Cuiab, quinta-feira, 22/05/2025
21:06:24
Dlar: 5,72
Euro: 6,45
informe o texto

Notcias / Entrevista da Semana 614x1d

20/11/2022 s 08:00 4mm6a

Conscincia Negra: a luta do movimento negro para todos 6a3f12

"To importante quanto a populao branca a populao negra 1im11

Eloany Nascimento

O Dia da Conscincia Negra comemorado em 20 de novembro. A data faz referncia a Zumbi dos Palmares, uma figura histrica que virou smbolo da luta e resistncia dos negros.A data importante para reforar a importncia da luta pela igualdade social, a luta contra o racismo, a busca pela incluso do negro na sociedade, a importncia de polticas pblicas e a ampliao de debates acerca do tema.

A luta e discusses destas pautas so levantadas durante todo o ano, mas durante a semana da Conscincia Negra que elas so intensificadas e discutidas entre as rodas de conversas, estudos, universidades, e ganha destaque na mdia. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) o assunto debatido e estudado pelo Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Relaes Raciais e Educao (Nepre).

O Leiagora entrevistou a coordenadora do Nepre, Cndida Soares da Silva, que destacou a importncia da data e alertou sobre a ampliao da luta.

“A consagrao do dia 20 de novembro como dia da Conscincia Negra resultado da luta dos movimentos sociais negros, mas a sua relevncia no somente para a populao negra para toda sociedade brasileira, ela tambm diz respeito ao reconhecimento no sentido de se reconhecer de to importante quanto a populao branca a populao negra ”, anlisou.

Confira a entrevista na ntegra:

Leiagora- 20 de novembro comemorado o dia da Conscincia Negra. O que a data representa ? Como voc v a importncia deste dia em 2022 ?

Cndida Soares da Silva - Dia 20 de Novembro um dia muito importante para a populao negra porque ela tem haver com uma conquista na luta por reconhecimento da importncia que a populao negra tem na sociedade brasileira, mas ela no importante somente para a populao negra ela importante para toda populao brasileira, porque um dia para reflexo, tomadas de deciso, para pensar, formular polticas pblicas que volte para a problemtica das desigualdades raciais no sentido de minimizar essas desigualdades.

Quando ns celebramos o dia 20 de novembro como Dia da Conscincia Negra o que ns estamos colocando para reflexo tambm, quando a gente estuda sobre a formao do povo brasileiro. Os conhecimentos que ns temos dizem que a populao brasileira tem por base na sua formao trs grupos, indgenas, brancos e negros. Quando a gente v nas escolas, na educao, quando vai se estudar a gente s v apenas a representao importante, reconhecida, aquilo que diz respeito a populao branca, a gente no v tambm como destaque em importncia a populao negra.

Celebrar o dia 20 de novembro como o dia da Conscincia Negra diz respeito ao reconhecimento no sentido de se reconhecer de to importante quanto a populao branca a populao negra e se a gente for pensar um pouquinho mais adiante a populao ndigena tambm, mas quando ns estamos falando do dia 20 de novembro estamos falando sobre a populao negra.

Quando no temos o aos conhecimentos sobre o quanto a nossa sociedade somente o que em termos de cultura, a produo cultura material ou imaterial, porque tem a presena negra e ndigena e quando nos deixamos de entender isso e de conhecer nos perdemos informaes acerca de dois teros daquilo que somos, ento muito coisa quando a gente fala no dia da Conscincia Negra, muita gente acha que diz respeito apenas a populao negra.

A consagrao do dia 20 de novembro como dia da Conscincia Negra ela resultado da luta dos movimentos sociais negros, mas a sua relevncia no somente para a populao negra para toda sociedade brasileira.

Leiagora - Atualmente essa data no to discutida por toda sociedade como deveria. A senhora acredita que preciso mudar essa realidade?

Cndida Soares da Silva - Ns vivemos em uma sociedade muito racista e um exemplo disso que muito frequentemente a gente v um poltico que ao invs de cuidar de questes importantes para nossa sociedade se ocupa o tempo para acabar com a celebrao.

Em Mato Grosso feriado e volta e meia tem algum querendo acabar com o feriado do dia 20 de novembro quando na verdade deveria se preocupar com polticas pblicas e possibilitar-se a construo de uma sociedade mais equitativa, mais justa e que portanto neste sentido se mobiliza-se para formulao e execuo de polticas pblicas antirracismo e ao invs disso ainda h pessoas que acham que celebrar o 20 de novembro pode ser simplesmente apagado do mapa.

Eu entendo que j houve avanos, mas a gente t sempre nesse movimento de avanar, mas um avano lento por causa inclusive dessa problemtica que existe na sociedade brasileira de que ns ao mesmo tempo que declara uma povo no racista, mas ao mesmo tempo no reconhece nem a populao negra e nem a indigena com a mesma importncia de que se reconhece a populao branca.

Leiagora - Sabendo que a data um momento de reflexo, combate ao racismo e aes afirmativas, o que a universidade tem feito nesse sentido para inserir no dia-a-dia da comunidade acadmica reflexes sobre esse tema?

Cndida Soares da Silva - Eu no posso responder pela Universidade como um todo, mas eu posso falar acerca de algumas coisas que se tem feito, por exemplo, a UFMT embora a gente compreenda que precisa fazer muito mais, ainda muito pouco, mas por exemplo o curso de pedagogia, vrios cursos da UFMT j possuem nos currculos disciplinas que tratam sobre educao nas relaes tnicos raciais. Eu considero que ainda pouco considerando o universo dos cursos ofertados e quantidade de cursos que j fazem isso, mas est fazendo esse movimento.

Ns temos o Ncleo de Estudos de Pesquisas que completou neste ano 20 anos e durante todo esse tempo ele tem desenvolvido pesquisas , extenso e formao especialmente para professores e profissionais da educao base. Ento eu penso que existem dentro da Universidade alguns movimentos nesse sentido, embora eu ainda considere que so iniciativas que poderiam ser mais ampliadas e que poderiam ter dimenses muito maiores do que tem, infelizmente ainda so iniciativas necessrias que ainda precisam avanar.

Leiagora - Na sua opinio, qual o papel da Universidade no combate ao racismo?

Cndida Soares da Silva - Universidade lida com produo de desenvolvimento, infelizmente o racismo no Brasil no se desenvolveu sem envolver as instituies e a Universidade no est fora disso, uma instituio que existe nessa composio das instituies brasileiras. Em termos de conhecimento muito se foi produzido interpretando o ser humano em uma perspectiva hierarquizada sobre o entendimento de raa de que a humanidade composta por raas e essas raas de formas hierarquizadas.

A Universidade no est longe disso, ela tambm ainda no conseguiu superar essa dimenso racial especialmente em termos epistemolgicos. Eu acho que a Universidade tem um papel muito importante que a questo de no somente produzir conhecimentos, como por exemplo, como trazer para o currculo para informao inicial, ps graduao, conhecimentos que contribuam para a compreenso da sociedade em uma perspectiva antirracismo.

Infelizmente esse movimento dentro da Universidade ainda muito frgil, ainda muito pequeno, porque a universidade uma instituio grande, que tem s em Cuiab milhares de estudantes, em termo dos quatros campus so muitas pessoas que a UFMT atua na formao continuamente e a maioria dessas pessoas que am pelo processo formativo entram e saem sem estudar e ter na sua base formativa conhecimento que trazem a populao brasileira sobre uma outra perspectiva e que nessa coloquem em nvel igualdade tanto a matriz europia, amerndia e africana. Ento por exemplo, a gente tem cursos na Universidade que se quer focam no assunto, so pouqussimos autores por exemplo, africanos e africanas, ento um percurso que ainda precisa ser feito. Existem alguns avanos ainda existem, mas ainda existem muitas coisas ainda para serem feitas.

Neste ano a UFMT retomou o programa de incluso quilombola que uma coisa importante, uma poltica para incluso de estudantes quilombolas que inclusive estava parado. Ento isso um avano, a gente no pode deixar de reconhecer isso, mas se vocs forem olhar em termos curriculares a muito pouca coisa, ao menos em termos de um poltica mais abrangente, em termos institucionais ainda h muito pouca coisa.

Leiagora - Qual o principal desafio que Mato Grosso enfrenta no combate ao racismo?

Cndida Soares da Silva - Eu acho que os desafios so muitos, dentre eles est a ausncia de polticas pblicas. Por isso que eu disse no comeo da entrevista que existem tantas frentes, tantas coisas que precisam ser feitas e que a gente espera quando a gente olha para as instncias, tanto executiva e legislativa que se espera que se tenha polticas pblicas.

Ns sabemos que a mulher negra mais penalizada em termos de o aos bens especiais, em termos de o aos direitos e a gente v que no existem polticas pblicas que tenham recorte pensando na populao negra no intuito de superar as desigualdades que foram construdas historicamente sobre a perspectiva de raa.

Ento o que eu penso que a muitos problemas, mas um que extremamente importante e que vai tendo continuidade, entra ano e sai ano exatamente a ausncia de poltica pblica, porque a desigualdade raciais no foram produzidas sem a participao do estado e suas vrias instncias, ento a promoo da equidade racial somente ser possvel se o governo e suas diferentes instncias tambm se responsabilizar pela superao dessas desigualdades, ento eu penso que meu problemas centrais ausncia de poltica pblica.

Leiagora - Um futuro sem racismo possvel?

Cndida Soares da Silva - Eu acredito que na vida tudo seja possvel, mas eu acredito que a superao do racismo ele no fcil e tem enfrentado e continua enfrentando muitos desafios, porque muitas vezes nem sequer se ite a sua existncia.

Como combater algo que no se ite que existe? necessrio poltica pblica que tenha o foco na populao negra no sentido de fazer com que ela tambm tenha melhores condies de o a renda, a uma educao e sade de qualidade. Existem possibilidades de fazerem que essas coisas sejam feitas, mas as vezes me parece que no a muita disposio para assumir a problemtica que existe um problema no Brasil e que esse problema central o qual decorre a maioria dos outros e que muitas vezes a gente v muitos discursos, palavras muito bonitas, alguns paliativos, mas sem encarar de fato a problemtica central.

Leiagora - Voltando ao tema educao e a importncia de polticas pblicas. Neste ano completou 10 anos da Lei de Cotas no pas. Como avalia esta lei? Acredita que possa ter melhorias?

Cndida Soares da Silva - Ter uma poltica que possibilite condies a estudantes negros e negras ingressarem na Universidade nos cursos superiores um desejo e uma luta do movimento negro com toda certeza. Na dcada de 80 se no me falha a memria j propunha uma poltica pblica que j vinha nessa direo, mas com foco na populao negra, essa proposta ela foi ando por todas instncias sendo aprovados e a de repente ela some do mapa, ela desaparece, a depois de algum tempo ela aparece em uma portaria que vai dizer determinados projetos que estavam em tramitao. O curioso que quando sai essa portaria o autor desse projeto no estava mais na Cmara Federal enquanto deputado. Ento no tinha como desativar, posteriormente um outro projeto vai na perspectiva de classe, depois de muitos debates ele foi aprovado em 2012 e com recorte da populao negra e indigena.

Na verdade, a gente tem um projeto de lei que foi o que foi possvel, a questo das cotas foi parar no supremo, ento isso que ns temos hoje no uma poltica de cotas para a populao negra, uma poltica de cotas para escola pblica com recorte para populao negra e indigena e posteriormente para as pessoas com deficincia.

Nesses 10 anos foi importante embora no tenha sido o desejado, que foi possvel e que foi importante vrias pessoas conseguiram ingressar com a reserva de vagas, conseguiram sim, mas necessrio avano porque se no houver avano ns vamos estar com uma poltica que de fato no enfrenta a problemtica da maneira como ela deve ser, porque ela faz um recorte ento isso acaba servindo basicamente como evitando de certa forma tambm o ingresso, porque o percentual dentro de um recorte de 50% do universo de ofertas.

necessrio que agora ao final dos 10 anos se pense como uma poltica para ser superada, mas como uma poltica que possa ser pensada em uma perspectiva de avano, ou seja, de uma maneira que ela cumpra com seu objetivo em relao a populao do que diz respeito em especialmente a populao negra e indigena que tem haver o o a Universidade como uma das perspectivas de superao das equidades e desequilbrio sociais e que foram ancorados e encontram ainda em suas sustentaes em desequilbrios no racismo.

Leiagora - Como o Nepre atua em pautas relacionadas comunidade negra?

Cndida Soares da Silva - Durante os seus 21 anos o Nepre produz conhecimentos considerando a realidade de Mato Grosso tanto em uma perspectiva de denncia quanto propositiva, desenvolver atividades. Por exemplo, como a que desenvolvemos o agora no incio de novembro a 16 Jornada de Desigualdades Sociais na Educao Brasileira tendo como foco o debate de polticas afirmativas, nesta trouxemos uma conferncia, roda de conversa com estudantes de graduao, ps graduao, de egressos que ingressaram na Universidade por polticas afirmativas e discutimos polticas afirmativas na regio amaznica, j que Mato Grosso faz parte dessa regio.

Ento esse o corao do Nepre e o que ele faz, como termos de pesquisa, extenso e todas as aes focadas nas questes relacionadas no que se diz respeito s relaes raciais da sociedade brasileira.

Leiagora - Finalizando nossa entrevista, deixo esse espao aberto para falar uma mensagem importante de reflexo acerca do assunto.

Cndida Soares da Silva - 20 de novembro, eu penso que, a ns enquanto sociedade Mato-grossense, enquanto sociedade brasileira, ns precisamos refletir, mas tambm desenvolver aes que envolve uma dimenso maior sobre como que os direitos esto sendo usufrudos, qual que a qualidade da educao que ns temos, essa qualidade est sendo ofertada para toda populao.

Ns precisamos refletir sobre a qualidade da sade, quais as condies de o que a populao negra possui e quais servios ela tem tido o e quais as qualidades desses servios, ento eu penso que importante ns refletirmos, eu acho isso responsabilidade de pessoas negras sim, mas no exclusivamente uma responsabilidade tambm das pessoas brancas em problematizar os benefcios e os privilgios dos quais elas usufruem, porque em uma sociedade racista se um grupo esfoliado dos bens deles, dos bens sociais um outro grupo beneficiado por isso.

Se a populao negra sofre as consequncias de uma desigualdade que foi historicamente construda tendo o estado brasileiro se ancorado no racismo como base no no atoa que as condies de vida da populao branca melhor do que as condies de vida da populao negra. Embora por mais de 400 anos esse Brasil tenha construdo suas riquezas e seus bens culturais em auxlio construdo por base o trabalho escravizado, ento o Brasil aps a abolio no se pensou em polticas pblicas desse grupo, ento o problema do racismo ele da sociedade brasileira e portanto de responsabilidade tambm da populao branca.
Cliqueaqui,entre na comunidade de WhatsApp doLeiagorae receba notcias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notcias em primeira mo.


0 comentrios 3s5pb

AVISO: Os comentrios so de responsabilidade de seus autores e no representam a opinio do site. vetada a insero de comentrios que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poder retirar, sem prvia notificao, comentrios postados que no respeitem os critrios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matria comentada.

Sitevip Internet