sempre foi um tema caro famlia Bolsonaro e tema quase que semanal de postagens do prprio presidente e de Carlos Bolsonaro, que vive dirigindo mensagens em tom de indignao sobre a falta de interesse da imprensa em mostrar "a caixa preta" que foi o banco de fomento nas gestes do PT.
A avaliao de Bolsonaro foi de que Levy no entregou a misso: seis meses se aram e ele no mostrou os desmandos da era petista que usaram o banco para financiar projetos de pases amigos, como Cuba e Venezuela.
A troca no BNDES mostra que, embora tenha diminudo a influncia da "ala ideolgica" da gesto, Bolsonaro no a afastou completamente.
Apesar dos casos recentes de crticas pblicas a seus auxiliares, o presidente ou a ouvir mais dois de seus conselheiros que atuam como "bombeiros" do governo: os generais Augusto Heleno, chefe do GSI, e Otvio Rgo Barros, porta-voz da Presidncia.
Uma mudana de postura aconteceu quando as crticas de Olavo atingiram o ex-comandante do Exrcito general Eduardo Villas Bas, que conta com amplo respaldo das Foras Armadas.
Bolsonaro entendeu que a partir dali, a influncia de seu filho mais prximo poderia pr seu governo a perder o apoio de militares e inviabilizar de vez seu governo.
Carlos se afastou das redes sociais do pai e de reunies do governo e o resultado foi um distensionamento temporrio com o Congresso, embora ainda no bem resolvido. Tambm houve um avano de algumas pautas, como a aprovao da reforma istrativa no limite do prazo depois de ameaa de que ela perdesse a validade.
H uma dvida, por exemplo, se as mudanas na Casa Civil so uma repetio do que Bolsonaro fez com Gustavo Bebianno.
Aliado de primeira ordem na campanha, Bebianno foi um dos ltimos ministros a serem nomeados, alm de ter recebido uma verso "esvaziada" da Secretaria-Geral. Ele caiu depois de o presidente endossar crticas feitas ao ento ministro pelo filho.
Alm de ser retirado da articulao poltica, Onyx perdeu a SAJ (subchefia de assuntos Jurdicos), rgo que faz a validao jurdica de todos os atos assinados do presidente. Seu titular, Jorge de Oliveira Francisco, foi promovido a ministro e vai acumular a funo junto do comando da Secretaria-Geral.
Advogado e policial militar da reserva, Oliveira tido como um dos nomes de mais confiana do presidente no Planalto, tendo sido assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na Cmara. A relao com a famlia Bolsonaro longa. O pai do atual subchefe assessorou o presidente por mais de 20 anos na Casa.
Bolsonaro nega esvaziamento da Casa Civil fez defesa pblica de Onyx nesta sexta, dizendo que ele "saiu fortalecido".
Direto de So Paulo, Talita Fernandes-Folhapress