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21/07/2024 s 08:07 1f3t12

ENTREVISTA DA SEMANA 676l4l

Fotos | Jornalista que escreveu livro sobre histria do Shopping Popular relata trajetria de desafios e recomeos dos camels 22h2h

Com a estrutura fundada em 21 de abril de 1995, os comerciantes aram por protestos, enchentes e at prises 154a1p

Gabriella Arantes

<Font color=Orange> Fotos </font color> | Jornalista que escreveu livro sobre hist

Foto: Divulgao

“Shopping Popular: Uma histria de luta e muitas conquistas”. O nome do livro j evidencia a trajetria de sucesso e os desafios enfrentados pelos lojistas do complexo comercial de Cuiab desde os primrdios.

Escrito pela jornalista Sandra Carvalho, 57 anos, o exemplar faz um mergulho profundo na histria desse cone comercial. A obra foi lanada em maro deste ano, cerca de quatro meses antes do incndio que devastou o local, ocorrido na madrugada da ltima segunda-feira (15).

Com a estrutura fundada em 21 de abril de 1995, os comerciantes do Shopping Popular aram por protestos, enchentes e at prises e tiveram que recomear por vrias vezes.

No entanto, na ltima semana, toda a luta se transformou em cinzas, devastando a vida de muitos camels e suas famlias. Mas a publicao ficou para imortalizar essa histria.

Em entrevista ao Leiagora, a escritora falou sobre o livro, como foi o processo de curadoria para escrever o exemplar e ainda fez um relato a respeito do que sentiu quando recebeu a notcia da tragdia.

Confira abaixo a entrevista na ntegra

Leiagora - Como a ideia do livro surgiu?

Sandra Carvalho - Na verdade, eu fui convidada pela a Associao para escrever esse livro. Mas essa uma histria que comeou muito anos antes dessa minha relao com o Shopping Popular. Eu era reprter do jornal Dirio de Cuiab quando, no dia 1 de abril de 1995, a prefeitura retirou os camels do Centro e levou para o bairro Dom Aquino a contragosto. Ento, teve um enfrentamento, queimaram pneus, e prises. A polcia fez um aparato enorme para poder retir-los e eu cobri essa retirada. Antes, eu j havia acompanhado toda a situao dos camels com a prefeitura e tudo.

Anos se aram, conheci o presidente da Associao do Shopping Popular, Misael Galvo. Depois, fui trabalhar na assessoria de imprensa do local. Eu convivi com eles bastante e, um tempo depois, acabei saindo da assessoria de imprensa. S que ficou essa relao de amizade com os camels, ns construmos um vnculo afetivo.

Leiagora - Como foi esse processo de curadoria para escrever a obra?

Sandra Carvalho - No final de 2014, eu fui convidada para escrever o livro e terminei de escrever cinco meses depois. Eu fiquei dentro do arquivo pblico e tive a ideia de fazer a linha do tempo, com base no que foi publicado e noticiado pela imprensa. Ento, todo o livro foi escrito praticamente com base no que a imprensa divulgou. Eu peguei o Jornal do Dia, que no existe mais, e olhei folha por folha, ms por ms, ano por ano daquele perodo que eu j sabia que era a poca do embate com a prefeitura.

Peguei o Dirio de Cuiab e olhei folha por folha, ano por ano. Alm desse, tambm pesquisei na Gazeta, Folha do Estado e fui fotografando. No livro, eu coloco a data e o jornal que publicou a notcia. Ali, tem crdito para os jornalistas que produziram a matria, do fotgrafo e do veculo de comunicao que publicou. Ento, foi um trabalho nosso, jornalstico, que est dentro desse livro.

Eu comecei contando desde quando os libaneses foram chegando at Cuiab para vender tecidos e tal. Depois, na dcada de 80, o governo federal fez um chamamento para que pessoas de outros estados viessem ocupar e colonizar Mato Grosso. Veio muita gente do Paran, do Nordeste e de So Paulo. Teve quem foi para o norto, teve quem foi para o garimpo, outros que ficaram em Cuiab e foram para a rua vender. Isso est tudo no livro, eles organizaram vrios lderes e esses lderes bateram de frente com os fiscais e a prefeitura. At que eles foram transferidos para o bairro Dom Aquino.

Eu narro, contatando a partir das reportagens com fotos, a escalada deles no bairro Dom Aquino. Inclusive, eu conto que nasceu em Cuiab, dentro do Shopping Popular e da Associao, a ideia da criao de uma lei para um imposto menor para essas pessoas. Para eles terem condio de pagar o imposto e legalizar. Porque eles sempre foram vistos como marginais porque tinha a questo do contrabando. Essa luta virou nacional, que a Lei dos Sacoleiros.

Eles foram crescendo e reformando. Quando chegaram no Dom Aquino, s tinha cimento, dois banheiros e uma salinha. Nesse mesmo dia que eles foram transferidos, eles escolheram a primeira diretoria do Shopping Popular com eleio direta. Existem prints aqui no livro dessas atas. Ento, eles foram crescendo, juntando dinheiro e tiveram parceria com a prefeitura e, depois, com o governo do Estado. am um TAC (termo de ajustamento de conduta) com o Ministrio Pblico para conseguir aquela rea, que era da prefeitura. Sempre fazendo muitas aes de solidariedade, enfrentando a polcia, perdendo a mercadoria. Antigamente, tinha enchentes ali, alagava, e eles perdiam tudo. De repente, chovia e a gua invadia l dentro.



Leiagora - Essa linha do tempo que voc mostrou no livro tinha muito sofrimento?

Sandra Carvalho - Eles sofreram muito, pelo fato do 'cdigo penal' que eles desenvolveram para sustentar a famlia ser considerado crime, que o descaminho e contrabando. Ento, eles foram presos, perderam muito e foram humilhados. Sofriam aes da polcia, o helicptero aparecia l e era aquele desespero. Na estrada, eles sofriam assaltos, os bandidos trancaram eles naquele lugar onde ficam as malas nos nibus. Ficaram trancados ali e sem roupa. Foi muito sofrimento. Alm das enchentes. Eles tiveram que recomear vrias vezes. E, agora, ficaram sem nada mesmo. uma situao muito difcil, so 600 bancas e cerca de 3 mil funcionrios desempregados, com famlias inteiras dependendo do Shopping Popular. Ento, muito triste mesmo, mas eu acredito na superao deles. Porque o livro, para alm de ser uma experincia profissional, tambm foi uma experincia pessoal.

Leiagora - Conte como foi a experincia de cobrir o protesto dos camels em 1995.

Sandra Carvalho - Eu no lembro quantos anos que tinha, mas eu era bem nova nessa poca. Revisitando esses jornais durante a pesquisa do livro, eu vi as minhas matrias, assinadas por mim. Ali j foi um tnel do tempo, eu revendo meu trabalho da rua. Sempre gostei de ficar na rua, sempre fui reprter de Cidades e Polcia. Eu gosto de escrever sobre a cidade, o cotidiano e os personagens que fazem o dia a dia. Essa experincia no dia dos protestos foi algo muito importante na minha vida, ainda no tinha visto nada parecido.

Tinha cerca de mil pessoas no dia, chorando e resistindo. Foi a primeira grande cobertura que eu trabalhei. Tinha polcia, batalho de choque e seres humanos sofrendo. Foi a minha primeira grande cobertura, marcou muito pra mim. E, ainda depois, fui trabalhar l, so muitas histrias nos bastidores.

Leiagora - Quando voc comeou a escrever o livro e quanto tempo levou para publicar?

Sandra Carvalho - Eu escrevi o livro em 2015, mas eles no tinham condies de imprimir a obra e mandar para a editora. Anos se aram e o Misael me chamou para publicar o livro. Mas eu tive que atualizar o livro, porque, infelizmente, tinha gente que tinha morrido e outros fatos que tinham acontecido. O livro acabou ficando na gaveta de novo e sem dinheiro para imprimir. Quando foi em 2023, eu j estava chateada por causa da demora. Mas acabei atualizando o livro de novo, falei da pandemia, que falecerem pessoas, que ficaram fechados e perderam dinheiro de novo. E encerro o livro contando o novo projeto que j est sendo executado, que um prdio com oito andares, com sete andares para estacionamento e trs cinemas. Ento, o auge do livro, que uma histria de superao e inspirao, encerra com essa nova obra. O livro foi lanado em maro deste ano, contando toda essa histria de sucesso inspiradora, mas tudo isso acabou virando cinza com o incndio.

Leiagora - Como as pessoas podem adquirir o livro?

Sandra Carvalho - O livro no vendido. Eles me deram exemplares para eu entregar para os colegas jornalistas. Porque o trabalho do jornalismo que est dentro do livro, para alm da histria dos camels. Eu no consegui entregar todos os livros ainda e j aconteceu essa tragdia. Tudo doado, no vendido. Ento, eu vou entregar para os colegas jornalistas. Mas, graas a Deus, ns temos o livro, imortalizou a histria.

Leiagora - Como foi receber a notcia da tragdia no Shopping Popular?

Sandra Carvalho - Eu soube da notcia s 4h30, quando entrei na internet e fiquei sem acreditar at agora. Eu s ei l na frente, mas no quis descer do carro. Fiquei muito emocionada ao ver a cena de longe, imagina l perto. Eu vi fotos e vdeos na internet, Misael chorando. Pra mim, surreal essa histria a, pareceu pra mim uma fico vendo as chamas destruindo tudo. E um livro que acabou de ser lanado com a histria e tudo destrudo.

Para mim pareceu uma fico, mas que uma realidade. Mas, no acredito que seja o fim, mas sim o fim de mais uma histria na vida desses camels to sofridos. Tenho certeza de que eles vo conseguir se reerguer. O fogo no vai destruir uma histria inspiradora como a deles.

Leiagora - Voc pretende escrever outro livro sobre a tragdia e o recomeo dos comerciantes?

Sandra Carvalho - Hoje, no consigo pensar nisso e falar “eu quero escrever”. Estava pensando que se eu fosse confiante, sairia na mesma hora e teria ido l. No momento agora dessa tragdia, no consigo pensar em escrever outro livro sobre isso. Eu no sei se teria condies emocionais, o tempo ou pra mim. Eu no me considero uma pessoa velha, mas j estou indo para 60 anos. Mas, assim, emocionalmente, eu no sei se hoje gostaria de escrever essa histria. Mas eu acho que ela precisa ser escrita. Emocionalmente, eu no sei se eu quero, talvez eu queira ficar com essa daqui que est no livro e deixar para outra pessoa escrever essa etapa. No consigo pensar sobre essa parte, muito triste ainda. Prefiro esperar mais um pouco para pensar sobre escrever ou no essa parte da tragdia.
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