Suelen Alliend assumiu como titular da Secretaria de Sade de Cuiab h menos de duas semanas e tem o compromisso de "arrumar a casa". Do ponto de vista poltico e istrativo, a pasta vivenciou um 2021 turbulento, com recorrentes escndalos.
Mas Suelen no nova no papel. Ela estava no cargo, interinamente, desde agosto, ou seja, desde o desdobramento da Operao Curare, que investigou, dentre outros envolvidos, o ento secretrio de Sade, Clio Rodrigues. Depois disso, j teve que lidar internamente com a Operao Capistrum, que questionou os critrios adotados poca para a concesso do Prmio Sade, afastando, inclusive, o prefeito Emanuel Pinheiro; e com o resultado da I dos Medicamentos, finalizada em dezembro de 2021 pela Cmara Municipal.
E, em meio a uma pandemia que estava aparentemente controlada at dezembro, Suelen precisa enfrentar a sobrecarga na demanda do SUS, para alm do aumento esperado nos casos de covid-19, em decorrncia das festas de fim de ano: uma variante de alto contgio, a micron, e um surto de gripe.
A entrevistada da semana tem 17 anos de experincia na gesto de servios de sade, ora em Cuiab, ora em Vrzea Grande. J atuou na captao de recursos, na rea financeira, na habilitao de servios de sade, entre outras frentes estratgicas das reas-meio do SUS.
Fala ao Leiagora sobre solues para a falta de medicamentos, estratgias de controle da crise epidemiolgica, sobre entrega de obras atrasadas, sobre recursos humanos e sobre mtodos para ampliar a transparncia pblica e evitar novos escndalos.
Confira a entrevista na ntegra:
Leiagora - Voc assume em meio a uma nova onda de casos de covid-19 e um surto de influenza. Como gerenciar essa crise? Quais so as estratgias do municpio para enfrentar o atual cenrio epidemiolgico? Cuiab reabrir leitos de atendimento covid?
Suelen Alliend - No, na verdade Cuiab no fechou os leitos. Houve uma diminuio do quantitativo de leitos. Esses leitos so pactuados nas trs instncias de colegiado. So pactuados no nvel municipal, no nvel estadual, que da vai para o nvel federal. Ento, no momento que foram avaliar os dados para que diminussem os leitos, ns deixamos aquela reserva com uma margem de segurana dentro dos nmeros que a gente vinha apresentando. Ento, o hospital referncia continuou... diminuiu a capacidade dos leitos, mas ele continuou com aquela margem de segurana, considerando a taxa de ocupao praticada nesses leitos. Nunca fechou, diminumos, mas ele continuou. Porm, com a diminuio da taxa de ocupao de internao, foi pactuado nos colegiados a diminuio, para que pudesse fazer o retorno das cirurgias eletivas e de outras especialidades. Ento, foi definido que Cuiab continuaria com o hospital de referncia e continuaria com 28 leitos de UTI adulto e 5 peditricas, que foi baseado dentro de uma margem de segurana, considerando a taxa de ocupao. Na verdade, nunca foi desativado. Apenas diminuiu esse quantitativo.
Leiagora - E sobre estratgias para o atendimento da influenza e da nova onda de covid, para alm dos leitos?
Suelen Alliend - J estava bem definido isso, n? No final de novembro, a gente j estava tocando outros projetos, retorno das cirurgias eletivas, porque a gente j tinha uma demanda reprimida bem grande. E a, quando foi em dezembro, comeamos a observar o aumento dos nmeros. A vigilncia epidemiolgica acendeu a luzinha vermelha e a gente comeou a observar o aumento desses nmeros. A gente tambm estava acompanhando o aumento dos casos no cenrio nacional... E a a gente comeou tambm com os casos de influenza. Ento, aumentaram os casos de covid, os casos de influenza e aumentou tambm [a demanda em] nossa rede de urgncia e emergncia.
Hoje estamos num cenrio bem preocupante. Ento, ns fizemos um plano de enfrentamento da gripe, com as unidades bsicas de sade e quais atendimentos seriam feitos ali, as unidades da ateno secundria e ateno terciria. E estamos monitorando os nmeros. Claro que, se isso aumentar, a gente vai mudando as estratgias. Ns temos uma capacidade instalada hoje que comporta um possvel aumento, mas sempre analisando esses dados, pra gente tomar outras medidas necessrias. Inclusive j vai para a primeira atualizao desse plano.
Leiagora - Alguns laboratrios privados j relataram falta de teste de covid. H risco de desabastecimento no municpio?
Suelen Alliend - Os testes de covid so distribudos pelo Ministrio da Sade. Porm, ns observamos que houve mesmo uma diminuio na distribuio desses testes. Acompanhando o cenrio nacional, a gente percebeu que j h alguns fabricantes que no tm os testes. No tm em quantidades necessrias para rear para os municpios fazerem a aquisio. A gente j viu que est faltando mesmo em todo o Brasil. Inclusive, So Paulo vai estabelecer critrios mais rgidos para que a populao seja testada. Quando tiver sintomas e etc. Essas medidas, a gente tambm vai analisar como vai fazer. A tendncia que aqui tambm siga o cenrio nacional.
Leiagora - Aps dois anos de pandemia, houve mudana de prioridades no uso do oramento pblico. Quais so os investimentos previstos para a Sade?
Suelen Alliend - Estamos fechando o Plano Municipal de Sade de Cuiab do quadrinio 2022 - 2025 e dentro dele j vo estar todos os investimentos, metas e indicadores que ns vamos trabalhar para 2022. Mas no posso adiantar nada, porque ainda no oficial.
Leiagora - Com relao s obras atrasadas, qual o planejamento para entrega? Quais sero entregues ainda em 2022?
Suelen Alliend - As obras tambm - no poderia ser diferente - foram bastante atingidas com o cenrio da pandemia. Foi um cenrio anormal. Dessas obras que a gente estava com previso de entrega em 2020 e 2021, em dezembro de 2021, entregamos quatro novas unidades [bsicas de sade]: no Osmar Cabral, no Nova Esperana, no Novo Horizonte e entregamos a unidade l do Ribeiro do Lipa. J temos um cronograma de novas entregas que est sendo validado com o prefeito [Emanuel Pinheiro], eu imagino que em janeiro ns vamos entregar mais algumas unidades e j com previso de entrega tambm da UPA Leblon, l na regio leste.
Leiagora - Como a pandemia impactou na entrega de obras. Em que sentido?
Suellen Alliend - porque as prioridades, no momento de pandemia, aram a ser outras. Era uma doena que ningum, que no tinha recursos [previstos] nem em nvel federal. Foi preciso mudar as estratgias. Ento, a gente teve que fechar algumas coisas e a prioridade naquele momento, naquele cenrio de guerra, era enfrentar aquela pandemia. O municpio, naquele momento, teve a rede de sade bem estrangulada. Ele enfrentou, nos primeiros meses de pandemia, praticamente todo aquele custo sozinho. At que foram descobrir mais ou menos o que era [a doena], que se organizou uma rede de ateno maior, que o Ministrio da Sade definiu portarias... e realmente atrapalhou nesse planejamento.
Leiagora - Quais so as unidades que esto previstas para janeiro?
Suelen Alliend - Ns temos mais trs novas unidades previstas, entre janeiro e incio de fevereiro, mas no esto confirmadas ainda. O que a gente est enfrentando hoje na nossa rede de assistncia: ns no temos o RH [recursos humanos] suficiente para equipar essas unidades; ns no temos profissionais disponveis; abrimos o seletivo pblico e pedimos concurso. Ento, a gente precisa desse efetivo de RH para que a gente possa abrir essas outras unidades. A gente est com previso de entrega da [UBS] Nico Baracat, do Jardim Imperial, e do Alvorada. Esto prontas e est faltando apenas a gente ajustar essa questo de RH.
Leiagora - E como ser resolvido esse dficit de pessoal?
Suelen Alliend - Ns temos um edital de processo seletivo que estava aberto, as inscries foram at o ltimo domingo. Tambm solicitamos concurso pblico e o pedido est em anlise. A previso de contratao do seletivo de quase quatro mil servidores, com vrias vagas de cadastro reserva. Ento, to logo a banca consiga finalizar o cronograma estabelecido, a gente vai priorizar as aberturas dessas unidades.
Leiagora - A I dos Medicamentos fez diversos apontamentos sobre a gesto dos remdios. O que j foi feito para mudar e evitar novos desperdcios, como em caso de validade? Nessa mesma linha, h reclamaes de falta de medicamentos. Como est a aquisio e o abastecimento no municpio?
Suelen Alliend - O relatrio da I dos medicamentos foi concludo em dezembro e a Cmara [Municipal de Cuiab] ainda no nos encaminhou esse relatrio, apesar de cobrar, por vrias vezes a Cmara, o relatrio na ntegra - porque so vrios anexos, vrios documentos.
O que a gente tem conhecimento o relatrio que foi disponibilizado nas mdias. Mas j entrei em contato, para que a gente possa receb-lo na ntegra. At pra gente ter conhecimento de toda situao que foi apontada, esse momento de resposta.
Mas, pensando nas situaes que foram apontadas l pela comisso da I, ns j comeamos, em 2021 mesmo, a reestruturar o Plano de Assistncia Farmacutica do municpio. Inclusive, ele est descrito dentro desse plano municipal de sade - quadrinio 2022 a 2025, j com base no que a gente teve conhecimento que foi apontado.
Foram feitas algumas aes dentro do CDMIC [Centro de Distribuio de Medicamentos e Insumos de Cuiab], mudamos alguns fluxos, j tomamos algumas decises. E tambm fizemos uma aquisio de medicamentos e insumos... Enquanto finaliza o processo de licitao de medicamentos... Que a gente est com um prego grande [em andamento]... Ento, com base nisso, pedimos autorizao, a gente noticiou os rgos de controle externo, que a gente faria uma compra emergencial para que no virasse um caos.
A gente conseguiu fazer uma aquisio grande, no resolvemos ainda 100%, mas conseguimos abastecer uma boa parte da rede. S que, da, aumentaram os casos de covid, de de gripe, e a rede de urgncia emergncia - em que Cuiab atende 60% de toda a demanda do estado - que atrapalhou um pouquinho o nosso planejamento, que seria para maro, e a gente j tem que adotar outras estratgias, pra que no fique desabastecida a nossa rede.
Leiagora - Havia um planejamento de medicamentos, que era suficiente at maro, mas vai acabar antes e ter que tomar outra estratgia, isso?
Suelen Alliend - Isso, com o inesperado [gasto do] oramento, com tudo ao mesmo tempo... J era esperado o aumento dos casos de influenza, mas no era esperado esse aumento desproporcional dos casos de covid. Mas a gente j tem a boa notcia: o pessoal que trabalha com a parte de licitao j publicou o edital com o grande prego de aquisio de medicamentos, que de R$ 52 milhes e a previso que nos deram que em 30 dias j finaliza todo esse processo e j vai resolver grande parte desse desabastecimento a.
Leiagora - Voc assume a secretaria em meio a escndalos de corrupo. Esteve interina desde agosto tambm por isso. Como isso afeta a gesto e o que tem sido feito no quesito legalidade e transparncia, para que no haja novos escndalos?
Suelen Alliend - No vou falar de gestes adas, que no convm, mas na minha gesto, a gente tem adotado algumas medidas estratgicas, como a edio de normas e procedimentos. A gente alinhou bastante os nossos controles internos, as nossas equipes de auditoria. E o foco desses trabalhos justamente evitar esses vcios, esses erros em processos. A gente tomou vrias medidas istrativas de fluxo, mudamos alguns fluxos aqui dentro, pra evitar esses erros, para evitar novos escndalos.
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