O nmero de pessoas obesas no Brasil teve um aumento de 67,8% entre 2006 e 2018, segundo dados da Pesquisa de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico (Vigitel), que foram apresentados nesta quinta-feira, 25, pelo Ministrio da Sade.
O levantamento, realizado no ano ado, apontou que o ndice ou de 11,8% (2006) para 19,8% (2018) e que pessoas das faixas entre 25 e 34 anos (84,2%) e de 35 a 44 anos (81,1%) foram as que registraram maior crescimento da obesidade. Entre os sexos, as mulheres apresentaram maior ndice de obesidade, com 20,7%, enquanto os homens ficaram com 18,7%.
Desde 2015, o ndice de obesidade se mantinha estvel em 18,9%. O excesso de peso tambm cresceu no Pas. Mais da metade da populao (55,7%) da populao est acima do peso, e o indicador 30,8% maior do que o registrado em 2006, quando era de 42,6%. Nesse caso, a prevalncia maior na populao entre 18 e 24 anos.
"Destacamos um aumento na obesidade entre adultos, aumento no consumo abusivo de lcool. A populao, por outro lado, tem ampliado a adoo de hbitos saudveis, como o consumo reduzido de refrigerantes e bebidas artificiais, temos aumentado o consumo de frutas e hortalias, um aumento na prtica de atividade fsica e tambm reduo do hbito do tabagismo", afirma o secretrio de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade, Wanderson Kleber. "A tendncia de aumento vem desde 2006 e est praticamente igual entre homens e mulheres."
As informaes sobre obesidade e excesso de peso levaram em considerao o ndice de Massa Corporal (IMC). Para a pesquisa, foram ouvidas 52.395 pessoas das 26 capitais e do Distrito Federal. As entrevistas, realizadas com pessoas com mais de 18 anos, foram realizadas entre fevereiro e dezembro de 2018.
O advogado Matheus Pereira, de 46 anos, j viveu a experincia de estar acima do peso e, h 15 anos, chegou a perder 43 kg por meio de um programa de emagrecimento. Agora, com 135 kg, est novamente tentando emagrecer.
"Em 2017, quebrei a perna e fiquei um ms no hospital. Sabia que iria engordar e engordei 20 kg." Ele disse que, quando chegou aos 147 kg, resolveu mudar seus hbitos.
"Conhecei a fazer crossfit h seis meses, vou de segunda a sbado, e, h trs meses, voltei para o Vigilantes do Peso. Estou com 135 kg e minha meta chegar aos 80 kg."
Pereira diz que o ganho de peso no tem relao apenas com a alimentao, como muitas pessoas pensam. "Isso um reflexo da nossa sociedade. Temos uma vida atribulada, queremos vencer na vida e no conseguimos comer bem, fazer exerccio e cuidar da sade. Fui relapso com a minha sade. Agora, como salada, legumes e no mais comida industrializada, que eu comia aos montes."
Aumento dos hbitos saudveis
Apesar do crescimento de obesidade e sobrepeso, a populao brasileira est aumentando hbitos que contribuem para a sade. Entre 2008 e 2018, foi registrado um aumento de 15,5% no consumo regular de frutas e hortalias. O consumo mais frequente entre as mulheres (27,2%) do que entre os homens (18,4%).
Em relao a 2009, a prtica de atividades fsicas cresceu 25,7%. "Os dados apontam que a prtica de alguma atividade fsica no tempo livre maior entre os homens (45,4%) do que entre as mulheres (31,8%)", informa o ministrio.
"Quando verificado a incidncia por faixa etria, o aumento mais expressivo na populao de 35 a 44 anos, com crescimento de 40,6% nos ltimos dez anos."
A populao adulta tambm est reduzindo o consumo de refrigerantes e bebidas aucaradas. A queda foi de 53,4% no perodo de 2007 a 2018. Em novembro, o ministrio estabeleceu metas para reduzir a quantidade de acar em produtos industrializados. O objetivo reduzir 144 mil toneladas de acar nos produtos at 2022.
Para o ministrio, apesar do crescimento dos bons hbitos, ainda so consumidos alimentos que colaboram para o aumento de peso. "Ns temos um aumento maior na obesidade em decorrncia do consumo muito elevado de alimentos ultraprocessados, de alto teor de gordura e acar."
Diabete
Outro ponto destacado pelo ministrio que a populao est mais bem informada sobre a prpria sade, principalmente em relao a diabete. Segundo a pasta, 7,7% da populao brasileira foi diagnosticada com a doena no ano ado, um aumento de 40% em relao a 2006 (5,5%).
As mulheres apresentam maior porcentual de diagnstico, com 8,1%, do que homens (7,1%). "Em ambos os sexos, quanto mais jovem, menor o porcentual de diagnstico."
Preocupao
A mdica Ana Maria Malik, coordenadora do programa GV Sade da Fundao Getlio Vargas, diz que os dados da pesquisa trazem preocupao com o aumento de doenas crnicas, em que a obesidade um dos maiores fatores de risco. Para ela, no surpresa que hbitos como alimentao saudvel e prtica de exerccios fsicos tenham aumentado em paralelo ao crescimento da obesidade pois, sozinhos, esses dois fatores no so suficientes para barrar a tendncia de alta da doena.
"Uma vez por semana no regularidade", diz a mdica. "Nos municpios onde a longevidade maior, as pessoas no vo na academia, elas tm uma vida mais saudvel - elas se exercitam como parte da sua rotina diria."
Ela diz que o Pas precisa de mais polticas pblicas que estimulem a prtica de exerccio e alimentao saudvel. Segundo Ana Maria, isso vai desde o estmulo a transportes que estimulem as pessoas a andarem mais at subsdios para produo agrcola com prticas mais saudveis. (Colaborou Tulio Kruse).
Paula Felix / Estado Contedo
