Psicloga fala sobre formas de ajudar crianas e adolescentes com sofrimento psquico 485v4i
Leiagora entrevistou a psicloga Andria Freitas, que faz parte do grupo de profissionais que atuam no Centro de Ateno Psicossocial Infantojuvenil (Capsi Adolescer) 601k2j
O Setembro Amarelo, Ms de Preveno ao Suicdio, tem como foco o debate sobre as formas de cuidado com a sade mental, tambm uma questo de sade pblica. Neste cenrio pandmico, especialistas tm notado um triste dado, o aumento de tentativas ou casos concretos de autoextermnio por crianas.
Falar sobre o suicdio ainda pode ser considerado um tabu em muitas culturas, mas colocar o assunto em pauta uma das formas de auxiliar quem est em sofrimento.
Sobre isso,oLeiagoraentrevistou a psicloga Andria Freitas, que faz parte do grupo de profissionais que atuam no Centro de Ateno Psicossocial Infantojuvenil (Capsi Adolescer), auxiliando crianas e adolescentes a lidarem com o sofrimento psquico.
O Capsi um servio pblico de sade mental, oferecido atravs do Sistema de Sade Pblica (SUS), ou seja, gratuito e atende toda sociedade.
Leiagora - Por que falar sobre o suicdio?
Andria Freitas- O suicdio um fenmeno complexo, que se constitui num grave problema de sade pblica. Ento se faz necessrio falar sobre essas questes para mobilizar a ampliao de estudos, de programas de preveno mundial relacionadas a essa temtica. E eu compreendo tambm que falar de morte muito difcil, principalmente quando se trata de autoextermnio. Por muito tempo essa questo do suicdio foi considerada tabu. Ento, falar sobre propicia s pessoas procurar outros escapes para o seu sofrimento psquico, auxilia essa pessoa a refletir a sua dor e as decises de enfrentamento, de que elas no esto s, que existem outras alternativas para que elas consigam se expressar e se colocar diante desse sofrimento.
Leiagora -Voc v um ndice de tentativa de suicdio maior entre as crianas e adolescentes?
Andria Freitas -O que a gente observou, aqui no Capsi, foi um aumento, principalmente nessa pandemia em que ns estamos inseridos. Aumentou muito significativamente os casos entre adolescentes. O que a gente percebe aqui a idade. Antes a gente tinha adolescentes acima de 14 anos. Hoje ns temos crianas de 10 anos com tentativas de suicdio. Ento ns percebemos que reduziu a idade, diminuiu, e houve um aumento muito significativo entre crianas e adolescentes.
Leiagora-Como o tratamento psicolgico influencia nesses casos?
Andria Freitas - fundamental esse apoio psicolgico nessas tentativas, para poder propiciar ao sujeito um espao de acolhimento e tratamento. Onde ele possa ser escutado com ateno. Porque a gente fala dessa escuta com ateno e com neutralidade ativa, sem crticas ou julgamentos, e considerando tambm que, ao falar, o sujeito traduz essa angstia em significantes. Quando o sujeito no utiliza as palavras, ele tende a ser impulsionado a expressar esse mal estar em seu prprio corpo. Isso acontece pelo fato do nosso corpo ser sensvel ao significante, que so as palavras. Ento, quando o corpo oferecido para esse fim, ele torna a fala em ato. Quando ele no fala, ele torna isso em ato, que a gente considera como fala atuada no prprio corpo.
Ns temos como exemplo esses casos de automutilao, com cortes nos braos, nas pernas, que o que a gente mais tem acompanhado com as crianas e adolescentes. E o ato que considerado mais agressivo de todos o suicdio. Ento quando a gente convida, no tratamento psicolgico, a gente convida esse sujeito a falar, isso permite que ele no somente possa falar sobre a morte ou desejo de eliminar a sua dor atravs da escolha do suicdio, mas, sobretudo, ele acaba falando sobre a vida e do que tem sido invel para ele nesse momento.
Leiagora - A automutilao um indcio de que a criana ou adolescente pensa em cometer suicdio?
Andria Freitas - Sim. um indcio. Porque j mostra que ele tem um sofrimento intenso, que ele no consegue por palavras nesse sofrimento, e ele expressa no corpo, que essa fala atuada.
Leiagora -Sobre o cyberbullying: existem maneiras de prevenir?
Andria Freitas -Existe, sim. O que a gente aqui mais trabalha no Capsi... No tem como a gente falar de crianas e adolescentes sem inserir a famlia, o cuidador. E fundamental que os pais propiciem aos filhos uma relao de confiana e abertura para o dilogo.
Inserir nesse ambiente familiar discusses acerca da utilizao da internet e como isso pode impactar no desenvolvimento cognitivo, social. Os pais devem fazer esse acompanhamento frequente quanto ao uso da internet pelo filho, de fazer com que as crianas, os adolescentes, eles pensem antes de publicar.Ento trazer essa discusso, esse dilogo para dentro do lar, e abordar com as crianas tambm, os adolescentes, o risco que existe no mundo virtual.
A internet algo benfico, mas tambm existem malefcios. Existem esses riscos. Ento, orientar para no aceitar pedidos de amizades, de conversas de estranhos. Ensinar as crianas e os jovens a identificar o cyberbullying. Porque muitas vezes eles nem do a devida importncia. Recebem mensagem, encaminham a mensagem, e muitas vezes no se atentam de que esse um caso de cyberbullying. E a, quando a situao se agrava, s vezes fica at difcil uma interveno.
Ento quando essa criana, esse adolescente est bem orientado quanto a isso, uma forma de apoio para evitar, algo preventivo. E evitar tambm expor. Conversar com eles para evitar expor informaes pessoais, como vdeos, fotos, que podem ser utilizados para montagens maldosas. Adolescentes tm muito de confiar em amigos, fornecer senhas, aquela troca, relao de confiana. Ento fazer esse tipo de orientao e falar mais sobre a existncia desse espao que est to real e significativo na nossa realidade.
Leiagora -E caso j tenha acontecido?
Andria Freitas - importante estar sempre atento s mudanas de comportamento de humor das crianas e adolescentes. Isso pode ser observado atravs do isolamento social, ele comea a no querer mais estar envolvido no meio das pessoas, fica mais fechado, retrado. Apresenta baixo rendimento escolar, o humor fica mais reprimido. Em questo da auto-estima, fica com baixa estima. Aquela coisa de valorizao, desvalia do prprio corpo. Uma tristeza mais exacerbada e at mesmo evidencia a questo dos pensamentos suicidas. Ento tudo isso importante investigar, porque caso a criana apresente esses comportamentos, essas questes, pode estar ocorrendo, sim, o cyberbullying.
Leiagora -Se ns, pessoas comuns, formos procuradas por quem precisa de ajuda psicolgica, como proceder?
Andria Freitas -Inicialmente importante oferecer apoio. Dizer: “Olha, estou aqui. Vou te apoiar.” Compreender que o sofrimento dessa pessoa, sem julgar, sem banalizar e jamais ficar oferecendo conselhos. Ento, a orientao para procurar ajuda de profissionais de sade mental. Caso necessrio, acompanh-lo at um servio de atendimento. Porque dessa forma ele acaba se sentindo mais confortvel e seguro, tendo algum para acompanhar ou procurar uma rede de apoio dessa pessoa ou familiar, amigo que seja de sua confiana. Informar sobre o acontecimento, sobre o fato. E tambm ns temos os servios de sade, como o Caps. Encaminhar para as unidades bsicas de sades, as UPAs e at mesmo CVV atravs do 188.
Leiagora -E se esse adolescente, essa criana j tentou recorrer aos familiares e prximos, porm no conseguiu ajuda?
Andria Freitas - importante buscar a rede de proteo da criana e do adolescente. No caso, acionar o Conselho Tutelar e informar sobre o ocorrido. E a, tem essas orientaes dessas unidades de sade que eu falei anteriormente. Mas essa rede de proteo da criana precisa ser informada. Em muitos casos aqui, que a gente recebe... Tem at casos de adolescentes que esto aqui, que tm amigos que esto ando por essa situao, mas a famlia no compreende. Ento um responsvel, um adulto, traz at o Capsi. Porque a criana, para poder ser inserida aqui no Capsi, precisa estar acompanhada de um adulto, um maior de 18 anos. E ns fazemos esse contato com a famlia, com o Conselho Tutelar. A gente envolve toda esse rede de proteo da criana e do adolescente. Ento o Conselho, principalmente, precisa ser informado.
Leiagora -Se essa criana j tentou esse meios e ainda sim no foi escutada?
Andria Freitas -Ela pode vir ao Capsi. No que ela no v ser escutada por no vir com um familiar ou algum [adulto]. Mas ela pode vir e a ns vamos fazer esse papel, essa ponte. Procurar essa ponte. O servio de sade essencial. Seja onde for, a criana e o adolescente pode procurar para estar sendo inserido.
Leiagora -Por fim, gostaria que explicasse como funciona o CAPS infantojuvenil; as formas de o ao atendimento; como funcionam as consultas; se necessrio desembolsar algum valor; e, caso no consiga o, qual outro meio?
Andria Freitas -O Caps atende conforme as diretrizes do SUS e da poltica nacional de sade mental, baseado na portaria 336 do Ministrio da Sade na portaria 3088 e tem como objetivo oferecer o cuidado criana e ao adolescente. Ento, inicialmente, para acolhimento, ns atendemos adolescentes at 17 anos e 11 meses, que so moradores do municpio de Cuiab, que possuem um transtorno mental de desenvolvimento moderado a severo, decorrente ou no do uso de substncias psicoativas. Que tenha prejuzo familiar, social, escolar.
Ento a pessoa, a criana ou adolescente com sofrimento de carter intenso a severo, eles so acolhidos aqui no Caps. E esse o se d de forma espontnea. O Caps no precisa de encaminhamento ou agendamento. s vir at a unidade, feito inicialmente aqui o acolhimento. Aqui ns fazemos assim: um tcnico faz a escuta da famlia, outro tcnico a escuta da criana, do adolescente. Ou faz a escuta juntos, isso varia muito, depende de cada situao. E feito o acolhimento, onde a gente faz a escuta dessa demanda, qual o sofrimento, avalia os prejuzos que essa criana apresenta. E depois ns discutimos o caso em equipe. Aqui ns trabalhamos com uma equipe multiprofissional... Ns temos psiclogos, enfermeiras, assistente social, psicopedagogos, educador fsico, fonoaudilogo, redutor de danos.
A gente faz um estudo de caso e avalia se esse adolescente, essa criana, tem prejuzos significativos, tem um sofrimento psquico de carter grave a severo e ele a a ser inserido para atendimento aqui no Capsi.
elaborado um projeto teraputico singular. Ento assim, dentro daquele caso, como que vamos trabalhar com aquele adolescente? Ento a gente traa todo um projeto teraputico singular e a equipe multi trabalha com oficinas, com grupos, com atendimento individual. Temos mdicos psiquiatras aqui tambm. Caso no seja uma demanda para atendimento em Capsi, ns fazemos os devidos encaminhamentos. A gente encaminha para atendimento ambulatorial, que hoje o ambulatrio de sade mental funciona dentro das policlnicas do Coxip, Planalto e Verdo. E na parte da psiquiatria no HMC, que o que ns temos hoje. O Capsi funciona atravs do SUS, e no tem custo nenhum para o usurio.
Leiagora -Quando so encaminhados para o ambulatorial?
Andria Freitas -Quando ele apresenta um sofrimento que ns no consideramos como grave a severo. um sofrimento que possvel que ele fale sobre isso dentro de um espao de ambulatrio. No tem essa necessidade da equipe multi. O Capsi para esses casos graves, que precisam ser acompanhados por uma equipe multiprofissional.
Leiagora-Fale um pouco mais sobre o Capsi.
Andria Freitas -O Capsi precisa aparecer mais, porque as pessoas no sabem sequer que ele existe. um servio gratuito, e aqui a gente atende toda a classe social, temos adolescentes da classe mdia, alta e baixa. para atender toda a populao.
Cuiab tem dois Capsi. O nosso, o Capsi AD, municipal. Antes, o nosso Capsi atendia somente crianas e adolescentes em uso de substncia psicoativa, lcool e drogas.
Em 2018, comeou o processo para inserir transtorno mental tambm. Ento, hoje somos o Capsi que atende transtornos mentais e usurios de substncias psicoativas.
E tem a gesto estadual, que fica no anexo do Adauto Botelho, que atende crianas e adolescentes somente com transtorno mental. Olha s, numa capital, ns temos esses dois Capsi e ainda sim existem pessoas que no tm essa informao.
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