A cabeleireira e me de trs, Suellen Baltazar, do Rio de Janeiro, est vivendo um dos piores pesadelos da sua vida. H cerca de um ms, ela descobriu que uma pessoa da prpria famlia estava abusando de sua filha. Logo ela, que chegou a mudar de emprego — saiu da rea da construo civil para ser cabeleireira — justamente, para ter mais tempo para as crianas.
"Ela foi abusada da forma mais covarde possvel, e eu no percebi. Estou me sentindo a pior das mes. Eu no como, no durmo, estou a base de remdios e pedindo a Deus pra aliviar esse trauma na vida da minha filha", escreveu ela em um desabafo em suas redes sociais.
Em entrevista exclusiva CRESCER, ela contou detalhes de como descobriu os abusos, a reao surpreendente da prpria famlia quando o agressor foi denunciado e ainda faz alerta a todos os pais.
"Eu sou me de trs meninas, uma de 1 ano, outra de 4 e a mais velha de 9 anos. Como eu sou cabeleireira, muitas vezes, minhas filhas ficavam com a minha sogra no perodo da manh at o horrio de ir para a escola tarde. No entanto, nos ltimos tempos,o comportamento do meu cunhado, que ainda mora na casa da minha sogra, comeou a me incomodar muito. Principalmente, quando ele decidiu namorar uma menina de 13 anos. Isso me causou um desconforto to grande, porque ele tem 23 anos. Essa menina uma criana que ainda chupa dedo, e ele poderia responder criminalmente por isso.
Algumas vezes, dava para ver pornografia no celular dele, apesar das vrias tentativas dele para tentar esconder. No ms ado, eu fui fazer um curso em Niteri e minha me veio para me ajudar com as meninas. Quando liguei para saber se estava tudo bem, ela disse que meu cunhado tinha levado minha filha de 4 anos para casa dele.Aquilo me deixou com uma sensao muito ruim e decidi busc-la imediatamente. Quando eu cheguei l, meu cunhado ouviu minha voz e desceu as escadas correndo com a minha filha nas costas, como se estivessem brincando. Fiquei incomodada, peguei minha filha e fui para casa.
J era meia-noite, mas resolvi conversar com ela. Comecei falando de outras coisas at que perguntei: o que voc estava brincando com o tio? Neste momento, ela comeou a gaguejar e disse que no poderia contar. Seu tio tinha dito que era um segredo e que se ela contasse a v morreria.Eu fiquei gelada, mesmo assim, continuei perguntando. Falei para ela ficar tranquila que o tio era meu amigo e j tinha me contado tudo. Ela ficou mais segura e comeou a falar. "A gente brinca de 'o contorno'. Eu no entendi muito bem e questionei: 'Contorno do que?' Foi a que ela apontou para a vagina dela. Eu gelei.Nesse momento, no consegui continuar. Fui para o meu quarto e entrei em pnico.
Minha me, vendo o movimento, foi para o quarto da minha menina e continuou conversando com ela. Minha filha disse que, s vezes, ele tirava a cueca dele e a calcinha dela. No meio desses abusos, ele usava um elemento ldico. Ento, falava pra ela que iriam brincar de esconde-esconde e pega-pega. Eu via que ele sempre dava muitas coisas pra ela, como bala, aa, mas achava que era algo normal, amor de tio.Ela relatou tambm que em um desses abusos, ela sentiu dor e at sangrou, provavelmente usando os dedos, j que minha filha muito nova e no aguentaria uma penetrao. Um dia, ela chegou a reclamar de dor na vagina,mas pensvamos que era uma infeco urinria e a estvamos tratando para isso.
Aps a conversa com a minha filha, fui at a casa da minha sogra e contei tudo. Eles no acreditaram e meu sogro decidiu ir comigo e com meu marido at o ginecologista. O mdico fez o exame e constatou o abuso. Disse que havia vermelhido e ainda descobriu que parte do hmen estava cortado, mas no chegou a romper.Meu sogro agiu com tanta desconfiana que o mdico se sentiu obrigado a desenhar como tudo aconteceu. Infelizmente, minha sogra e meu sogro no esto do meu lado. Eles so super protetores do meu cunhado.
Na volta, pensei que meu sogro iria conversar com o filho, mas isso no aconteceu. Agiu como se nada tivesse acontecido. Meu marido, nervoso, partiu para cima do meu cunhado e foi uma briga generalizada. Minha sogra me mordeu. Meu sogro ainda apontou o dedo para mim e disse que eu tinha acabado com a vida do filho dele. 'O mdico no falou que foi s o dedo?', ele gritou. Foi a que percebi que no teria paz se continuasse ali.Entrei com umamedida protetivapara deixar meu cunhado longe da minha filha e iniciei uma ao criminal. Ainda estamos esperando os laudos mdicos e psicolgicos para dar continuidade.
Hoje, minha filha est traumatizada, mas fazendo terapia. Depois que fiz esse relato no Facebook, muitas mes me responderam que am pela mesma situao. Minha luta ainda est s no comeo. Por isso, eu digo: mes, olhem nos olhos dos seus filhos sempre! Conversem, alertem. O mal existe e est mais perto do que podemos imaginar".
9 maneiras de proteger seu filho do abuso infantil
Muitas vezes, os sinais no so aparentes, mas, na correria do dia a dia, acabam ando despercebidos. Por isso, importante sempre estar alerta para qualquer comportamento diferente ou estranho da criana.Com o intuito de auxiliar os pais a proteger seus filhos, apsicloga do Hospital Prola Byington,Daniela Pedroso, d algumas orientaes.
1. Explique sempre ao seu filho que o corpo s dele e que ningum tem o direito de mexer nele. Deixe claro que, se qualquer adulto tentar fazer algo estranho, deve contar a voc.
2. O agressor, na maioria dos casos, uma pessoa conhecida ou da prpria famlia. Se o seu filho reclamar que no gosta de algum com quem vocs convivam, tente entender o motivo. Muitas vezes, pode no ser apenas uma fantasia.
3. Ainda que a maior parte dos casos seja praticada por pessoas conhecidas, importante manter a orientao de que seu filho no deve conversar com estranhos.
4.Uma das maneiras de aproximao dos agressores a internet. Por isso, se o seu filho tem um perfil em alguma rede social ou usa aplicativos de mensagens, no deixe os dados liberados para quem no amigo, no coloque muitas fotos e fique sempre atento.
5.Converse com seu filho sobre o uso da internet. Se precisar, ative filtros de segurana no computador.
6. Fique sempre por perto quando seu filho estiver navegando e saiba quais so os sites que ele visita. Se for necessrio, verifique o histrico com frequncia.
7. Fique atento ao comportamento da criana. Mudanas bruscas, apesar de no comprovarem que algo de errado est acontecendo, podem representar fortes indcios. Voltar a fazer xixi na cama, brincadeiras violentas com bonecas, medo de ficar sozinho com adultos, comportamento mais “sexualizado” e problemas na escola podem ser alguns sinais.
8. Ensine seu filho a nomear as partes do corpo corretamente e diga quais delas no devem ser tocadas por outras pessoas.
9.Acredite no seu filho se ele disser que est sendo vtima de abuso. Criar uma relao de confiana fundamental.
Denuncie!
Se souber de algum caso de abuso sexual infantil, denuncie pelo Disque 100.
Por Amanda Oliveira,Crescer
