Para mudar efetivamente a vida das pessoas para melhor, em larga escala, preciso estar no centro de decises polticas do Brasil, o Congresso Nacional. Foi ao perceber isso que a empresria, mdica e me Natasha Slhessarenko decidiu ingressar na vida pblica. Ela pr-candidata a uma vaga ao Senado, a Casa de Leis onde todos os estados da federao possuem representao igualitria.

Foi eleita em 2019 para compor o Conselho Federal de Medicina (CFM) e acompanhar os mais de dois mil projetos relacionados sade que tramitam na Cmara dos Deputados e no Senado, que teve essa compreenso. A partir da, se preparou para dar continuidade ao legado poltico da sua famlia, uma vez que a me, Serys Slhessarenko, foi a nica primeira senadora mulher de Mato Grosso.

Mas, antes disso, Natasha construiu uma histria na iniciativa privada, tendo fundado o Cedilab e a Clnica Vida, e no servio pblico, tanto como professora da Universidade Federal de Mato Grosso, atuando na formao de mais de dois mil mdicos, quanto como mdica do Sistema nico de Sade (SUS).

com sua vida em um novo estgio, o de realizao pessoal, que sente a necessidade de se entregar ao chamado da vida pblica.

Leiagora - Dr Natasha, voc, como filha da ex senadora Serys, ento sempre esteve ali no meio, envolvida com a poltica, mas como aconteceu essa transio de ser a filha da Serys para ingressar pessoalmente na poltica?

Natasha - Eu nasci em um ambiente poltico. Tenho 54 anos de vida, 32 s de Medicina e cresci num ambiente onde meu pai e minha sempre foram muito envolvidos com a poltica. Minha me foi coordenadora do centro de Letras e Cincias Humanas da UFMT, primeiro chefe de departamento, depois foi secretria de Educao, quando Dante foi prefeito de Cuiab, depois foi secretria de Educao com Bezerra no governo, depois trs vezes seguida deputada estadual.

Na poca em que ela foi deputada estadual foi no ano em que me formei em Medicina e a eu fiquei fora. Voltei quando ela estava na metade do segundo mandato de deputado estadual, em 1997. Ento eu nasci nesse ambiente poltico, sempre achei muito interessante e sentia que a poltica era a grande e talvez a nica forma de transformao social de maneira efetiva.

Leiagora - E como se tornou a dr Natasha pr-candidata ao Senado?

Natasha - Eu entrei para o Conselho Federal de Medicina agora em 2019, para representar os mdicos de Mato Grosso junto ao CFM. Cada estado elege um mdico e eu fui eleita por esse nosso estado. Dentro do Conselho a gente faz muita interface com o Congresso Nacional. Para voc ter uma ideia, tem mais de dois mil projetos da rea da sade tramitando hoje no Congresso Nacional, incluindo o Senado e a Cmara. Ento, realmente um universo muito grande a sade, um dos grandes pilares e no adianta ter dinheiro, ter nome, ter poder se voc no tem sade. E isso comeou a me chamar ateno como mdica, como educadora.

No nosso dia a dia a gente pratica aes sociais o tempo todo, mas a gente s consegue fazer isso em escala estando no centro poltico das decises, que em Braslia. Ento, como mdica a gente tem a muito de ajudar as pessoas, um lado humanista muito grande, quem escolhe o lado da sade tem um lado muito social e a eu pude ter muita clareza dentro do Conselho Federal de Medicina de que a gente precisa estar no centro poltico das decises para efetivamente contribuir de maneira ostensiva e em escala.

Todo eleio algum “voc tem que ser candidata, voc tem que ser candidata” e eu realmente tinha outras misses naquele momento, eu tinha mestrado e doutorado para cumprir, eu sou professora da universidade, eu tinha minhas filhas para criar, depois eu fundei o laboratrio Cedilab, fundei a clnica Vida, tive vrios momentos e hoje realmente me vejo na condio de poder me dedicar a poltica como a poltica merece ter polticos que se dediquem, que faam realmente acontecer. Minhas empresas esto maduras, uma delas o Cedilab eu j vendi, sou professora adjunta j na universidade, tenho doutorado. Agora eu consigo realmente poder me dedicar a poltica todo tempo que a poltica precisa.

Leiagora - Inclusive a sua me teve toda uma histria poltica que comeou na Secretaria Municipal de Educao, foi trs vezes deputada estadual e depois senadora. Voc j comea pela disputa de Senado. Por que o Senado, como chegou a essa deciso?

Natasha - Por que no o Senado? Por que no? Como eu te falei, para que a gente possa realmente intervir definitivamente na vida das pessoas, de milhes de pessoas, a gente tem que estar em Braslia. Na Cmara ou no Senado. A representatividade no Senado muito grande e igualitria, trs por Senado independente do tamanho do Estado.

E eu me vejo agora na condio de, como te falei, sou 32 anos mdica, trabalho h 20 anos na rede pblica, centro de sade, escola do Grande Terceiro, Hospital Julio Muller e tenho tambm as minhas atividades em nvel privado aqui na Clnica Vida (local onde a entrevista foi realizada), no laboratrio Cedilab, sou docente e formei mais de dois mil… eu j perdi as contas. H 20 anos como professora, j fui professora da Unic, Univag, sou professora da UFMT, sinto que contribui de sobremaneira para formao de mais de dois mil mdicos no nosso estado. Eu percebo que essa minha histria de vida me permite isso.

Assim como “quem foi Blairo Maggi?” Comeou j como governador. “Quem foi Pedro Taques?” Comeou j como senador. “Selma Arruda?” T, ela foi cassada, mas comeou j no Senado. E eu penso que se tem um lugar que voc pode comear as mudanas do pas, at por essa paridade, no Senado. Ento muito importante que a gente coloque no Senado pessoas que no tenham nenhum tipo de vnculo com o Executivo, com o Judicirio e com as corporaes para que sejam pessoas isentas e possam tomar decises sem nenhum tipo de compromisso.

Leiagora - Hoje temos outros dois pr-candidatos com mandato, que o deputado federal Neri Geller, o senador Wellington Fagundes o presidente da Aprosoja Brasil Antonio Galvn, e o vereador Kssio Coelho. Me chama ateno o fato de voc ser a nica mulher candidata ao Senado.

Natasha - Ento, eu acho que essa questo de ser a nica mulher uma questo que precisa ser realmente refletida. Ns mulheres somos 52% da populao e somos muito poucas representadas. No Senado da Repblica, de 81 senadores, so apenas 12 mulheres. Na Cmara Federal, de 513 deputados so 77 mulheres. Ento se ns somos mais da metade da populao brasileira, nada mais justo que a gente esteja pelo menos representando metade dessa representao poltica e infelizmente isso a gente ainda no v. Eu sinto que importante, nesse momento, especialmente no momento ps-pandemia, com mais de 660 mil brasileiros e brasileiras que morreram, seria importante no s o olhar feminino, que um olhar que costuma ter maior de cuidado, de acolhimento, mas tambm o olhar de um mdico, de uma mdica para dentro do Senado da Repblica. Acho que importante um olhar de quem cuida.

Parlamentos que tm mais mulheres, e isso tem estudos cientficos e posso te ar toda essa referncia bibliogrfica, Parlamentos que tm mais mulheres so Parlamentos que tm mais projetos na ao social, na sade, na educao, na segurana pblica e na assistncia social. So parlamentos com menos indce de corrupo e so parlamentos que as meninas, as crianas do sexo feminino sonham mais, porque elas se vem naquelas mulheres, se veem e pensam “eu posso chegar l”.

Leiagora - Em uma posio de poder?

Natasha - Exato! E eu penso que importante. Se a gente imaginar que a minha me foi a nica senadora mulher em Mato Grosso que conseguiu completar o mandato, porque a gente teve a Selma que foi eleita, mas foi cassada, infelizmente, mas minha me foi a nica que completou o mandato. Mato Grosso do Sul hoje tem duas senadoras. Ento eu acho que precisamos dar uma refletida, por qu no ter mais mulheres no Parlamento? Ns precisamos eleger mais mulheres em todas as esferas. No s no Legislativo, mas tambm no Executivo e no Judicirio, ns precisamos levar essa perspectiva. Uma vez que somos mais da metade da populao. E mais! Somos me dos outros 48% restantes, ento nada mais justo do que a gente se sinta bem representada.

Leiagora - Falamos sobre representatividade poltica feminina, mas quais outras bandeiras pretende defender?

Natasha - A minha bandeira principal, como mdica, a sade, n? Eu acho que o SUS mostrou o seu grande tamanho nessa pandemia. O SUS vai precisar ser revisitado na questo da gesto, na questo de melhor aplicao das verbas e mais verbas para o SUS. preciso ter uma carreira de Estado para todos os profissionais da sade, preciso ter piso salarial para todos os profissionais da sade. A Enfermagem conseguiu na semana ada e isso foi maravilhoso, mas isso precisa reverberar para as outras reas da sade. preciso ter uma lista de transparncia do SUS. Ento, hoje o SUS tem grandes programas. O programa de drogas para HIV/AIDS, voc pode ter o dinheiro que for, mas voc tem que pegar medicao no SUS, o que maravilhoso. Hepatite B, Hepatite C, hansenase, ento todos esses programas, o PNI, Plano Nacional de Imunizao exemplo para o mundo como o SUS exemplo para o mundo. Minha grande bandeira a bandeira da sade.

Como que a gente vai ficar, as filas do SUS um problema que a gente conhece h muito tempo e inissvel um paciente ficar esperando dois ou trs anos por uma cirurgia de vescula, uma cirurgia ortopdica. Ento preciso que uma rede faa a contratualizao para que a gente ossa absorver, fazer esses exames. S de mamografia foram 800 mil a menos que fizemos na pandemia. E agora, j existia fila antes da pandemia, e agora como vamos fazer com essas cirurgias? preciso ter uma olhar atento a isso. Como que a gente resolve isso? A gente resolve estendendo horrios de atendimento, parcerias pblico-privada, enfim, tem a uma srie de coisas.

Leiagora - Doutora, voc mdica, sade pblica uma das coisas que pretende discutir. Que nota voc d para a sade pblica de Mato Grosso hoje?

Natasha - Acho que Mato Grosso conseguiu fazer, desempenhar bem favorvel durante a pandemia. O governador Mauro Mendes, o secretrio de Sade, deram um tom depois que criaram o centro de triagem na Arena Pantanal. Aquilo ali realmente ajudou muito, ajudou barbaramente a populao aqui de Cuiab. Houve a implantao de algumas UTIs em vrias cidades no interior, aqui mesmo em Vrzea Grande a gente esteve no Hospital Metropolitano, teve a criao de novos leitos para a covid.

Agora hora de comear a redimensionar. Tem muito leito fechado para a covid, paciente precisando de leito de UTI, ento importante que haja esse redimensionamento da rede. Que a gente use todo esse material que foi envolvido para fazer UTI de covid para, agora, o dia-a-dia para outros casos que no a covid. E a covid no acabou. A gente est a, todo mundo mais relaxado, mas os casos comearam a aumentar.

Leiagora - E qual seria o desafio da sade de Mato Grosso hoje?

Natasha - Precisa ter mais leitos de internao. A gente precisa ter mais leitos de internao, mais leitos peditricos, leitos neonatais. Somos um estado muito grande. Se a gente somar o tamanho da Espanha e da Alemanha, Mato Grosso ainda maior e temos carentes de leitos de UTI peditrica, UTI neonatal, ento a gente a bastante sufoco quando nasce criana no interior porque no tem UTI neonatal para dar e e eu acho que esse um dos grandes desafios do nosso Estado. Um deles.

Leiagora - Os outros pr-candidatos do Senado se colocam como bolsonarista ou ento muito direita no espectro poltico. Como voc se coloca nesse cenrio polarizado?

Natasha - Acho que a gente nem devia ficar falando em polarizao. Acho que est todo mundo cansado dessa polarizao, isso desgasta, isso no leva a gente a lugar nenhum. Eu sou senadora, eu quero ser pr-candidata ao Senado de Mato Grosso, eu quero representar e lutar pelas pautas do nosso Estado.

Leiagora - O fato de todos eles se colocarem nesse espectro poltico e voc se colocar fora da polarizao pode te beneficiar de alguma forma eleitoralmente?

Natasha - Eu acho que o eleitor precisa entender a verdade de cada candidato. Entender quais so as propostas, entender quais so os candidatos e fazer sua melhor opo. Eu no acho que vo escolher por ser de direita ou ser de esquerda. Eu acho muito superficial, muita raso esse tipo de anlise. importante que o eleitor conhea o seu candidato e vote convicto que um candidato que vai represent-lo, que vai compreender as pautas que so importantes para o estado.

O PSB, que presidido pelo Max Russi em Mato Grosso, faz parte da base do governador Mauro Mendes e hoje outros dois pr-candidatos disputam para estar no palanque dele. E voc, onde encaixaria?

Eu no tenho dvida de que sou a pr-candidata ao Senado do Max Russi. O PSB aqui no Estado faz parte, compe a base do governador Mauro Mendes e eu posso estar nesse palanque sem nenhum tipo de problema. Vou seguir a orientao regional do nosso partido. O que nosso partido regionalmente decidir, eu estarei l cumprindo com a sua deciso.

Leiagora - Como voc tem trabalhado para viabilizar a candidatura?

Natasha - Conversando, andando, olhando no olho das pessoas, discutindo o que importante. Muitas vezes eu acho que existe uma inverso de valores. Muitos polticos acabam entrando para a poltica para se servir da poltica, mas a poltica tem que ser um instrumento de servir as pessoas. Um movimento contrrio. Eu estou a conversando com as pessoas, conversando com lideranas, conversando com polticos, conversando com cidados. O que importa para voc? O que voc quer? Como voc v uma mdica? Como eu posso te ajudar? Eu acho que estou fazendo a minha parte que conversar e levar meu nome para as pessoas, para a sociedade, para as lideranas. Vou continuar viagens para vrias cidades do interior do nosso estado. A ideia essa. Eu tenho me apresentado e me colocado disposio das pessoas. Eu sinto que nesse momento preciso colocar meu nome a disposio para devolver ao meu estado um pouquinho do que ele me deu. Eu me sinto totalmente realizada, estou com tudo organizado, mas algo que me diz que preciso por meu nome a disposio das pessoas do nosso estado.

Leiagora - Ouviu um chamamento?

Natasha - (Risadas). Meu anjinho da guarda falou: olha, presta ateno!

Leiagora - Mais alguma coisa importante a falar para populao?

Natasha - Acho que importante dizer que eu estou como pr-candidata ao Senado e quero representar todos os segmentos de Mato Grosso. Hoje a gente fala que Mato Grosso agro… Mato Grosso agro sim, o agro muito importante. o agro traz dinheiro para o nosso estado, o agro faz o PIB do nosso estado ser muito bom, o agro traz dinheiro, traz comida para nossa mesa. Mas Mato Grosso no s agro. Mato Grosso tem outros segmentos e eu quero poder representar todos os segmentos do nosso estado.