20/09/2018 s 07:01 4f1qc
Redao Leiagora
As internaes hospitalares de pacientes no Sistema nico de Sade (SUS), em todo o pas, por doenas causadas pela falta de saneamento bsico e o gua de qualidade, ao longo de 2017, geraram um custo de R$ 100 milhes. De acordo com dados do Ministrio da Sade, ao todo, foram 263,4 mil internaes. O nmero ainda elevado, mesmo com o decrscimo em relao aos casos registrados no ano anterior, quando 350,9 mil internaes geraram custo de R$ 129 milhes.
Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), cada dlar investido em gua e saneamento resultaria em uma economia de US$ 4,3 em custos de sade no mundo. Recentemente, organizaes ligadas ao setor privado de saneamento, reunidas em So Paulo, reforaram a teoria da economia produzida por este investimento. Pelas contas do grupo, a universalizao do saneamento bsico no Brasil geraria uma economia anual de R$ 1,4 bilho em gastos na rea da sade.
No mesmo evento - Encontro Nacional das guas ? os representantes das empresas apontaram que dos 5.570 municpios do pas, apenas 1.600 tm pelo menos uma estao de tratamento de esgoto e 100 milhes de brasileiros ainda no tm o tratamento de esgoto.
Atualmente, de acordo com o Instituto Trata Brasil, apenas 44,92% dos esgotos coletados no pas so tratados. O Brasil tem uma meta de universalizao do saneamento at 2033. Este objetivo previsto no Plano Nacional de Saneamento Bsico, representaria um gasto de cerca de R$ 15 milhes anuais, ao longo de 20 anos. E este um dos desafios para os governantes a serem eleitos em outubro.
A reportagem da Agncia Brasil visitou Macei, capital de Alagoas, cidade onde o percentual de coleta de esgoto 11 pontos percentuais inferior media do pas (51,9%).
Macei Quem chega a Macei logo se deslumbra com azul do mar e a simpatia dos moradores. Mas, basta um olhar mais atento em direo oposta praia para concluir que o deleite visual produzido pela natureza disputa espao com canais de esgoto a cu aberto. O mais grave que grande parte dos dejetos, que corre ao longo de rios e riachos e cruza diversos bairros da cidade, acaba desaguando no mar.
?Temos praias lindas, mas ns no usamos porque sabemos que so bem poludas. Temos a Lagoa Munda, dentro da cidade, e correndo para ela que tem vrios braos de rios e riachos que, inclusive am por bairros nobres, e todos servem para despejo de dejetos e lixos das casas?, lamentou a advogada Rita Mendona.
Alagoana e atuante em direitos humanos, Rita reconhece que foram feitos investimentos na rea de saneamento, mas a populao cresceu em velocidade desproporcional aos recursos aplicados. Outro alerta recai sobre a falta de conscientizao dos prprios habitantes. ?As pessoas jogam lixo nesses rios e riachos porque no podem esperar o lixeiro ar. E todos desembocam no mar?, lamentou.
A realidade para quem vive o dia a dia na capital alagoana tem reflexos que vo alm da balneabilidade das praias urbanas. Na economia, famlias que j vivem em situaes mais precrias e dependem da pesca do sururu correm o risco de terem a fonte de renda comprometida. Em 2014, o molusco, largamente encontrado nas regies lacustres de Alagoas em funo dos encontros de gua doce e salgada, foi registrado como patrimnio imaterial do estado. Moradores, agora, relatam e lamentam a reduo do volume pescado em decorrncia da poluio da gua.
O comrcio tambm alvo do problema. Empresria e dona de uma loja de roupas no bairro da Jatica, Vanessa Taveiros, aponta para o esgoto que corre ao lado de um dos restaurantes mais badalados de Macei. ?J foram feitas vrias denncias e nada feito. Quando chove, tudo fica alagado, tem ruas aqui na Jatica que nenhum carro a e os lojistas ficam sem vender porque fica tudo interditado?, disse.
Na sade, os problemas relacionados ao saneamento aparecem em nmeros de sete dgitos. Segundo o Ministrio da Sade, em todo o estado, ao longo de 2017, foram gastos mais de R$ 2,2 milhes com 5.183 internaes no SUS de pacientes com doenas ligadas falta de saneamento bsico e o gua de qualidade. No mesmo ano, em todo o pas, o total de gastos com este tipo de internao somou R$ 100 milhes.
O rol dessas doenas inclui desde diarreias e problemas dermatolgicos at infeces mais graves, clera, sarampo, alm do agravamento de epidemias, j que a exposio do esgoto a cu aberto aumenta condies para a proliferao do mosquito transmissor de dengue, chikungunya e zika.
Macei no uma cidade planejada e possvel ver que o problema do saneamento afeta todas as classes econmicas. Algumas ruas comeam na praia, como na Jatuca, com prdios e casas visualmente de classe mdia alta, e terminam em trechos extremamente pobres. O despejo de lixo nos rios e riachos feito por parte da prpria populao, mas tambm parte dos alagoanos que lamenta os efeitos dessa prtica.
[caption id="attachment_34950" align="alignnone" width="829"]?No vou esquecer nunca. A gente saia da escola e vinha direto para a Praia da Avenida. Era aqui que vamos os finais de semana com a famlia tambm. Agora impossvel?, lamentou o taxista, de 54 anos, que no quis se identificar. Segundo ele, at dejetos de um hospital foram lanados pelo canal que desemboca na praia que faz parte de seu imaginrio.
A concesso dos servios de saneamento da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) que, em funo do perodo eleitoral, preferiu no conceder entrevistas. Em nota enviada Agncia Brasil, assessores informaram que, dos 102 municpios do estado, a Casal opera em 77. Desses, 12 tm rede coletora de esgoto, incluindo Macei. Em vrios municpios do interior, existem obras de implantao de rede da Funasa e da Codevasf, que so rgos federais. "Somente aps a concluso dessas obras que os sistemas so entregues para a Casal operar", destacaram os assessores.
De acordo com o Ministrio das Cidades, esto previstos no oramento investimentos da ordem de R$ 277 milhes para a capital alagoana. Esse total inclui desde abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, manejo de resduos slidos e estudos e projetos. ?J foram concludos 5 empreendimentos, no valor de R$ 76,5 milhes, beneficiando 83,8 mil famlias?, informou a assessoria do rgo.
Ainda diante de nmeros produzidos pela pasta ? divulgados pelo Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento (SNIS) - em 2016, 96,2% da populao de Macei foram atendidas com rede geral de abastecimento de gua e 40,3%, com coleta de esgoto, ?independentemente de existir tratamento". Com relao ao total da populao representada pelos municpios que responderam ao SNIS no ano de referncia, Macei tem o ndice de abastecimento de gua superior mdia do Brasil (93%) e ndice de atendimento total de esgoto 11 pontos percentuais inferior ao do pas (51,9%).
Direto da Agncia Brasil
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