Atos organizados por grupos de direita pelo pas, neste domingo (30), em defesa da Lava Jato, minimizaram o vazamento de conversas envolvendo o ministro da Justia, Sergio Moro, e atacaram a atuao de ministros do Supremo Tribunal Federal e de polticos.
Em Braslia, manifestantes se reuniram em frente ao Congresso Nacional e concentraram as crticas nos ministros do STF. Uma das pautas mais defendidas foi a I da Lava Toga, para investigar os magistrados.
Em frente ao Congresso foram inflados quatro bonecos gigantes. Dois do ex-presidente Lula (ambos com roupa de presidirio), um de Moro vestido de super-homem e um que une trs polticos: Lula, o ministro Gilmar Mendes (STF) e o ex-ministro do PT Jos Dirceu. Esse boneco associa o STF ao PT.
Apesar de ter sido indicado ao Supremo pelo PSDB e de ser historicamente descrito como um adversrio do PT, Gilmar um dos principais alvos dos grupos bolsonaristas. Recentemente o ministro votou a favor de um habeas corpus para Lula, pedido que acabou negado por uma das turmas do STF.
O ato deste domingo, que se repete em outras cidades do Brasil, foi convocado aps a divulgao de conversas atribudas a Moro e integrantes da Lava Jato levantando a suspeita de que o ex-juiz tenha sido parcial no julgamento de Lula, condenado em segunda instncia no caso do trplex do Guaruj (SP).
A revelao dos dilogos, iniciada pelo site The Intercept Brasil em 9 de junho, deixou o titular da Justia sob ataque.
Em Copacabana, no Rio, as crticas ao Supremo dividiram espao com um "vaiao" tambm aos chefes do Legislativo, homenagens ao menino Rhuan e at um lamento coletivo pelo "politicamente correto" que impede chamar morador de rua de mendigo.
Os atos que tomaram um trecho da avenida Atlntica eram, a princpio, um desagravo a Moro. "O senhor nos livrou das trevas", dizia um dos cartazes de apoio ao ministro, ao lado de bandeiras do Brasil gigantes erguidas por dois guindastes.
O aposentado Carlos Sato, 68, resumia o sentimento de muitos amigos sobre os dilogos vazados que colocaram Moro na berlinda: "Se ele falou mesmo tudo aquilo, fez bem. Se for pra tirar a petralhada bandida, no vai ser na meiguice. Com quem joga sujo voc no pode dar mole".
Mas o rano com Congresso e Supremo era to presente quanto os apoios ao ex-juiz. Um minicaminho com faixa do movimento Nas Ruas trazia na lateral uma cartolina que lembrava a frase do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre bastar um cabo e um soldado para fechar a mais alta corte do Judicirio brasileiro. Para ilustrar, um desenho do personagem Recruta Zero.
O mesmo veculo anunciava a venda de copos do Moro e do presidente Jair Bolsonaro (PSL) por R$ 10. Pediam essa ajuda financeira dos protestantes, alegando que faziam um ato "do povo para o povo", sem ajuda de CUT e MST, como seria o caso de manifestaes esquerdistas.
"Vocs so do MBL?", perguntou um senhor. Ouviu a negativa e respirou aliviado: no gostava do Movimento
Brasil Livre, que defende Moro mas vem fazendo crticas ao governo Bolsonaro. "Graas a Deus, MBL traidor do povo."
O trio eltrico do movimento Brasil Conservador puxou uma vaia para os presidentes da Cmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Tambm foram alvos de repdio popular os ministros do STF Ricardo Lewandovski e Dias Toffoli, alm de Gilmar.
"A agenda deles era anti-Brasil", afirmou uma senhora que se identificou como Neide do Brasil. "Eles querem dar sobrevida mamata lulista", ela continuou. Parou ao descobrir que falava com a reprter da Folha. A imprensa malvista nas manifestaes, com recados "Globo lixo" e "Folha mentirosa" em algumas camisetas e cartazes.
Depois da vaia para aqueles definidos como "inimigos da nao", um orador no trio do Brasil Conservador disse que as ruas de Copacabana estavam infestadas de "cracudos". Ironizou em seguida: "No posso chamar de cracudo, deve ter jeito politicamente correto".
Teve at lei municipal para proteger populao "em situao de rua", afirmou. "No lindo esse eufemismo? No pode mais falar mendigo."
Tambm havia tambm referncias a Rhuan Maicon da Silva Castro, 9, morto pela me e pela namorada dela enquanto dormia, com uma facada no corao.
Parte da direita ou a dizer que a imprensa profissional abafou o caso, pois no haveria interesse em dar visibilidade para um crime cometido por lsbicas -segundo essa alam, um suposto acobertamento para no contrariar a comunidade LGBT+. O caso foi noticiado nos principais veculos.
"A gente precisa mesmo de vida extraterrestre para dar um jeito no pas", disse um homem ao ver dois atores fantasiados como os monstrengos espaciais Alien e Predador -cobravam R$ 5 para posar com os manifestantes de verde-amarelo.
Pouco antes, na mesma esquina da Atlntica com a rua Miguel Lemos, um rapaz abriu a janela de seu apartamento no trreo e sacudiu uma bandeira do Lula. Uma pequena turba se reuniu para puxar o coro de "babaca".
BOLSONARO
De volta da viagem ao Japo, onde participou dos encontros do G-20, Jair Bolsonaro comentou brevemente os protestos, na entrada do Palcio da Alvorada. " um direito de o povo se manifestar. Eu costumo sempre dizer. A unio dos trs poderes precisa fazer parte de ns. Est no corao, no sentimento nosso. Uma coisa que pode levar o Brasil ao local de destaque que merece", afirmou.
Nas redes sociais, Jair Bolsonaro disse que a "populao brasileira mostrou novamente que tem legitimidade".
Na Esplanada, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente, e o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurana Institucional) subiram em um dos carros de som e discursaram.
"Algum a gosta de bandido, algum aqui amigo de bandido? (...) Jair Bolsonaro j falou, Sergio Moro no sai. Nosso total apoio ao ministro Sergio Moro", discursou Flvio Bolsonaro. Heleno fez uma enftica defesa de Moro, dizendo ser uma "calhordice" quererem transform-lo em acusado.
ORGANIZADORES
Movimentos como VPR (Vem pra Rua), MBL (Movimento Brasil Livre) e Nas Ruas, que foram indutores de protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), capitaneiam a organizao, ao lado de grupos de menor capilaridade, que mantm pginas em redes sociais.
O VPR contabilizava at a manh deste domingo concentraes marcadas em 203 cidades e mais de 318 mil pessoas convidadas. A lista inclua atos fora do Brasil, em lugares como Nova York, Lisboa, Genebra e Buenos Aires
Direto de Braslia e So Paulo- Folhapress