Brasileiros e brasileiras de 45 a 55 anos esto consumindo mais alimentos ultraprocessados durante a pandemia. O consumo desses produtos nessa faixa etria era de 9% em outubro de 2019, enquanto em junho deste ano saltou para 16%.ɠo que mostra um novo estudo do Datafolha, encomendado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
O levantamento feito em 2020 abordou pessoas entre 18 e 55 anos pertencentes a todas as classes econmicas e de todas as regies do Brasil, e revela que salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados foram os produtos campees de consumo em comparao com o levantamento realizado em 2019, subindo de 30% para 35% a proporo de pessoas que os consomem. O segundo lugar no ranking ficou para margarina, maionese, ketchup ou outros molhos industrializados, cujo consumo subiu de 50% para 54% em 2020.
Na opinio da nutricionista do Idec Ana Paula Bortoletto, a tendncia de consumir os processados deve continuar, “tendo em vista que nesse momento as polticas adotadas at agora para promover a alimentao saudvel durante a pandemia foram muito tmidas e houve um aumento da publicidade e do apelo, tanto pela convenincia, quanto pela comodidade do consumo de ultraprocessados”.
A nutricionista aponta tambm que o aumento no preo dos alimentos saudveis outro fator. “Ao mesmo tempo houve uma reduo do o, da facilidade e da competitividade dos alimentos mais saudveis, inclusive at em relao ao preo, o que a gente tem visto aumento de preo de alimentos que so considerados saudveis, como arroz e feijo”.
Analisando as regies, 57% da populao no Sudeste relatou consumir margarina, enquanto em2019, 50% das pessoas dessa regio consumiram esse produto. Em segundo lugar ficaram os sucos de fruta em caixaou lata ou refrescos em p, com um aumento de 30% para 36% no perodo. J na terceira posio ficou o salgadinho de pacote ou biscoito salgado, de 27% para 33%.
Em relao escolaridade dos participantes, 33% das pessoas que estudaram at o ensino fundamental consumiram salsicha, linguia, mortadela, presunto e outro alimento embutido em 2020, enquanto esse consumo era de 24% no ano anterior. Alm disso, 51% dos indivduos com essa mesma escolaridade utilizaram margarina, maionese, ketchup e outros molhos industrializados em seus alimentos neste ano, sendo que 42% os consumiam em 2019.
Quando analisado o local de moradia da populao, revelou-se que o consumo de pelo menos uma fruta diminuiu nos municpios do interior, de 68% para 62%. Alm disso, na regio Nordeste, a frequncia do consumo de pelo menos uma fruta diminuiu de 72% em 2019 para 64% em 2020.
Risco sade
Os produtos ultraprocessados so reconhecidamente prejudiciais sade, por conta do contedo excessivo de nutrientes associados a doenas crnicas no transmissveis, como obesidade e doenas cardiovasculares. Portanto, o aumento no consumo desses produtos reflete diretamente nas condies de sade da populao.
“Durante a pandemia, devemos ficar ainda mais atentos alimentao, uma vez que alimentos no saudveis so causadores de doenas crnicas como diabetes, presso alta e excesso de peso que, por sua vez, aumentam o risco de formas mais graves da covid-19 e tambm da sua mortalidade”, comenta a nutricionista.
Pesquisas da rea da sade divulgadas este ano concluem queo consumo de ultraprocessados aumenta em 26% o risco de obesidade. Alm disso, eleva o risco de sobrepeso e de aumentodacircunferncia abdominal elevada de23% a 34%, de sndrome metablica em 79%, de dislipidemia em 102%, de doenas cardiovasculares em 29% a 34% e da mortalidade por todas as causas em 25%.
Oestadoemocionale o clima inseguro em que a populao est vivendo pode levar ao maior consumodas comidas ultraprocessadas, como os salgadinhos e biscoitos. A comida pode ser uma vlvula de escape para situaes estressantes, como as mudanas de rotina causadas pelapandemia do novo coronavrus.
“Sabemos que existe uma relao entre o consumo de alimentos no saudveis, com excesso de acar e gorduras com o estados emocionais mais sensveis, de maior vulnerabilidade e preocupao e o clima que estamos vivendo nesse momento: aumentando as taxas de desemprego, o perfil de sade das famlias sendo pior, ento possvel que com o aumento dessa situao de insegurana alimentar exista uma procura maior por este tipo de alimento, o que pode ser uma das explicaes inclusive para o aumento que a gente j observou e foiregistrado na pesquisa”, finaliza Ana Paula.
Agncia Brasil