Vereador de primeiro mandato, o tenente-coronel Marcos Paccola (Cidadania) se classifica como parlamentar independente, e no descarta a possibilidade de vir a disputar a eleio para deputado estadual de 2022.
Apesar de novato na Cmara de Cuiab, ele j integra a Comisso Parlamentar de Inqurito (I) dos Medicamentos, e tenta emplacar um novo procedimento investigatrio na Casa de Leis para investigar a questo trazida tona atravs da Operao Curare.
Em entrevista ao Leiagora, ele afirmou ser clara a participao do prefeito Emanuel Pinheiro em todos os esquemas que foram desbaratados no municpios por meio de operaes policiais.
Leia abaixo a entrevista na ntegra:
Leiagora - O senhor est h menos de um ano no mandato. Qual a avaliao faz at agora?
Avaliao continua sendo um aprendizado. Acho que tudo na vida uma construo do domnio do saber, que a assimilao do conhecimento e a prtica do conhecimento adquirido, e a correo de atitudes, que vo transformar a gente em um profissional de excelncia. Esse o caminho percorrido em qualquer atividade que voc queira fazer. Ento, eu vejo que esse processo est sendo iniciado, ainda estou na fase de assimilao de conhecimento e ao mesmo tento adquirindo experincia.
Meu panorama atual que eu continuo nesse processo ainda. Fazendo um paralelo ao nosso desenvolvimento humano, eu estou naquela fase do nenm que sai da posio de sentado para comear a engatinhar, para depois pensar em ficar em p. Ento, eu tenho muita tranquilidade e humildade de reconhecer que um processo que est muito no comeo e precisa de tempo para amadurecer.
Leiagora - O que levou o senhor a buscar a poltica?
De fato, foram as circunstncias da prpria atividade da polcia militar. Eu fiquei algum tempo trabalhando no Bope, que para mim foi um momento de pice profissional. Minha carreia na polcia foi muito precoce, eu entrei com 16 anos como primeiro colocado no vestibular da UFMT, na poca para o CFO. Ento, eu sai aspirante com 19 anos e com 21 anos eu j estava no Bope, e fiquei l por 10 anos. Acabou que eu fiquei naquela bolha, e quando eu sa, fiquei prximo de uma depresso, porque no me via fazendo outra coisa e foi um momento traumtico, porque isso aconteceu na prvia da Copa do Mundo, e eu no aceitei algumas situaes que estavam sendo colocadas.
Nesse momento eu percebi que as decises polticas dominavam a tcnica. Ento, acabei indo trabalhar na inteligncia, conheci os bastidores da Copa do Mundo na rea de inteligncia, mas posteriormente fui trabalhar no CIRA, e pegamos algumas aes de combate a corrupo que envolvia JBS, Silval Barbosa, Eder Moraes e vrios outros. Al eu percebi que nos 10 anos que eu estava no Bope a gente combatia crimes violentos, mas no combatia a causa. Tudo isso tinha como causa e origem esses desmandos e a poltica feita de maneira nociva. Isso fez eu me interessar por poltica, buscar conhecimento, fazer cursos, e percebi que era necessrio mudar o nvel da guerra.
Eu classifico a guerra hoje em quatro nveis em termos de sociedade. Ns temos uma guerra no nvel fsico, que essa que a gente sente mais raiva, poque a gente sente mais um cara que rouba seu celular e sua carteira, do que um governador que desvia milhes. A ns temos um segundo nvel que a guerra no campo poltico, que eu tambm vejo que s um outro nvel e serve como se fosse filtro, que minimiza ou maximiza os efeitos que a gente sente l embaixo. uma pirmide que vem em efeito cascata.
Depois disso ns temos uma questo ideolgica e cultural. A influncia cultural do "rouba, mas faz". E a ideologia a gente fala sobre o centro de informao, da prpria comunicao, que faz com que influncia.
Leiagora - Qual a maior dificuldade que o senhor tem enfrentado na poltica?
A maior dificuldade que eu tenho de no compreender a forma diferente de fazer poltica da forma que a gente faz. Em especial pela necessidade de fazer alianas e acordos, devendo muita gente, seja financeiramente ou emocionalmente, como promessas de cargos. Ento, a gente percebe que muita gente s vezes gostaria de fazer mais para a populao, mas se sente amarrado, por conta de represlias.
Eu respeito, faz parte, mas a maior dificuldade que eu tenho de compreender isso. relao de causa e efeito, porque no tem como voc ter um poder independente se tem pessoas que dependem de cargos e acomodaes.
Leiagora - Qual o seu posicionamento na Cmara de Cuiab?
Independente. Eu acho que nenhum parlamentar pode se colocar em uma posio diferente disso. Eu at no gosto quando falam vereadores da oposio, e me colocam no meio, porque eu no deixei nunca de votar em algum projeto. Eu acho que oposio lembra muito a questo de resistncia, mas voltado para esquerda. Eu sou oposio a tudo que for errado, independente de quem faa. Ento, se voc situao, voc apoia coisas erradas, e se voc oposio, tem coisas certas, mas voc vai criticar porque oposio. Ento, a razo de existir poderes independentes voc ser independente, essa posio que eu fico.
Leiagora - O senhor fica no meio da sua bancada, tendo em vista que o Diego Guimares (Cidadania) oposio ferrenha atual gesto municipal, e o Rodrigo Arruda e S (Cidadabi) j integra a base governista. Como v essa situao?
Eu no vejo dificuldade alguma. Cada vereador que est no mandato tem que ser respeitado, porque ou por um processo eleitoral que tinha mais de 700 candidatos, foi escolhido e no cabe a mim julgar. Tenho respeito aos vereadores do meu partido, e isso exatamente igual ao respeito que eu tenho pelos outros vereadores. A disputa feita por todos, e se a populao escolheu, cabe a mim respeitar, independente da posio que eles tiveram.
Leiagora - Qual avaliao que o senhor faz sobre a gesto do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB)?
A avaliao que eu fao que a gesto naquela relao de causa e efeito, vem de um desgaste muito grande desde l atrs, de quando ele era deputado e logo quando ele assumiu a prefeitura veio a questo do vdeo do palet. Eu vejo a necessidade que ele tem de mostrar servio diante de todo esses desmandos e escndalos ao longo da sua vida pblica, faz com que ele no tenha outra opo. Ento, esse o aspecto positivo da coisa. O que ainda d uma sobrevida a ele ele fazer o mximo que ele puder.
Agora, a situao dele complicada. Se voc pegar o Plano Plurianual, por exemplo, est assinado por todos os sete secretrios que foram afastados, que foram alvo de operaes que ocorreram, e ainda vo ocorrer.
Ento, quem tem dvida de que ele tem prtica corrupta? Ningum tem dvida disso, que foi escandalizado pelo efeito do palet. E no efeito cascata, tambm difcil acreditar que quem ele chame para a gesto no tenha essa mesma prtica. Eu no acredito hoje que a gente tenha qualquer secretaria que atue sem atos de corrupo. Acho que ainda no tem investigao bem feita nas secretarias, mas a minha viso como cidado, no existe nenhuma secretaria do municpio no tenha um esquema de corrupo acontecendo.
Leiagora - Uma avaliao da gesto do governador Mauro Mendes (DEM).
Eu, como servidor pblico, tenho o mesmo descontentamento do pblico de servidores. Vejo que o governador oscila nos discursos e prticas, por isso no fao uma avaliao positiva, e toro para que a populao entenda que seja necessrio um novo nome.
Logicamente, se perguntarem pra mim quem eu escolho entre o pior e o menos pior, eu fico com o menos pior, falando entre Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro. At agora, no estou falando que ele no tenha prticas de corrupo, mas ele no foi ainda escandalizado, exposto em nenhuma investigao como aconteceu com o prefeito. Ento, se perguntarem pra mim entre Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro, eu votaria com dor no corao no governador Mauro Mendes, mas no que eu tenha apreo ou que ele tenha feito um trabalho irvel. Ele tem muito o que melhorar, em especial no respeito com os servidores e com o setor produtivo. Ele conseguiu desrespeitar o setor do agro, o setor do comrcio e do varejo, com uma srie de taxaes, com aes de fechamento de o a crditos para pequenos e mdios empreendedores, setor de evento, bares e restaurantes.
Ento, eu vejo que no vai ser fcil, mas talvez ele possa ganhar por falta de opo. Se ficar nesse duelo de Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro, eu tenho certeza que ele vai ganhar, mas eu acredito que uma terceira via possa surgir at 2022.
Leiagora – O grupo de oposio e os vereadores independentes esto sofrendo dificuldades em emplacar aes na Cmara de Cuiab. A que o senhor atribui isso?
Eu atribuo falta de conscincia da populao na hora de escolher os seus representantes. No tem outro motivo, pois se eles esto aqui a populao avalizou a vinda deles, j sabendo como eles atuam.
No segundo turno das eleies, quando o Ablio ganhou o primeiro turno e estava desenhado para que ele ganhasse, a maioria dos vereadores exceto aqueles que j eram do ncleo duro do Emanuel Pinheiro, estavam apoiando Ablio, porque na mente deles eles j sabiam que iam precisar da gesto.
Isso demonstra a dependncia desses vereadores com relao a ser prximo do Executivo, seja para fazer corretagem de servios, que uma das coisas que eu fico irado na Cmara, pois tem vereadores que se contentam em ser presidente de bairro melhorado. Um vereador custa R$ 70 mil por ms, fora os custos da Casa, e a a gente ficar fazendo o que um presidente de bairro pode fazer?
Ento, eu realmente acho que culpa da populao que no consegue compreender a real funo de um vereador que a questo legislativa e a fiscalizao do Executivo.
Leiagora – O senhor props na semana ada a abertura de mais uma I na Cmara de Cuiab. O que, de fato, pretende investigar?
Essa nova I proposta tem por interesse e objetivo apurar a existncia de uma organizao criminosa dentro da Secretaria de Sade. Essa afirmao no do tenente coronel Paccola, essa informao vem de duas instituies que tm razo de existir, que so a Polcia Civil e Federal, que abordaram duas questes, uma relacionada a medicamentos e outra a questo de UTI.
Ento, no pode Cmara Municipal ficar inerte, no sentido de apurar para saber se existe mesmo, e se essa organizao real e at onde vo os tentculos dessa organizao criminosa. difcil acreditar que no esteja rodeado, uma vez que a gente teve trocas de secretrios, escndalos atras de escndalos, e voc v saindo o Celio, que era diretor da Empresa Cuiabana, onde talvez seja o maior antro de corrupo do municpio, a ele assume a secretaria, e afastado.
A Operao Curare mostrou a existncia de um mesmo grupo econmico envolvido, pega um mdico que coordenador das empresas e o coloca como diretor da Empresa Cuiabana. Eu acho que j est havendo uma confuso do que publico e do que privado na Secretaria de Sade. Eu no consigo hoje olhar e no acreditar que no esteja enraizado dentro do Alencastro.
Leiagora – J tem s o suficiente para emplacar?
Eu acredito que at a semana que vem a gente j tenha as s. Vrios vereadores j se colocaram disposio. Os vereadores da oposio j se colocaram disposio, mas eu no quero deixar nenhuma oportunidade para que vereadores mal-intencionados coloquem a faca no pescoo do prefeito.
Ento, eu tenho os cinco da oposio e tenho outros que j garantiram que vo . S que eu no posso pegar as s agora, porque expe eles que so vereadores da base, e isso vai fazer com que comece aquele jogo entre eles, e isso no minha inteno. Eu no estou aqui para fazer esse tipo de politicagem. Eu quero que a base converse e que eles venham todos de uma vez.
Ento, j tenho bem desenhado as s. Hoje, temos sete vereadores que se comprometeram em a I.
Leiagora – Apesar de todos os escndalos e operaes no municpio que tm se arrastado ao longo das duas gestes do prefeito Emanuel Pinheiro, no chegaram a ele. O senhor acredita na participao do chefe do Executivo Municipal?
Com certeza absoluta, no tenho a menor dvida que s uma questo de tempo, e eu tenho certeza absoluta que ele sabe disso tambm. Ento, por esse motivo ele busca, pensa no Governo do Estado, porque o foro privilegiado aumenta ainda mais.
Eu vejo que por isso ele sangra muito com relao aos vereadores. Ele precisa da Cmara Municipal, porque muito rpido vai ter um afastamento dele, e a populao precisa compreender isso, para pressionar os vereadores, at porque o vereador no precisa do prefeito, precisa da populao. Se ele quiser continuar ser vereador, ele precisa ter a populao do lado dele e no o prefeito.
Leiagora - O senhor integrante da I dos Medicamentos. O que j foi apurado at agora?
Apurado que houve um direcionamento de licitao e uma contratao desnecessria, um gasto que, inicialmente, era de R$ 21 milhes, depois ou para R$ 19,2 milhes, e fechou e aditivado em R$ 9 milhes. Esse gasto eu tenho certeza absoluta que foi desnecessrio com relao a essa empresa que atua no CDMIC. Ns tnhamos uma auditoria que identificada menos de R$ 200 mil de prejuzo antes da contratao da empresa, e depois da contratao da empresa ultraa os R$ 12 milhes de medicaes vencidas. No s culpa da empresa, logicamente, existe um esquema.
Essa I dos Medicamentos, de maneira metafrica, como a figura do ice-berging, onde os medicamentos vencidos foram a ponta, que exps crimes e conformidades, crimes e danos ao errio, e posteriormente na aquisio de medicamentos superestimados, superfaturamento, outras compras, que mostram que este esquema acontece do nvel mais alto, ao nvel mais baixo.
Leiagora - O senhor tem pretenes polticas para 2022?
Figuro como pr-candidato a deputado estadual por uma questo bvia de estar disponvel para o partido, e principalmente no deixar que a equipe e eu entremos na zona de conforto. A partir do momento que voc eleito, que voc vem de um pleito eleitoral, existe a tendncia de voc vir para a zona de conforto. Inclusive, agora, a gente percebe alguns deputados dando um gs para poder vir para a reeleio. E quando eu falo para a minha equipe que nos temos que estar aptos para ser candidato em 2022, eu me coloco na situao de entregar quatro anos em dois, porque eu fiz um contrato com a populao de quatro anos.