O clima natalino reserva surpresas, presentes, ceias recheadas e famlia reunida. Mas alm disso, tambm contempla um momento de solidariedade que envolve doaes de roupas, alimentos e brinquedos s pessoas em situao de vulnerabilidade social. Atitudes como essas so essenciais para manter o esprito de esperana trazido pelo Natal dentro de cada ser humano, porm, essas aes que so reflexo de empatia podem ser repetidas durante todo o ano, independente de qualquer data comemorativa.
exatamente nesse ponto que Clvis Matos atua. Ele, que historiador pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e escritor, contribui todos os anos e praticamente todos os meses levando donativos s comunidades ribeirinhas do Pantanal.
Por conta do caracterstico cabelo branco e a barba comprida, Clvis ou a ser conhecido como Papai Noel Pantaneiro, mas para alm do nome peculiar ao Natal, ele leva diversas doaes durante todo o ano s famlias que moram em comunidades rurais e que vivem mais distantes da capital Cuiab.
O projeto do historiador, que comeou com o intuito de incentivar a leitura, se expandiu e hoje leva uma lio de amor e solidariedade por onde a.
Confira abaixo a entrevista na ntegra e conhea um pouquinho do Papai Noel Pantaneiro:
Leiagora - Clvis, nos conte um pouco sobre a sua histria e como surgiu o Papai Noel Pantaneiro.
Clvis Matos - Eu j fazia um trabalho antes com o Incluso Literria no Pantanal, com os livros, e eu sempre fui barbudo e cabeludo, ento as pessoas j me chamavam de Papai Noel, independente de eu ser Papai Noel ou no. Nisso, quando eu comecei a fazer o trabalho de Papai Noel no shopping, eu vi que faltava alguma coisa para completar esse trabalho e como eu j tinha uma relao muito legal com as pessoas do Pantanal, eu resolvi virar o Papai Noel Pantaneiro.
Fui conhecendo a histria desse povo e vi que ningum ia l levar nada para ningum, nunca foram, no tem assistncia nenhuma. As pessoas ficam muito afastadas e isoladas quase que dentro da capital, foi assim que eu comecei o Papai Noel Pantaneiro, comprando coisas para levar s comunidades. Depois o projeto foi crescendo e eu fui procurar pessoas para me ajudar a conseguir brinquedos, roupas, calados e outras coisas para doao.
Leiagora - Quando comeou a campanha do Papai Noel Pantaneiro deste ano e quais comunidades ribeirinhas sero contempladas?
Clvis Matos - Hoje, a gente atende mais de 2 mil pessoas por ano levando presentes. Neste ano, sero 67 comunidades atendidas. Todos os anos a gente atende as necessidades do povo e isso j acontece h 15 anos.
Tem uma coisa engraada. O Pantanal rene em um pequeno espao quatro, cinco, seis casas e isso considerado uma comunidade. A uns 10 km frente, rene um pequeno povoado que representa outra comunidade e que inclusive tem diferenas muito distintas de cultura.
A comunidade mais populosa de l So Pedro de Joselndia, que fica a 200 km de Cuiab, mas nem sempre eu vou l porque quando chove no tem como chegar, a estrada rompe, mas eu espero que esse ano tenha espao porque l tem muita gente para atender.
Sobre as aes desse fim de ano, no tem uma data especfica, depende muito das convenincias das pessoas que me ajudam e que esto sempre me acompanhando para terem disponibilidade.
Eu fao sempre o lanamento da campanha na loja Eletro Fios porque a proprietria da loja madrinha dos projetos. Neste ano, o lanamento foi dia 4 de novembro, mas normalmente acontece por volta do dia 15 at o dia 20 de outubro.
Leiagora - Como as doaes funcionam? Ainda possvel doar brinquedos e livros?
Clvis Matos - A prpria Eletro Fios recebe as doaes dos meus projetos o ano inteiro. Alm deles, tambm possvel doar na BPW, a Associao de Mulheres de Negcios e Profissionais de Cuiab.
Ainda existem grupos de apoio como o de funcionrios da Energisa que se mobilizam e doam cerca de 500 ou 600 brinquedos para mim. O Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT) tambm virou um grande parceiro esse ano e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) abriu uma campanha dentro da instituio. Isso mostra que essas entidades acreditam em mim e no meu trabalho.
Leiagora - Ainda est cedo, mas voc j tem planos para a campanha do prximo ano?
Clvis Matos - Eu t pensando muito nessa de agora, mas tudo tem dado muito certo, at mais que os anos anteriores. A gente t recolhendo muita coisa boa, as pessoas esto apostando muito no trabalho e t chegando gente nova. Isso o que importa.
Sobre os projetos, eu t inclusive aberto a novas sugestes. Tem uma coisa que esse ano eu no consegui fazer, mas ano que vem eu quero fazer que voltado aos idosos l no Pantanal. Eles esto at me cobrando que eu s levo coisas para as crianas, sendo que eles tambm esto precisando, mas eu j levo roupas para essas pessoas. Eu vou incluir essas necessidades na programao do ano que vem, essa pode ser a grande novidade.
Leiagora - Agora mudando um pouco de assunto, esse o primeiro ano ps pandemia que a gente v tantos eventos e lugares com ambientes natalinos (Arena Pantanal, shoppings, prefeituras). Qual sua percepo entre o pr e ps pandemia?
Clvis Matos - O meu trabalho no shopping reflete muito isso porque eu financio o Papai Noel Pantaneiro com parte do cach que eu recebo do shopping e parte do dinheiro das fotografias, o servio de fotografia meu. Todo esse dinheiro para financiar porque no fica barato uma ao dessa do Papai Noel Pantaneiro, nunca fica por menos de 15 a 20 mil reais todo ano.
Ento, eu meo muito o movimento do shopping pelo tanto de fotografias que eu vendo. Nesse ano, eu t fazendo em mdia 60 fotografias por dia, bem acima do que a gente fazia em outro anos e no ano ado, por exemplo, que foi o primeiro ano ps pandemia que eu voltei a trabalhar.
Leiagora - Tendo em vista que o Natal uma poca de festividade para reunir a famlia, voc acha que esse crescimento todo de pblico e oferta desses atrativos revela uma ''superao'' do luto da pandemia, j que muitas famlias perderam entes queridos?
Clvis Matos - Eu acho que superao no, mas uma retomada da vida “normal”. Eu no vejo como superao, eu vejo pessoas que vem ao shopping que no vieram no ano ado. uma retomada da rotina e, at por conta do calor, muita gente tem ido para se refrescar tambm, s vezes no vai nem comprar, mas sim fugir do calor.
Leiagora - Falando agora da sua trajetria como Papai Noel, pode nos contar sobre algum momento muito emocionante que vivenciou ao longo desses anos?
Clvis Matos - Claro, tem um momento que eu no esqueo at hoje. Assim que eu comecei a fazer o Papai Noel no shopping, uma garota de 4 anos de idade na poca chegou com um casal, que eu acho que eram irmos, ela sentou no meu colo e eu fiz a clssica pergunta: “O que voc quer ganhar de Natal esse ano?
Nesse momento, ela virou pra mim e falou a maior surpresa at hoje do meu trabalho: “Papai Noel, eu quero ganhar uma escada para chegar na lua e pegar uma estrela”. Eu at perguntei para o casal se eles tinham falado alguma coisa, mas eles no comentaram nada. Isso me deixou marcado no meu trabalho e na minha vida pessoal, quando eu lembro disso eu fico rindo sozinho.
J no Pantanal, tambm tem surpresas super agradveis como as crianas chegarem pra mim e falarem que no querem brinquedo, s querem os livros e isso no foi s uma vez no, foram vrias. Coisas assim que me marcam e me emocionam.
Uma outra situao inusitada foi quando um outro Papai Noel foi nessas comunidades distribuir balinhas e eles no aceitaram o cara, no receberam nem a balinha dele. Quando eu cheguei l eles falaram que aquele no era o Papai Noel deles e que eu viria ainda.
Ento assim, algo muito gostoso e vai ser muito ruim se eu tiver que deixar de fazer isso um dia, tanto para eles quanto para mim.
Leiagora - Diante de todas essas histrias, quais ensinamentos essa profisso ou esse hobby te trouxe e qual deles foi o mais importante?
Clvis Matos - Eu digo hoje com toda a firmeza que o que me move o amor e a solidariedade. A solidariedade que eu tenho hoje com esse povo e com outros povos para onde eu vou foi criado dentro das minhas aes, mas muito se aprofundou diante das minhas aes no Pantanal, com esse projeto do Papai Noel Pantaneiro.
A solidariedade salva a humanidade e eu tenho isso na minha cabea e nas minhas aes, nos meus trabalhos. uma prtica que eu fao j h muito tempo e tenho certeza de que as pessoas tambm recebem isso com muito carinho.
Leiagora - Alm das regies ribeirinhas, voc tem trabalhos voltados para a periferia da cidade?
Clvis Matos - Eu atuo muito pouco em Cuiab, mas eu viajo muito para outras regies de Mato Grosso e hoje em mais seis estados eu levo livro para essas pessoas, principalmente pessoas que moram em comunidades afastadas, em lugares em que ningum vai l levar nada para esse povo. Atualmente, eu o por Rondnia, Gois, Tocantins, Par, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.
Aqui em Cuiab, eu atuo muito pouco porque de alguma forma tem mais gente fazendo coisas por aqui e nesse outros lugares no tem, eu quem estou praticamente sozinho.
Leiagora - Agora pra descontrair um pouco, Cuiab e Mato Grosso so regies muito quentes e usar a roupa do Papai Noel no deve ser nada fcil. Voc acha que o Papai Noel cuiabano no deveria usar bermuda e regata? Uma espcie de liberdade potica adquirida pelo calor da regio?
Clvis Matos - Olha, no Papai Noel do shopping o pblico no aceita, uma coisa de pblico. J no Pantanal, a minha roupa essa, uma bata sem manga, ou seja, uma camisa larga sem gola e uma bermuda, essa a minha roupa do Papai Noel Pantaneiro. Nesse caso, ela verde, no vermelha por causa do Pantanal, no tem sentido eu ficar de vermelho l dentro com tudo verde ao meu redor.
Inclusive, esses dias eu quase morri porque eu fao trabalhos sociais o tempo inteiro e o pessoal do 1 Batalho de Polcia Militar me convidou para fazer a chegada do Papai Noel em um trabalho que eles realizam ao lado do Shopping Popular e a chegada seria de helicptero. Nisso, eles queriam que eu fosse com a roupa normal de Papai Noel, mas olha, eu nunca vi tanto calor na minha vida.
Leiagora - Por fim, gostaramos que deixasse uma mensagem de Natal a todos e se pudesse dar um presente para Cuiab neste momento, qual presente daria?
Clvis Matos - Sempre que eu encerro alguma entrevista que eu fao, eu digo para que sejamos solidrios ao extremo, no limitemos as nossas vontades de sermos solidrios, no importa aonde voc estiver, no importa o nvel social da pessoa que vai receber, sejamos solidrios que eu acho que isso que toca profundamente toda a bondade das pessoas, isso acaba com muita maldade que tem por a.
De presente para Cuiab, eu daria chuva para amenizar tudo isso e atender toda a nossa populao.
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