O nmero de queimadas em reas urbanas e rurais de Mato Grosso aumentou 70% em relao ao ano de 2018, se comparado ao perodo de 1 de janeiro a 15 de setembro. Foram 24.039 focos de calor neste ano, contra 14.145 no ano ado. O crescimento em Mato Grosso maior que a mdia nacional, que registrou um aumento de 50% no mesmo perodo. Os dados so do Centro Integrado Multiagncias (Ciman), unidade que coordena as aes de preveno e represso a incndios no Estado.

O crescimento no nmero de queimadas e as condies climticas que propiciam a propagao do fogo, fizeram com que o governador Mauro Mendes (DEM) decretasse situao de emergncia no mbito em Mato Grosso.O balano apontou tambm que os focos de calor no Estado aumentaram 87% em relao ao ano ado, no perodo proibitivos de queimadas. De 15 de julho a 15 de setembro deste ano foram 16.589 focos de calor, contra 8.874 no ano ado. Na mdia dos ltimos 10 anos, o aumento foi de 35%.

Mato Grosso apareceu em 1 lugar, com o maior nmero de queimadas, no ranking de focos de calor entre os estados que formam a Amaznia Legal, de acordo com o estudo. No perodo de 1 de janeiro a 15 de setembro foram 24.093 queimadas. Em seguida esto os estados do Par com 15.308 focos e Amazonas, com 10.040.

Segundo a coordenadora do Programa de Transparncia Ambiental do Instituto Centro Vida (ICV), Ana Paula Valdiones, o aumento no nmero de queimadas est associado a grande quantidade de desmatamento registrado no final do ano ado e comeo deste ano, e no ao clima seco.

“Este ano o que chamou ateno foi o aumento do desmatamento. Agora estamos vendo as queimadas associadas a destruio da floresta e a tocar fogo naquele material orgnico que foi derrubado. Dois a trs meses depois que desmatou, precisa eliminar aquela biomassa e isso feito com fogo”, disse Ana Paula, ressaltando que os municpios que tiveram aumento de desmatamento, so as cidades que lideram os nmeros de focos de calor no Estado.

“Colniza o municpio que est tendo mais queimadas e historicamente a cidade que tem muito desmatamento. Este ano tambm teve alertas de desmatamento naquela regio. J so 1.500 focos de queimadas na cidade, desde 15 de julho. Nova Aripuan e Nova Bandeirantes tambm so outros municpios que tiveram grandes reas desmatadas”, explicou a coordenadora.



Para a especialista, o desincentivo do cumprimento da lei e o enfraquecimento dos principais rgos de Meio Ambiente brasileiro pode ter colaborado para o aumento das queimadas e dos alertas desmatamentos. Ela explicou que houve uma srie de cortes no oramento do Ministrio do Meio Ambiente e no Programa de Preveno e Combate aos Incndios (Prevfogo), alm da reduo de fiscalizao do Ibama, inclusive em Mato Grosso.

“Assistimos uma desestruturao da poltica ambiental brasileira e dos seus principais mecanismos de financiamento, que o Fundo Amaznia. Assistimos tambm a recusa de recursos externos, como da Noruega, Alemanha e do G7, que tambm ofereceu dinheiro para o Brasil para auxiliar nas polticas de conservao da Amaznia. Associado a essa desestruturao da poltica ambiental teve um processo de desautorizao dos rgos responsveis, uma expectativa e o fomento, em alguns grupos da sociedade, de que a legislao ambiental ser flexibilizada. Ou seja, existe um cenrio de desincentivo do cumprimento da lei e ao mesmo tempo o enfraquecimento dos principais rgos de Meio Ambiente. O resultado disso o aumento das queimadas e dos alertas de desmatamentos”, disse.

Para reverter esse quadro, Ana Paula acredita que os governos precisam apostar no reforo da fiscalizao, responsabilizao dos crimes ambientais e no fortalecimento das iniciativas que auxiliam tanto no desenvolvimento socioeconmico de grupos, quanto de conservao das florestas.

“Agora os Estados tm um papel muito importante de reforar as aes de fiscalizao e as aes de responsabilizaes de crime. As pessoas precisam sentir que sero responsabilizadas pelo crime ambiental que est cometendo. E tambm o fortalecimento das polticas pblicas e inciativas que sejam positivas que busquem associar o desenvolvimento socioeconmico com a conservao. Esse discurso de que a conservao do cerrado e da Amaznia impede o desenvolvimento um discurso ultraado, que no adiciona nada no Brasil. Na verdade precisamos caminhar para um desenvolvimento que est olhando tanto para aumentar a capacidade da sociedade, quanto de manuteno das nossas riquezas naturais, desses recurso que so importantes no s em termos de biodiversidade, mas tambm para a prpria produo. Mato Grosso um estado lder nas questes agropecuria. Os produtores dependem de chuva para produzir e quem produz a chuva so as florestas. Se destrumos a floresta as chuvas vo ficar menores e isso vai impactar diretamente a nossa produo”.


reas mais queimadas

De acordo com o relatrio, as propriedades privadas foram as reas com o maior registro de queimadas, no perodo de 1 de janeiro a 15 de setembro. Foram 16.687 focos de calor em propriedades privadas em Mato Grosso. A segunda rea com o maior registro foram as terras indgenas, com 4.510 queimadas.

Um estudo feito pelo ICV mostra que as terras indgenas do povo Xavante so as mais afetadas no acumulado desde janeiro deste ano. A terras indgenas do Arees (415 focos), Pimentel Barbosa (409 focos) e Parabubure (406 focos) so as mais afetadas. De acordo com as lideranas Xavantes, a maior parte dos focos parte de fora dos limites das terras.

Com 695 queimadas, a unidade de conservao estadual foi a terceira rea que mais registrou focos de calor . Segundo o ICV, a unidade de conservao com o maior nmero de queimadas foi o Parque Estadual do Araguaia, com 54 focos de calor.

Segundo a coordenadora um dos principais impactos da queimada no Meio Ambiente a perda da biodiversidade.“Falamos que o fogo um fator de degradao da floresta. Ento, por mais que no perca a floresta por completo, perdemos muito elementos dela, como animais e vrios tipos de vegetaes. Ento, tem uma perda significativa da biodiversidade e da resistncia dessa rea para futuros incndios. Uma outra questo a perda de nutrientes do solo e tambm a emisso de CO2 na atmosfera, que prejudicial s mudanas climticas e tambm sade humana. Alm da fumaa, o clima, que j est seco, colabora tambm para o desenvolvimento de problemas respiratrios e uma srie de outros agravos para sade humana”, destacou Ana Paula.

Enfrentamento

Na ltima segunda-feira (16), o Governo do Estado anunciou que ir receber R$ 23,8 milhes nos prximos dias, para o combate as queimadas e o desmatamento ilegal. O dinheiro originrio do Fundo da Lava Jato, e foi acordado entre o Governo Federal, Procuradoria Geral da Repblica e o Supremo Tribunal Federal. Conforme o acordado, do valor total de R$ 430 milhes, 50% sero divididos de forma igual entre os nove estados da Amaznia Legal.

J com relao aos outros 50%, a diviso ainda ser definida em uma reunio futura e seguir critrios tcnicos. No inicio do ms, o governador Mauro Mendes decretou situao de emergncia no mbito do Estado, em decorrncia dos incndios florestais. A motivao foi o aumento no nmero de queimadas e pelas condies climticas propiciarem a propagao do fogo.

Com a medida, o governo est autorizado a adotar aes necessrias preveno e combate aos incndios e manuteno dos servios pblicos nas reas atingidas pelas queimadas. Para o governador, o recurso chegar ao Estado em um momento crtico, em que Mato Grosso est entre os lderes nos focos de queimadas. “Ns j decretamos situao de emergncia por causa das queimadas. Esse recurso chega em um momento em que realmente precisamos de recursos financeiros, o que ir ajudar e muito as nossas equipes”, ressaltou.

Alm disso, o governo intensificuou as fiscalizaes com a realizao de operaes realizadas pelas foras integradas aplicando multas aos responsveis pelos dematamentos ilegais e queimadas.

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