O deputado estadual e mdico sanitarista Ldio Cabral (PT) enviou uma carta aberta aos chefes dos poderes e outras autoridades de Mato Grosso propondo medidas que ainda podem ser adotadas para enfrentar a pandemia da covid-19 no estado. Entre as aes recomendadas por Ldio, est a criao de uma fila nica de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), integrando as redes pblica e privada, por requisio istrativa ou contrato de gesto.
Ldio recomendou tambm que as equipes da rede de ateno bsica sade recebam treinamento e equipamentos adequados para atender aos casos leves de covid-19. Ele sugeriu ainda a criao de centros comunitrios de isolamento para as pessoas com diagnstico suspeito e confirmado que morem em casas com poucos cmodos e muitos moradores. O deputado recomendou tambm ampliar a comunicao institucional para orientar a populao.
Outra medida considerada fundamental por Ldio ampliar a capacidade de testagem, aplicando o exame RT-PCR em todos os casos suspeitos no incio dos sintomas e nas pessoas que tiveram contato, alm de realizar inquritos sorolgicos com testes rpidos nas comunidades, com apoio da Unemat e da UFMT, para medir o avano da pandemia na populao.
Ldio destacou ainda a importncia do isolamento social para frear a pandemia, e das medidas econmicas de proteo social para possibilitar que a populao cumpra o isolamento. O deputado prope socorro financeiro s atividades econmicas para preservar as empresas, especialmente as micro e pequenas, alm da manuteno dos empregos formais sem reduo de salrios, auxlio emergencial aos trabalhadores informais e proteo financeira s populaes vulnerveis.
“Mato Grosso tem uma das menores taxas de isolamento social do pas, hoje na casa dos 30%, e essencial adotarmos isolamento social rigoroso para alcanar taxas superiores a 70% e reduzirmos a velocidade de disseminao da epidemia. Reduzir 1 ponto percentual na atual taxa de crescimento dirio mdio do nmero de casos, hoje na casa dos 5%, significa evitar em torno de 50 mil novos casos nos prximos 60 dias. E apenas o isolamento social mais rigoroso nos permitir reduzir essa taxa”, explicou.
O deputado citou que as projees atuais mostram o pico da pandemia entre agosto e setembro. “Estamos prximos do colapso do sistema estadual de sade, mas estamos longe ainda do pico da pandemia em Mato Grosso. E ainda h tempo de agir e muito a fazer se quisermos preservar a sade das pessoas, salvar vidas e reduzir o sofrimento do nosso povo. S no podemos esperar mais um dia sequer”, afirmou Ldio.
A carta de Ldio Cabral foi encaminhada ao governador Mauro Mendes, ao presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, ao presidente do Tribunal de Justia, Carlos Alberto Alves da Rocha, ao procurador-geral de Justia, Jos Antnio Borges, ao presidente do Tribunal de Contas do Estado, Guilherme Maluf, ao presidente da Associao Mato-grossense dos Municpios, Neurilan Fraga, ao prefeito de Cuiab, Emanuel Pinheiro, e prefeita de Vrzea Grande, Lucimar Campos.
Leia a carta na ntegra:
CARTA ABERTA AO GOVERNADOR E A TODAS AS AUTORIDADES PBLICAS DE TODOS OS PODERES DO ESTADO DE MATO GROSSO.
Senhor governador e demais autoridades,
A pandemia de covid-19 se acelerou em Mato Grosso, os leitos de UTI esto beira da ocupao total e o pico da curva epidmica s ser alcanado entre agosto e setembro, quando o total de casos confirmados oficialmente ser no mnimo dez vezes superior ao observado hoje.
O que fazer agora, ento? Haver algo ainda a ser feito? Temos ainda condies de lutar ou devemos apenas aceitar que fomos vencidos pela pandemia?
Em minha sincera opinio, h muito a ser feito. E possvel ainda vencermos o vrus e evitarmos o sofrimento de milhares de pessoas e muitas mortes.
Em primeiro lugar, mais do que nunca preciso mobilizar todo o sistema de sade para o enfrentamento covid-19, no apenas os servios de urgncia e a rede hospitalar.
A rede de servios de ateno primria sade e seus trabalhadores precisam assumir o protagonismo da luta contra a covid-19. Mdicos, enfermeiros e tcnicos de enfermagem da famlia, agentes comunitrios de sade, devem ser a linha de frente do combate pandemia.
Para dar conta dessa misso, os profissionais da ateno bsica precisam de EPIs adequados, oxmetros digitais para cada um dos profissionais da equipe de sade, o rpido a exames de laboratrio e imagem, medicamentos, materiais e insumos bsicos necessrios a esse combate sua disposio em quantidade e qualidade adequados.
As equipes de ateno primria sade precisam receber treinamento especfico, em carter de urgncia, para que elas possam realizar com qualidade e no tempo certo o manejo clnico de casos suspeitos e confirmados, tratamento medicamentoso adequado e oportuno, busca ativa de casos, monitoramento de contatos, orientao s famlias, articulao com servios de referncia.
urgente que se definam protocolos clnicos e de vigilncia em sade bem definidos para a ateno primria sade, elaborados por especialistas. As universidades, os conselhos e associaes profissionais ao lado de trabalhadores da sade estadual tem todas as condies de elaborar tais protocolos e realizar o treinamento das equipes de sade. Precisam ser mobilizados para isso.
Precisamos buscar com urgncia as condies para realizar o exame de RT-PCR em todos os casos suspeitos no incio dos sintomas e em seus contatos, alm de obter o resultado desses testes com rapidez.
Estabelecer parmetros, condutas e fluxos para a identificao precoce de sinais e sintomas de agravamento dos casos clnicos e para o seu encaminhamento s unidades de referncia de pronto atendimento e de internao.
essencial a adoo de tecnologias de teleatendimento e de teleorientao da populao pelas equipes de ateno primria sade. Estou falando de recursos simples como o WhatsApp no contato entre os trabalhadores da sade, os pacientes e as famlias do seu territrio de abrangncia. Falo ainda da necessidade de interconsulta entre os profissionais da ateno bsica e especialistas por meio da telemedicina.
Em municpios ou bairros com maior incidncia de casos e com baixa cobertura assistencial, organizar brigadas emergenciais de sade (mdicos, enfermeiros, tcnicos de enfermagem e agentes de sade) para realizar atendimento nas comunidades, em unidades de sade, outros equipamentos pblicos, nos domiclios ou por meio da instalao de tendas de atendimento primrio emergencial.
Nesses mesmos municpios ou bairros, criar centros comunitrios de isolamento para as pessoas com diagnstico suspeito e confirmado que residirem em moradias com poucos cmodos e ou muitos moradores. As escolas, ginsios, hotis e pousadas podem cumprir essa tarefa.
Instalar tendas de atendimento primrio em sade em locais de grande circulao e ou o facilitado em territrios com alta incidncia de casos, tendas que podem servir tambm como pontos de coleta de material para realizao do exame RT-PCR, inclusive na modalidade drive-thru.
Ampliar a comunicao institucional de orientao populao. Rdios, TVs, redes sociais, carros de som, mensagens de SMS e WhatsApp em massa, aplicativos de celulares, linguagem criativa e adaptada aos diversos pblicos. Territorializar a comunicao para informar e orientar com objetividade e resultado prtico as pessoas.
No mbito dos pronto atendimentos e das unidades hospitalares tambm implantar protocolos clnicos atualizados e o treinamento das equipes de sade.
Potencializar a utilizao dos leitos gerais disponveis, tornando-os leitos intermedirios para execuo de protocolos de e e tratamento na chamada janela de oportunidade, quando se iniciam eventuais distrbios de coagulao e a tempestade de resposta inflamatria do organismo, que juntas levam ao comprometimento pulmonar e respiratrio, de modo a evitar o agravamento dos casos e a necessidade de internao em UTI e a introduo de ventilao mecnica.
Acelerar a instalao de novos leitos de UTI com respiradores adequados nos hospitais regionais e nas unidades de referncia hospitalar em Cuiab e Vrzea Grande para atender a demanda crescente de casos graves.
Prover todas as unidades hospitalares dos equipamentos, materiais, medicamentos, outros insumos e exames complementares necessrios ao manejo clnico dos casos hospitalizados.
Ampliar com urgncia da capacidade para realizao de testes RT-PCR em massa e rapidez nos resultados, para todos os suspeitos e seus contatos. J existe no mundo produo e comercializao de mquinas, reagentes e insumos para a realizao rpida e em massa de exames RT-PCR. Cabe ao governo estadual tomar essa urgente providncia.
Integrar os leitos de UTI disponveis na rede hospitalar privada a um processo de regulao unificada, por requisio istrativa ou contrato de gesto, para assegurar oferta maior de leitos e equidade no atendimento nossa populao.
Insisto ainda na maior defesa que temos contra a pandemia, o isolamento social. Mato Grosso tem uma das menores taxas de isolamento social do pas, hoje na casa dos 30%, e essencial adotarmos isolamento social rigoroso para alcanar taxas superiores a 70% e reduzirmos a velocidade de disseminao da epidemia. Reduzir 1 ponto percentual na atual taxa de crescimento dirio mdio do nmero de casos, hoje na casa dos 5%, significa evitar em torno de 50 mil novos casos nos prximos 60 dias. E apenas o isolamento social mais rigoroso nos permitir reduzir essa taxa, qui at em mais que 1 ponto percentual.
E o isolamento social precisa ser acompanhado de socorro financeiro s atividades econmicas produtivas, para preservar a sade das empresas, especialmente as micro e pequenas empresas, a manuteno dos empregos formais sem reduo de salrios, a renda dos trabalhadores informais e a proteo financeira s populaes vulnerveis.
Outra ao necessria e que precisa ser implementada a realizao de inquritos sorolgicos populacionais em todo o territrio mato-grossense, a cada 7 ou 14 dias, para detectar a presena de anticorpos na populao, a taxa real de infeco e cura, medida fundamental para o planejamento da sada gradativa do isolamento social. A UFMT e a Unemat tm pesquisadores e capacidade logstica para realizar essa tarefa.
vital tambm um esforo de mobilizao de todos os entes e poderes pblicos, da sociedade civil, empresrios e trabalhadores, universidades, especialistas em epidemiologia, infectologia, medicina intensiva, clnica mdica, pediatria, sade mental, para um exerccio permanente de dilogo e concertao. Instituir com urgncia um comit estadual e comits regionais com essa representao para debater os problemas, planejar e coordenar as aes a serem executadas por cada uma das instituies pblicas e atores sociais.
No adianta ainda editar decretos governamentais recomendatrios ou impositivos sem a participao e a escuta de todos os sujeitos envolvidos. Especialmente decretos incuos para o atual momento, em que j alcanamos a situao de risco mximo em todo o estado.
Por fim, cuidar da sade fsica e mental dos trabalhadores da sade. Assegurar EPIs de qualidade, treinamento, testagem rotineira, ambientes adequados de trabalho e repouso, jornada de trabalho decente, acomodao em hotis, remunerao justa e proteo previdenciria adicional. Do contrrio, logo faltaro profissionais de sade para a linha de frente, afastados por terem se infectado.
Como disse antes, estamos prximos do colapso do sistema estadual de sade, mas estamos longe ainda do pico da pandemia em Mato Grosso. E ainda h tempo de agir e muito a fazer se quisermos preservar a sade das pessoas, salvar vidas e reduzir o sofrimento do nosso povo. S no podemos esperar mais um dia sequer.
Destaco ainda que todas as iniciativas aqui propostas so absolutamente exequveis e a maioria em curtssimo espao de tempo. exceo de parte das medidas econmicas, todas as demais encontram-se dentro da capacidade de governo nos mbitos estadual e municipal, h em Mato Grosso conhecimento tcnico-cientfico, capacidade intelectual e fora de trabalho mobilizvel para a sua realizao, bem como disponibilidade de recursos financeiros.
por dever de conscincia, na condio de mdico sanitarista e parlamentar estadual, e me colocando disposio de todos, que dirijo este apelo na forma de carta aberta a todas as autoridades pblicas do estado de Mato Grosso, em especial, ao governador do estado, que detm a honrosa misso de coordenar todos os esforos para o enfrentamento do dramtico quadro sanitrio, econmico e social que vivemos hoje.
Temos muito a fazer!
Cordiais saudaes,
Ldio Cabral
Mdico sanitarista e deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso
Da Assessoria