A capacidade de se adaptar e expandir dos Crculos de Construo de Paz validada medida que a ferramenta se mostra eficaz. Em Colder (632 km de Cuiab), o trabalho desenvolvido pelo Tribunal de Justia de Mato Grosso, por meio do Centro Judicirio de Soluo de Conflitos e Cidadania (Cejusc), colocou prova mais um desses limites.
Adaptaes feitas a partir de um planejamento com perguntas e atividades inclusivas, desenvolvidas com o e ldico de imagens e objetos, permitiram ao aluno P.H.A.S.B, de 10 anos, do 5 Ano E, da Escola Municipal Atalaia, ultraar mais um desses limites improvveis. Deficiente auditivo, o aluno perdeu a me vtima de cncer. Desde ento, ele mora sob o cuidado dos avs em Colder.
A origem humilde dos avs e as limitaes no o a tratamentos especializados reduziram significativamente as oportunidades de desenvolvimento que deveriam ter sido promovidas nos primeiros anos de vida do neto. A ausncia de interaes sociais capaz de limitar de maneira drstica as habilidades de se expressar e interagir de uma criana deficiente auditiva.
Mas todas as vezes que o improvvel testado e superado, uma nova percepo sobre a quebra de barreiras formada. E foi exatamente aqui, que os Crculos de Construo de Paz mais uma vez romperam os limites, reafirmando a capacidade de adaptao da ferramenta.
Nos crculos de paz, a rodada de apresentao, tambm chamada de check in, usada como elemento de checagem sobre como os participantes chegam ao crculo, iniciando a conexo entre eles. Foi nesse momento, com o apoio de um dos facilitadores, que tambm intrprete de Lngua Brasileira de Sinais (Libras), que o aluno P.H.A.S.B recebeu sua primeira demonstrao de incluso e ibilidade em um crculo de paz.
Perguntados sobre como se sentiam naquele momento e que, se fossem um clima, qual clima seriam - um dia de sol, chuva ou nublado, os alunos receberam como e para as respostas, desenhos coloridos com a representao de cada um dos climas, e foram orientados a falar ou apenas erguer a imagem que melhor os representava naquele momento. importante dizer que, para garantir a ibilidade de todos, o crculo contou com o e integral de um dos facilitadores, que intrprete de Libras.
Natural de Augustinpolis, no Tocantins, Wemerson Fellipe Alves dos Santos, 36, facilitador em formao, intrprete de Libras, e neste dia atuou como facilitador na Escola Municipal Atalaia. Suas habilidades socioemocionais somadas h anos de convvio com a comunidade surda, trouxeram a humanidade necessria para lidar com as condies, e fizeram daquele que poderia ser um “simples” crculo, uma lio de aprendizado para um aluno com deficincia auditiva da rede municipal de ensino, seus colegas e na vida daquele facilitador.
“Um dos motivos que me fizeram aceitar o convite para ser um facilitador foi a possibilidade clara de contribuir com esse pblico [pessoas surdas], podendo estar presente dentro de uma comunidade que faz parte da sociedade, e que precisa ser e estar inserida nas mais diversas reas, ocupando seus espaos, sendo ouvida, respeitada e vista. Claro que os crculos no substituem o tratamento de e necessrio para atender aos diferentes nveis de especificidade das crianas, mas os crculos abrem sim um caminho bastante inclusivo para que essas crianas comecem a se sentir parte e no margem, visveis e no invisveis”, refletiu o professor Wemerson, que formou dupla com a facilitadora Paula Luana Batista.
Alm de debater o capacitismo, que a discriminao e o preconceito social contra pessoas com alguma deficincia, o crculo em Colder tambm chamou a ateno para outro fator: as questes raciais.
“Quando ns preparamos o crculo para acolher o aluno, ns trouxemos adesivos coloridos com a representao de diversas imagens e questes, lpis de cor, canetinhas, desenhos, tudo que pudesse assegurar o maior grau possvel de interao, mas fomos surpreendidos por um movimento bastante interessante. As crianas negras, quando iam entrar na sala e desenhar seus crachs, se identificavam e faziam questo de reforar sua imagem, optando pelo uso de objetos, bonecos, desenhos, lpis de cores que reforassem traos da sua imagem, preto ou marrom. A sociedade estabeleceu que a cor rosa para meninas e o azul para meninos, ento seria natural que os alunos buscassem por objetos e desenhos nessas cores, s que no foi o que aconteceu, meninas e meninos negros se utilizaram de objetos e cores que remetiam sua identidade, e faziam isso com muito orgulho, era perceptvel”, descreveu Wemerson.
Os crculos tambm abrem um poderoso espao para o tratamento de pautas humanas e necessrias para o debate em sociedade, como a discriminao ou preconceito de raa, cor e gnero, intolerncia religiosa, capacitismo, entre outras.
Com uma capacidade gigantesca de atuar no combate ao preconceito, o crculo tambm pode ser considerado uma ferramenta pedaggica diferenciada e nada convencional, podendo ser utilizada como instrumento de aprendizagem em sala de aula, contribuindo de forma criativa para o ensino de matrias curriculares comuns, como matemtica, histria, geografia e outras.
Da assessoria