Os contatos com Greenwald foram, segundo o preso, virtuais, somente pelo aplicativo de conversas Telegram, e ocorreram depois que os ataques aos celulares das autoridades j tinham sido efetuados.
A polcia agora trabalha para confirmar se as informaes dadas por Delgatti, de que agiu de forma voluntria e sem pedir dinheiro em troca, so verdadeiras.
No h at agora indcio de que tenha havido pagamento pelo material divulgado, segundo investigadores.
Em depoimento, Delgatti afirmou ainda ter agido neste caso por no concordar com os caminhos da Lava Jato. A apurao da PF de que o grupo hackeava contas do Telegram e contas bancrias por dinheiro.
A percia criminal da Polcia Federal copiou dados guardados pelo suspeito em plataformas de nuvens na internet que sugerem veracidade em pelo menos algumas das declaraes de Delgatti.
Nesse material, estavam conversas entre procuradores da Lava Jato como as que foram divulgadas pelo The Intercept.
De acordo com envolvidos na busca e apreenso na tera, um celular de Delgatti estava na conta do Telegram do ministro da Economia, Paulo Guedes, quando agentes chegaram para realizar a operao.
O episdio, para a PF, refora que era o mesmo grupo que agia.
O ministro da Justia, Sergio Moro, j havia associado a priso dos quatro suspeitos divulgao, pelo site de mensagens que mostram interferncia do ex-juiz da Lava Jato nas investigaes da fora-tarefa.
"Parabenizo a Polcia Federal pela investigao do grupo de hackers, assim como o MPF [Ministrio Pblico Federal] e a Justia Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em vrias espcies de crimes. Elas, a fonte de confiana daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime", escreveu Moro no Twitter nesta quarta-feira (24).
Quando as primeiras mensagens vieram tona, em 9 de junho, o site informou que obteve o material de uma fonte annima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da fora-tarefa no aplicativo Telegram a partir de 2015.
Alm de Delgatti, foram presos Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Danilo Cristiano Marques.
Os quatro suspeitos foram detidos temporariamente (por cinco dias, prorrogveis por mais cinco) na tera-feira. As ordens de priso foram cumpridas em So Paulo, Araraquara (SP) e Ribeiro Preto (SP). Os envolvidos foram transferidos para Braslia.
Os jornalistas responsveis pelo The Intercept Brasil rebateram a mensagem de Moro. Glenn Greenwald disse no Twitter que o ministro da Justia "est tentando cinicamente explorar essas prises para lanar dvidas sobre a autenticidade do material jornalstico".
"Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusao de que esses supostos criminosos presos agora so nossa fonte fica por sua conta [Moro]", acrescentou Leandro Demori, editor-executivo do Intercept.
Na deciso que fundamentou as prises, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10 Vara Federal do DF, apontou "fortes indcios" de que os quatro investigados "integram organizao criminosa para a prtica de crimes e se uniram para violar o sigilo telefnico de diversas autoridades brasileiras via invaso do aplicativo Telegram."
Segundo ele, os fatos demonstram que os suspeitos so "responsveis pela prtica de delitos graves".
O inqurito em curso foi aberto em Braslia para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2 Regio), do juiz federal no Rio Flvio Lucas e dos delegados da PF em So Paulo Rafael Fernandes e Flvio Reis.
Segundo investigadores, a apurao mostrou que o celular do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da fora-tarefa da Lava Jato em Curitiba, tambm foi alvo do grupo. O caso dessas autoridades est sendo tratado em inqurito aberto pela Polcia Federal no Paran.
A Folha de S.Paulo teve o ao pacote de mensagens atribudas aos procuradores da fora-tarefa da Lava Jato e ao ento juiz Sergio Moro e obtidas pelo site The Intercept Brasil.
O site permitiu que o jornal analisasse o seu acervo, que diz ter recebido de uma fonte annima. A Folha no detectou nenhum indcio de que ele possa ter sido adulterado. O jornal j publicou cinco reportagens decorrentes deste o.
A Folha de S.Paulo no comete ato ilcito para obter informaes, nem pede que ato ilcito seja cometido neste sentido; pode, no entanto, publicar informaes que foram fruto de ato ilcito se houver interesse pblico no material apurado.
ENTENDA A OPERAO
Qual o resultado da operao da PF?
Nesta tera (23), quatro pessoas foram presas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo Moro e Deltan. Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreenso e 4 de priso temporria nas cidades de So Paulo, Araraquara (SP) e Ribeiro Preto (SP). Os quatro presos foram transferidos para Braslia, onde prestariam depoimento PF
As prises tm relao com as mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato divulgadas desde junho pelo site The Intercept Brasil?
A investigao ainda no conseguiu estabelecer com exatido se o grupo sob investigao em So Paulo tem ligao com o pacote de mensagens. Tambm no h provas de que os dilogos, enviados ao Intercept por fonte annima, foram obtidos a partir de ataque hacker
Como a investigao comeou?
O inqurito em curso foi aberto em Braslia para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2 Regio), do juiz federal no Rio Flvio Lucas e dos delegados da PF em So Paulo Rafael Fernandes e Flvio Reis. Segundo investigadores, a apurao mostrou que o celular de Deltan tambm foi alvo do grupo
Quando Moro foi hackeado?
Segundo o ministro afirmou ao Senado, em 4 de junho, por volta das 18h, seu prprio nmero lhe telefonou trs vezes. Segundo a Polcia Federal, os invasores no roubaram dados do aparelho. De acordo com o Intercept, no h ligao entre as mensagens e o ataque, visto que o pacote de conversas j estava com o site quando ocorreu a invaso
Direto de Braslia, Rubens Valente e Camila Mattoso / Folhapress