23/07/2018 s 08:34 3z6e5m
Redao Leiagora
Em uma sala colorida, as cadeiras em roda do o tom da conversa. Embora esteja em um hospital, o papo no de doena. Curados de um tumor, ex-pacientes am por orientao com mdicos, nutricionistas, psiclogos, enfermeiros e at um coach no Hospital Albert Einstein, em So Paulo. O programa, indito no Brasil, revela uma tendncia internacional: a de colocar o foco nos sobreviventes do cncer.
Antes visto como atestado de bito, o cncer teve a imagem mudada com o avano das terapias. Mas sobreviventes - cada vez mais numerosos - tm dvidas sobre alimentao e exerccios, medo de a doena voltar e at necessidade de desintoxicar aps drogas agressivas.
"Eu me sentia muito desamparado, queria ter algum que pudesse olhar o todo e, principalmente, para minha cabea. ei a ter medo, uma insegurana absurda", conta o diretor de vendas Joo (nome fictcio), de 35 anos. Em um exame de rotina, descobriu um cncer no rim, em fase inicial. O tratamento no foi complicado - cirurgia, mas no precisou de quimioterapia. Apesar do desfecho positivo, no conseguiu retomar a rotina sem pensar na doena.
Primeiro paciente do programa Survivorship do Einstein, lanado este ano, Joo ou por um time de especialistas. Enquanto a mdica o tranquilizava sobre a chance baixa de voltar o cncer, o coach o ajudava a detectar suas principais dificuldades. Ao final, ele mudou principalmente os hbitos alimentares. "ei a cuidar mais da alimentao e me sentia mais protegido. H uma vida depois, que pode ser at melhor."
O programa surgiu da demanda de pacientes "rfos" ao fim do tratamento. A frase "agora, vida normal" aps a alta no se refletia na prtica. "Despimos o paciente de tudo o que ele sabia sobre como se cuidar. Quando isso acaba, ele se pergunta: 'Como assim no preciso de mais nada? ", diz Denise Tiemi Noguchi, mdica do Einstein.
Os sobreviventes am por cinco encontros e, ao fim, podem ser encaminhados a atendimentos especficos. "A ideia do programa ouvi-lo, que ele coloque o que possvel fazer e o que prioridade. Juntos, desenhamos um plano de cuidados e, com base nisso, comeamos a orient-lo", diz o coach de sade do Einstein, Fbio Romano.
Iniciativas
Comuns nos Estados Unidos, propostas do tipo ganham espao no Pas. No Kurotel, clnica em Gramado (RS), h um programa para ps-cncer. L, sobreviventes ficam "internados" por uma semana e tm contato at com uma horta. "A ideia curar o estilo de vida, a forma de se relacionar com a sade", diz Mariela Silveira, diretora mdica do Kurotel.
"Ensinaram a fazer meditao, mudar a alimentao", lembra o professor Donald Kerr Jnior, de 55 anos. Aps um cncer de prstata e sesses de quimioterapia e radioterapia, se sentia debilitado - fsica e emocionalmente. "Tinha medo da morte, de no conseguir vencer e ficar preso em um hospital."
Oncologista do Hospital Srio-Libans, Olavo Feher destaca aspectos sociais. "O tratamento, mesmo com cura, pode afetar relacionamentos. Isso demanda trabalho psicoterpico." O Srio, diz, estuda sistematizar as prticas de ateno a esse pblico. A BP (Beneficncia Portuguesa) tambm planeja ampliar um centro de bem-estar para sobreviventes.
Superao
Aps vencer um cncer de mama em 2011 e uma recidiva em 2015, a cuidadora de idosos Maria de Ftima Souza, de 52 anos, descobriu que ainda tinha desafios. Com a retirada da mama esquerda, perdeu parte do movimento de um dos braos, alm de sequelas psicolgicas. Paciente do A.C. Camargo Cancer Center, ela foi encaminhada para um grupo recm-criado no hospital na poca: a fisiodana - fisioterapia em grupo que mistura exerccios da teraputica com msica e dana. Alm de ajudar a recuperar movimentos, foi uma psicoterapia.
"A gente danava, ria e chorava ao mesmo tempo, trocava experincias. Era um momento que me sentia acolhida e no s em um tratamento, tanto que no vejo o hospital como lugar de dor, mas de cura e de amizade." No A.C.Camargo, o cuidado ao sobrevivente envolve uma equipe multidisciplinar, com profissionais como fonoaudilogos e psiquiatras.
Direto de So Paulo, Jlia Marques, com colaborao de Fabiana Cambricoli - Estado Contedo
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