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25/12/2023 s 13:00 5g1o3f

CAPITAL MATO-GROSSENSE 4kt71

Um semestre de extremos: temperaturas elevadssimas e escassez de chuva marcam segunda metade de 2023 3r6n64

Profissionais que trabalham ao ar livre reforam como tm se adaptado s mudanas climticas ez4s

Luza Vieira

Um semestre de extremos: temperaturas elevad

Foto: Luiz Alves | Fablcio Rodrigues

Muitos cuiabanos podem ter pensado que o emblemtico ‘Segundo sol’ tantas vezes cantado pela saudosa Cssia Eller, de fato, poderia ter chegado na Capital. Seja logo nas primeiras horas da manh, com o sol a pino, de tardezinha, ou quando j era noite, o calor no deu trgua no segundo semestre de 2023, que conseguiu bater recordes com temperaturas muito elevadas. Mas, isso no foi s culpa do principal astro do planeta. Nessa histria climtica de derreter, h muitos fatores que impactaram no efeito causado pelo calor latente, como a falta de chuva aps um longo perodo de estiagem severa.

O Leiagora conversou com o climatologista e professor do departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, que detalhou como ocorreram os picos de calor registrados na Capital mato-grossense neste ano. Segundo o especialista, o dia de mais calor foi registrado em 19 de outubro, quando a cidade registrou 44,2C, deixando para trs o dia mais quente j registrado em 2020, quando chegou a 44C.

“Estamos tendo mudanas no comportamento climtico terrestre, ento o que se verificou foi uma grande massa de ar quente que ficou estacionada sobre o Brasil Central, juntamente com um anticiclone que acabou inibindo a formao de nuvens e chuvas. Ento este ar quente que ficou estacionado foi sendo ainda mais aquecido, o que resultou nestas temperaturas que nunca tnhamos sentido”, elucidou.

Como explica o pesquisador, o El Nin, fenmeno responsvel pelo aquecimento das guas do Oceano Pacfico alm de ser responsvel pelo aumento das temperaturas, quase que proporcionalmente culpado pela baixa de chuvas, em especfico em novembro. No ms da primavera, a tpica ‘chuva do caju’ - aquela que marca o fim do perodo de estiagem - at veio, mas em baixssimas propores.

Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia, a mdia de chuva para o ms de novembro, calculada em comparao aos anos de 1991 a 2020 seria de 194,6 milmetros. Contudo, neste ano choveu apenas o equivalente a 14% desse total, ou seja, 27, 5 milmetros. A baixa foi pior que em 2020, em que foram registrados 95,1 milmetros de chuva, ano em que o estado enfrentava graves impactos em virtude das queimadas no Pantanal. A situao piora ainda mais se a comparao for com o ano de 2018, quando choveu o equivalente a 409,6 milmetros.

O que fazer para melhorar? Quais as consequncias, conforme os especialistas? So perguntas que no contemplam respostas a curto prazo, no entanto, as expectativas para os prximos anos tambm no so to positivas.

Leia tambm -Cuiab poder registrar 168 dias seguidos de calor intenso em 2050

“O que podemos esperar so eventos extremos de calor e seca mais frequentes, assim como o aumento de calor faz com que se aumente as chances de temporais, ou seja, eles devem ser mais frequentes. Apesar de que na mdia histrica tenha aumentado as chuvas em Cuiab, temos a sensao de que est mais seco, e precisamos entender melhor se tem chovido muito concentrado em poucos dias. Estes extremos no esto s a Cuiab, cidades como Poxoru e Nova Maring j registraram temperaturas superiores a 44,2C”, considerou o professor.

Manoel Ferreira, comerciante

Foto: Luza Vieira
O que esperar do futuro?

Seu Manoel Ferreira, raizeiro h 60 anos e que comercializa seus produtos na regio central de Cuiab, tem boas recordaes da infncia vivida com a famlia na regio do Coxip do Ouro e tem se preocupado com as prximas geraes.

“L na roa a gente queimava a roa at 20 de setembro, chegou no dia 20 de setembro voc no queimava mais porque vinha chuva, ns estamos em novembro e no tem chuva. ou outubro seco. Mas, a culpa de quem? Do ser humano, em uma ganncia muito grande foi desmatando, queimando, os rios esto secando, no tem vegetao. E se agora est assim, imagine daqui a 20 anos, 30 anos. Eu, no sei se vou ver isso, mas o que ser dos meus netos? No vai ser fcil”.

Do limo se faz limonada, ou melhor, no caso da feirante Ana Lcia, suco de

Ana Lcia, feirante do centro de Cuiab

Foto: Luza Vieira
guaran. A comerciante que trabalha em uma feira situada no centro da Capital afirma que tem sofrido com o calor, mas o tempo seco tem feito com que ela estocasse mais bebidas para vender devido grande procura dos clientes e transeuntes que se locomovem nesta regio da cidade. Mesmo com o estoque maior, s vezes ainda tem cliente que acaba sem um refresco.

“Falta, chega meio dia e j no tem mais nada, a a a tarde toda sem vender, porque a gente vende uma caixa trmica cheia, a vende tudo e a tarde toda o pessoal procurando gua”, revelou.

Se est difcil para o seu Manoel e Ana Lcia que trabalham embaixo de uma tenda, imagina para quem fica diretamente exposto ao sol. Esse o caso do seu Valdemir Anselmo dos Santos, que atua como pedreiro e segurana.

Valdemir Anselmo dos Santos

Foto: Arquivo pessoal
“Muito mais quente que no ano ado [...] , protetor solar, a ns temos uma parada de 15 minutos de turno com o hidratante, com 15 minutinhos de parada para assistncia e a a gente toma aquele soro, n?”. Felizmente, Valdemir trabalha em uma empresa que disponibiliza protetor solar, isotnicos e uma parada no expediente em momentos de muito calor, todavia, nem todo mundo tem essa oportunidade.

“Eu chego cansado em casa de ficar no sol. Se no fosse os hidratantes que a gente toma aqui, a gente no aguenta, n? Tem gente que desmaia, no aguenta”, afinal, Cuiab no para amadores.
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