Relativizar o racismo, relativizar uma data que aborda a conscinica negra, relativizar a violncia contra os negros, no se pode mais aceitar. Existem datas para comemorar os heris de todos os povos, e por qu no comemorar tambm os heris da populao que maioria no pas, mas invisibilizada?
"A data para celebrar o reconhecimento da importncia do povo negro que no s invisibilizado, como sofre todos os tipos de violncia no seu cotidiano". Assim descreve a data Antonieta Lusa Costa, presidente do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune).
O Leiagorafez uma entrevista com Nieta para saber como a populao negra tem ocupado seu espao, a relevncia histria destes povos para o a formao do pas e do estado e a importncia da luta antirracista para a conscincia negra.
LEIAGORA–Dia da Conscincia Negra em 2020 e a gente ainda v discursos relativizando a importncia da data. Para que ela serve nos dias hoje?
Nieta–O 20 de novembro um dia de reflexo das lutas. De pensar sobre como estamos, o que alcanamos, o que precisamos, quais as mudanas pretendemos fazer, o que melhor para a comunidade. O 20 de novembro foi institudo para que ns tivssemos, primeiro, ter uma referncia negra. Celebramos os feriados e heris de todos os povos. Somos a maioria nesse pas, nesse estado, nesse municpio, precisamos de representatividade. A data para celebrar o reconhecimento da importncia do povo negro que no s invisibilizado, como sofre todos os tipos de violncia no seu cotidiano. o momento de aquilombar. De criar estratgias de existncia, celebrar a f, a unio, de dizer sim s nossas pautas, lutas e aes afirmativas. Dizer no ao racismo, a intolerncia, a falta de polticas pblicas. No s uma data, mas uma data de resistncia e de esperana de um mundo sem discriminao e opresso, onde ns negros e negras possamos sair a qualquer momento com nosso cabelo black power, nossa pele escura, nosso modo de ver a vida, sem corrermos o risco de ser assassinados.
A gente precisa entender por que a gente hoje precisa gritar “vidas negras importam” se todas as vidas realmente importassem? A cada 23 minutos morre um jovem negro por arma letal. Negro parado suspeito. Precisamos a todo momento trabalhar a identidade da jovem e da menina negra, trabalhar a auto estima da criana negra. Meu corpo um espao que representa um alvo. Por que no tem branco gritando “vidas brancas importam”? Vamos fazer essa reflexo.
LEIAGORA–Como a populao negra integra a formao histrica de identidade regional. Voc acha que Mato Grosso vem conseguindo reconhecer essa identidade cultural?
Nieta: Contribumos em absolutamente tudo que compe a cultura de Cuiab e Mato Grosso. A gastronomia, a msica, as manifestaes do siriri e cururu so frutos de resistncia do povo negro. A nossa contribuio evidente, mas a gente ainda precisa chamar ateno para o pequeno produtor, o ribeirinho que produz sua viola de cocho, sua argila, as mulheres rendeiras, as doceiras, para a cultura nas comunidades, que no so grupos famosos e precisam ser estimuladas. ali que est grande parte da populao negra, que precisa ser respeitada e o respeito se d com incluso. Somos ns quem fazemos a roda girar. Somos os trabalhadores e trabalhadoras que atuam na ponta. Precisamos valer a Constituio de 1988 que diz que somos iguais perante a lei, mas essa poltica de igualdade nunca chega.
LEIAGORA– uma data que nos faz refletir sobre o lugar da populao negra ocupa sociedade. Quais espaos ainda so hostis e quais esto sendo ocupados?
Nieta –Ocupar os espaos ainda um desafio para a comunidade negra em todo Mato Grosso. Os espaos que temos ocupado que tem dado resultados, mas tambm sofrem ameaas, so os conselhos municipais e estaduais, onde conseguimos colocar nossas propostas e tentar fazer com que elas sejam efetivadas. Foi assim que a gente conseguiu aprovar a normativa da educao quilombola, da educao para imigrantes, da educao para jovens e adultos, do pessoal com deficincias, todas que demandam grupos sociais. Todos os avanos que conseguimos dentro do estado no foi nos espaos de poder, porque tivemos apenas uma vice-prefeita. Nas secretarias no basta ser negra e mulher, tem que vir para a luta. A deficincia nesses espaos de poder muito pouco.
Leiagora–A gente acabou de sair de uma eleio municipal n. Qual o saldo dos resultados?
Nieta–Conseguimos avanar. Elegemos vereadoras negras em Sinop, Cceres e em Cuiab. A linguagem da comunidade, o clamor e a voz da comunidade vai comear a ecoar nas cmaras de vereadores com a presena dessas mulheres, mesmo que de forma tmida. Temos que fazer muitas reflexes, por que no votamos em mulheres? Por que no confiamos nas mulheres? A gente sabe que fruto do machismo, do racismo estrutural, que a gente nasceu com ele, mas ns no podemos aceitar. Esse espao tambm nosso, que no foi criado pra gente, mas a gente pode assumir. isso que a gente chama ateno quando o IMUNE discute mulheres no sistema poltico. O filho do governador criado para ser governador e o filho do prefeito criado para ser prefeito. E o filho do trabalhador?
LEIAGORA–O que a luta antirracista significa para o desenvolvimento do estado e do pas?
Nieta– interessante a gente falar isso porque quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Ns quem fazemos a economia acontecer. Precisamos entender que a luta antirracista traz a conscincia de que samos de pano de fundo para construir a nossa prpria histria e o empoderamento. A luta antirrascista tambm traz o processo de resistncia dos povos, e resistncia pra gente vida, precisamos permanecer vivos. No uma luta contra as pessoas, contra o meu irmo branco, uma luta contra as pessoas racistas, e a maioria so brancas. A gente tem que entender o que a luta antirrascista. No dividir os povos como tentam colocar. Precisamos sair da zona de conforto de ficar reproduzindo discurso. Vamos entender o que privilegio, branquitude, ancestralidade. a luta antirracista que traz a conscincia negra que pera o tom de pele e etnia. o traz a memria de quem morreu na luta.
A igualdade pra gente um sonho muito distante, mas por hora a gente fica com a luta por direitos. No somos iguais e viva a diferente. Mesmo eu mulher preta sou diferente da minha irm quilombola. Precisamos parar com esse ‘mimimi’ racista, vago, sem contedo e perverso.
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