Foi um salto to gigantesco que a humanidade no conseguiu suplant-lo at hoje. Cinquenta anos depois do histrico pouso na Lua, em 20 de julho de 1969, os americanos ainda planejam repetir o o que garantiu uma vitria poltica e militar sem precedentes na corrida espacial at ento liderada com folga pelos soviticos.
A expectativa de que em 2024 uma mulher astronauta pise pela primeira vez no satlite. Ser o primeiro o tambm de um plano de explorao de longo prazo. A humanidade, agora, quer se assentar na Lua e, de l, ir alm: Marte deve ser a prxima parada.
Ao menos esses so os planos da Nasa (agncia espacial americana) para o Projeto Artemis (irm gmea de Apolo na mitologia grega), j reajustados em alguns anos. H dez anos, a expectativa era voltar para o satlite em 2019. Mas agora, mais do que nunca, o cenrio parece favorvel para comear a nova era de explorao.
Se h 50 anos colocar um homem na Lua era uma questo de supremacia nacional em meio ao tenso contexto geopoltico da Guerra Fria entre EUA e a antiga Unio Sovitica - em que os esforos e os recursos eram predominantemente governamentais -, agora os trabalhos envolvem parcerias da Nasa com empresas e instituies estrangeiras.
As motivaes tambm so diferentes. H um claro interesse comercial em ocupar o espao entre a Terra e a Lua para desenvolver a chamada economia lunar, e os custos para o desenvolvimento de tecnologias esto sendo diludos entre as muitas partes envolvidas. o que vem sendo chamado de New Space, em que empresas privadas assumem o protagonismo.
Com o ado fresco na cabea, porm, difcil no observar que ainda h um certo clima de competio. Depois que a China conseguiu pousar com uma sonda robtica, no incio do ano, no lado mais distante da Lua - o chamado lado oculto, onde os EUA no haviam chegado -, os americanos estabeleceram cronogramas mais justos.
Guerra econmica
Para especialistas, trata-se de um novo tipo de corrida espacial. "A China tem um programa espacial com uma frequncia nunca vista antes. um negcio frentico, esto lanando em torno de trs foguetes por ms. Eles tm uma estao espacial s deles, supermoderna, e esto investindo forte na Lua.
Hoje esto com um rover no lado mais distante e tm um sistema para se comunicar com ele, o que sempre tinha sido um problema para a Nasa", comenta o empreendedor espacial Lucas Fonseca, diretor da Garata, que deve ser a primeira misso lunar brasileira.
O pesquisador, assim como outros especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, diz que muita gente do setor desconfia da capacidade da Nasa de cumprir os prprios prazos. Em um congresso sobre jornalismo cientfico ocorrido no incio de julho, na Sua, essa foi a primeira dvida que surgiu entre os participantes de um sobre o futuro da explorao lunar, mas representantes das agncias especiais de China, Europa, Estados Unidos e Rssia se esforaram para ar a imagem de que o clima agora de colaborao.
Wu Ji, ex-diretor do Centro Nacional de Cincia Espacial da China, reconheceu que um desejo dos chineses colocar um ser humano na Lua, mas afirmou que neste momento o foco a construo da nova estao espacial, prevista para 2022.
"Vai requerer um grande esforo nosso. E, depois que ela estiver pronta, teremos bastante atividade para fazer l. Se a gente adicionar um pouso na Lua… bem, no impossvel, mas ainda no h uma deciso de mandar astronautas para l." Questionado especificamente depois sobre se a primeira mulher na Lua poderia ser chinesa, foi diplomtico. "A primeira mulher ser dos Estados Unidos."
Para Lori Garver, ex-a da Nasa (2009 a 2013) e chefe executiva da Earthrise Alliance, o momento pede pragmatismo. "Ns fomos para a Lua h 50 anos para bater os russos. Agora as razes pelas quais vamos voltar tm mais a ver com os planos do que queremos fazer na Lua depois. O valor do programa espacial tem de justificar o gasto. Se formos como uma corrida espacial, no teremos colaborao", disse.
Parcerias
A Nasa tem feito vrios acordos com empresas privadas que vo comear a transportar para a superfcie lunar instrumentos cientficos. A ideia inicial coletar novos dados para ajudar a definir onde ser o pouso futuro, mas depois peas dessas mquinas sero reutilizadas para montar a Gateway - estao espacial que vai ficar na rbita da Lua para servir de e para as futuras misses tripuladas e robticas.
J para o fim do ano que vem est agendada a decolagem inaugural do Space Launch System (SLS), o maior foguete j projetado e que no futuro prximo vai lanar a cpsula Orion com os astronautas. A estimativa de que em 2024 acontea o pouso da Orion. A proposta descer no polo sul, onde h reservas de gua congelada.
"Podemos criar manufatura na Lua para a indstria de pesados, que poderiam ser trabalhados l com muito mais facilidade por causa da falta de gravidade", diz Fonseca. Entre as ideias est fazer esses produtos com metais minerados de asteroides. "Do ponto de vista do desenvolvimento sustentvel, h justificativa para pensar num aproveitamento de recursos naturais fora do planeta. E assim no mais destruir o que resta da Terra", defende o pesquisador brasileiro Sidney Nakahodo, presidente da New York Space Alliance. As informaes so do jornal O Estado de S. Paulo.
Direto do Rio de Janeiro, Giovana Girardi e Roberta Jansen, Estado
