Em entrevista ao programa do Ratinho, do SBT, exibida na noite desta tera-feira (18), o ministro da Justia, Sergio Moro, voltou a negar irregularidades na troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da fora-tarefa da Lava Jato, e disse que tem "absoluta confiana" de que sempre agiu conforme a lei.
Reportagens do site The Intercept Brasil revelaram conversas em que os dois trocavam informaes sobre aes da operao e sugerem que Moro pode ter interferido na atuao da Procuradoria. Na poca dos dilogos, ele era juiz da 13 Vara Federal de Curitiba, responsvel pelos processos ligados Lava Jato.
Moro, que inicialmente no havia negado a autenticidade das conversas, afirmou que no consegue confirmar que as mensagens so reais porque, segundo ele, no tem mais os arquivos.
"Em relao ao que troquei, no posso confirmar porque no tenho mais as mensagens, mas tenho absoluta confiana de que sempre agi com com lisura dentro da minha profisso."
O programa foi gravado na segunda (17) e exibido na tera. Nesta quarta (19), o ministro ir Comisso de Constituio e Justia do Senado prestar esclarecimentos sobre o caso. A deciso de comparecer Casa partiu do prprio Moro.
Durante a entrevista, o ministro afirmou que o vazamento das mensagens foi uma ao criminosa de hackers e que v uma ao orquestrada para "obstaculizar as investigaes" da Lava Jato e anular condenaes. Segundo o Intercept, as mensagens foram trocadas pelo aplicativo Telegram entre 2015 e 2018. O site afirmou que os arquivos foram entregues reportagem por fonte annima, h cerca de um ms.
Moro disse ter detectado tentativas de disseminar informaes falsas sobre o ataque aos telefones para despistar as investigaes. "Existe um grupo criminoso organizado cujo objetivo obstaculizar investigaes ou buscar anulao de quem j foi condenado por corrupo, quem tem conta na Sua ou recebeu favores de empreiteiras. O objetivo muito grave, alm de ser um ataque s instituies", disse.
Moro defendeu seu trabalho frente da Lava Jato e disse que foram obtidos grandes avanos no combate corrupo. Afirmou que no concorda com a maior parte das crticas operao e que existe "muita gente querendo voltar situao de impunidade".
Perguntado se teria vontade de integrar o STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou que no h vagas no momento. " uma questo que no se coloca agora. Meu trabalho agora como ministro da Justia", disse.
No ms ado, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que prometeu a Moro uma vaga no tribunal ao convid-lo para assumir o Ministrio da Justia. Dias depois, voltou atrs e afirmou que no havia nenhum combinado.
Em relao ao vazamento das mensagens, Bolsonaro demorou quatro dias para se pronunciar. Desde quinta (13) vem defendendo o ministro, mas afirmou no sbado (15) que Moro no tem 100% de sua confiana.
Sobre a deciso do Congresso que tirou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) do Ministrio da Justia, Moro disse na entrevista que tem "tima relao com Paulo Guedes" e que o trabalho do rgo ser realizado normalmente. Guedes titular da Economia, para onde o Coaf foi transferido.
Moro tambm defendeu o Legislativo e disse que tem recebido apoio de parlamentares para o seu pacote anticrime, que caminha a os lentos na Cmara.
"A questo do Congresso tem debate, convencimento. Muitos parlamentares tm dado esse apoio. Existe ideia de to logo resolvida a Previdncia, dar salto no projeto anticrime."
RESUMO DOS VAZAMENTOS EM 3 PONTOS
1. Mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil indicam troca de colaborao entre Moro, ento juiz, e Deltan, procurador e coordenador da fora-tarefa da Lava Jato.
2. Segundo a lei, o juiz no pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo
3. Vazamento pode levar anulao de condenaes proferidas por Moro, caso haja entendimento que ele era suspeito (comprometido com uma das partes). Isso inclui o julgamento do ex-presidente Lula.
Direto de So Paulo, Folha Press
