O Jri Popular da 20 edio do Festival de Cinema e Vdeo de Cuiab (Cinemato) deu o prmio de melhor filme na Mostra Competitiva de Longas-metragens para Loop, dirigido por Bruno Bino. A premiao aconteceu no dia 22 de maio, dois dias aps o filme entrar em cartaz nos cinemas de So Paulo.
A produo mato-grossense (co-produzida pela Plano B Filmes, Valkyria Filmes e Globo Filmes) conta com nomes de peso no elenco principal, como Bia Arantes, Branca Messina e Bruno Gagliasso.Na trama, Daniel (Gagliasso) perde a namorada Maria Luiza (Bia Arantes) em um assassinato. Para salv-la, ele precisa descobrir a frmula que torna possvel viajar no tempo e impedir a tragdia.
Loop foi premiado em festivais internacionais, com destaque para o Manchester Film Festival, no qual ganhou quatro prmios, entre eles os de melhor filme e melhor atriz para Messina. No Los Angeles Brazilian Film Festival, Gagliasso recebeu o trofu de Melhor Ator. Em Portugal, esteve na sesso de encerramento do maior festival de cinema do pas, o Fantasporto.
Graas visibilidade alcanada, Loop dever ser lanado em circuito comercial no Japo e na Coria do Sul e ainda pode pintar em outros estados brasileiros, inclusive Mato Grosso.O renomado cineasta Fernando Meirelles - Cidade de Deus (2002) e Dois Papas (2019) - assinou a superviso artstica e afirmou que no se parece com nada que ele j tenha visto no cinema nacional.
Apesar dos prmios e das crticas positivas, o filme foi alvo de uma polmica justamente no evento de lanamento, no prestigiado Festival de Braslia, inclusive este foi o primeiro longa de Mato Grosso selecionado para a Mostra Competitiva do festival. Na ocasio, a tambm diretora Ana Flvia Cavalcante acusou o filme de romantizar o feminicdio.
Leiagora - Do ponto de vista narrativo, Loop poderia ter sido filmado em qualquer lugar, mas voc optou por gravar em Cuiab. O que motivou essa escolha?
Bruno Bini - Na poca, ramos ns da Plano B Filmes, a Valkyria Filmes e a Globo Filmes. A gente estava discutindo onde rodar esse filme e algumas coisas nos levaram a tomar essa deciso. A primeira era a minha vontade de fazer o filme aqui, eu queria muito registrar Cuiab.
Acho que o filme realmente poderia acontecer em qualquer cidade, uma histria que pode se ar em qualquer lugar, mas eu tinha essa vontade particular. A gente estava debatendo isso e, numa conversa com o Fernando Meirelles, as minhas defesas foram inclusive considerando a questo de custos.
Rodar aqui foi mais barato do que seria rodar em So Paulo, Rio de Janeiro ou em alguma outra grande cidade onde os custos de produo so mais elevados. Isso ajudou, inclusive, a gente colocar o filme dentro do oramento que a gente tinha disponvel. Ento houve uma deciso de ordem tcnica e prtica e uma deciso de ordem particular, da minha vontade de ser aqui.
Durante as conversas, o Fernando acabou entrando no Google e jogou “Cuiab”, e a ele falou: “Meu Deus do cu! Olha o pr do sol que tem a! No, voc tem que filmar a mesmo” [risos]. E a foi um consenso geral. Eu fiquei muito feliz de trazer o filme pra c porque eu tinha certeza que o resultado seria muito bacana.
Leiagora - E sobre o elenco? Ele composto majoritariamente por profissionais do eixo Rio-So Paulo. Queria que comentasse tambm sobre essa deciso.
Bruno Bini -Esse um filme que tem um investimento razovel. Ele no tem um oramento alto, mas tem um oramento mediano. A gente queria uns nomes fortes, conhecidos do pblico, porque esse um filme que tem uma inteno de alcanar distribuio comercial, que o que est acontecendo agora. Ento a gente precisava de um protagonista que fosse feito por um ator mais conhecido.
E um elenco mais conhecido tambm acaba chamando a ateno do pblico, mas tambm teve a participao de vrios artistas locais. A gente teve uma oportunidade grande de abrir espao dentro do filme, com alguns papis um pouco menores, para talentos locais.
Leiagora-Na sua viso enquanto diretor, como foi essa interao, tanto do elenco quanto das funes tcnicas, entre o pessoal daqui e os que vieram de fora?
Bruno Bini-Acho que houve generosidade dos dois lados. Pelo menos o que testemunhei - e fiquei muito feliz - foi justamente uma troca de experincias. Foi criado um ambiente muito receptivo para quem estava vindo de fora e, por outro lado, um ambiente de abertura para incluir esse pessoal que estava entrando em um processo com um pouco menos de experincia. Ento foi muito legal a troca de ideias no set, criando junto. Acho que funcionou muito bem.
Leiagora-O Fernando Meireles chegou a comentar o seguinte: “Loop no se parece com nada que eu j tinha assistido no cinema nacional. surpreendente”. Como foi a experincia de trabalhar com o Fernando Meirelles e como se deu esse contato entre vocs?
Bruno Bini-O contato com o Fernando foi atravs da Globo Filmes, porque ele era um dos consultores que atuam na seleo dos projetos que a Globo vai entrar. E eles se tornam [os consultores] produtores associados e tambm supervisores. Ele um desses caras.
Ento, quando a Globo Filmes entrou no projeto, j chegou indicando: “Olha, queremos fazer a co-produo com vocs e estamos trazendo o Fernando Meirelles como supervisor artstico”. Eu falei: “Meu Deus, que maravilha! Adorei” [risos] Eu sou super f dele, eu adoro o trabalho do cara e uma das referncias que eu tenho no cinema.
Ento foi a partir da que comeou o contato. E ns tivemos vrias reunies, uma troca de e-mails intensa dentro do ritmo dele, que na poca estava filmando “Dois Papas”, tava numa correria louca, mas conseguiu contribuir demais! Ele trouxe apontamentos e trocamos muitas ideias, conversamos muito por Skype, por e-mail, e ele foi muito generoso durante todo o processo.
Desde a declarao dele, que voc acabou de falar, mas de todo o processo mesmo, ele trazendo todo o know how, todo o expertise tcnico e criativo, mas sempre com muito cuidado para que se mantivesse a deciso criativa mais nas minhas mos enquanto roteirista e diretor do projeto. Foi um processo muito tranquilo. A parte criativa s vezes tem seus embates, mas, nesse caso, foi um processo muito sereno e, para mim, profundamente enriquecedor.
Leiagora-No roteiro voc trabalha com a perspectiva de loop temporal. Essa uma temtica que voc j vinha trabalhando ou foi algo novo para voc? Como surgiu essa ideia?
Bruno Bini-Inicialmente, o filme comeou como uma experincia narrativa. Ele era um roteiro de um curta que eu no consegui levantar recursos para produzir. E a depois, com o tempo, eu fui ampliando a histria de forma que ela se tornou um longa-metragem.
Mas essa questo do fluxo temporal, da viagem no tempo, da possibilidade de voc rever sua histria, mudar ou influenciar acontecimentos, isso sempre foi uma premissa que me instigou. Bom, acabou vindo de uma forma natural, primeiro como um exerccio narrativo, e a eu percebi que atravs dessa histria da viagem no tempo eu poderia realizar esse exerccio. E acabei, na verdade, criando uma histria que eu gostaria de ver no cinema ou na TV.
Eu acredito que essa premissa da viagem no tempo tem um apelo muito forte, pelo menos para mim, e eu tenho tido j um bastante positivo. E tambm porque h poucas histrias como essa contadas no cinema brasileiro, achei que era um gap, um buraco, um vazio, que talvez eu poderia preencher com esse filme.
Leiagora-No geral, as crticas do filme so positivas, mas houve uma crtica negativa quando ele foi exibido no Festival de Braslia. A diretora Ana Flvia Cavalcanti acusou o filme de romantizar o feminicdio. Qual a sua avaliao sobre isso?
Bruno Bini-Pra mim, foi uma surpresa. Durante todo o processo de produo do filme, que contou com vrias empresas e profissionais envolvidos, gente com extenso know how na produo de cinema, essa questo no apareceu dessa forma. A gente tem a presena do tema da violncia domstica, da violncia contra a mulher, mas a gente no tinha visto isso dessa forma.
E de forma alguma invalido o argumento que foi feito. A gente teve um debate que foi razoavelmente acalorado l em Braslia e acho que eu tentei exercitar a absoro o mximo que pude. Acho que era minha vez de ouvir. O que a gente tem que estar tranquilo enquanto realizador que o filme, o produto cultural que voc est realizando, ele vai acontecer diferente para cada pessoa.
Ento, para mim, o Loop acontece diferente do que aconteceu para ela. E nenhum dos dois est errado, nenhuma das duas percepes deve ser invalidada. Acho que o meu papel o de tentar fazer o melhor trabalho possvel enquanto a gente est produzindo o filme e tambm o de estar aberto para novos inputs, para os novas interpretaes, porque isso pode me fazer crescer enquanto realizador, me fazer amadurecer, me fazer abrir os olhos, abrir a minha percepo para coisas que talvez no estivessem no meu radar.
O que posso dizer que foi um debate que eu vejo como enriquecedor. E o meu papel justamente esse: o de receber isso, de contaminar com o filme que a gente est fazendo, mas tambm de ser contaminado com o que est chegando, seja ele positivo ou negativo. Nenhum filme est imune s duas coisas.
Leiagora-O filme est sendo lanado comercialmente agora, mas j tem uma carreira premiada em festivais e mostras. Queria que falasse sobre essa trajetria.
Bruno Bini-Essa arena de festivais importante porque j cria uma relao prvia do filme com seu pblico. Ela permite que j exista uma divulgao. Ento essa parte dos festivais muito rica nesse sentido. E o Loop um filme que tem a sua produo originada dentro de um festival.
Eu fui pra Gramado ar um outro filme l, um curta-metragem (S2 - 2015), e conheci a produtora executiva, que viria a atuar no Loop, que a Angelisa. L ela perguntou “Qual o seu prximo projeto?”. Ento eu enviei o roteiro, ela enviou para a Globo e a as coisas comearam a tomar um outro corpo. E tudo isso comeou no festival, ento acho que fundamental para a carreira do filme, mas interessante tambm por permitir essa troca e a viabilizao de novos projetos.
Leiagora - O Jri Popular do Cinemato escolheu Loop como melhor filme na Mostra Competitiva de Longas. O que voc tem a dizer sobre essa premiao concedida pelo pblico de Mato Grosso?
Bruno Bini - Primeiro eu queria registrar a minha felicidade de estar novamente com um filme no Cinemato. Todas as produes que eu fiz sempre tiveram espao ali dentro e eu fico muito feliz de retornar a este festival, que fundamental para a produo audiovisual de Mato Grosso e muito importante para minha histria. Eu sou um cara que tem sua trajetria muito alinhada com a do festival. Parte da minha formao se deu atravs do Cinemato.
Sobre o prmio do Jri Popular, eu fico muito feliz, porque quando a gente se prope a fazer um filme a gente quer que ele converse com as pessoas, que ele encontre conexes com o pblico. Ento receber um prmio desse ter a certeza de que isso aconteceu, de que o Loop encontrou um espao dentro do pblico, encontrou um espao no corao, na mente das pessoas, e elas se identificaram com a histria. Como o meu objetivo principal fazer filmes que dialoguem com o pblico, esse prmio muito especial pra mim. Estou muito grato a todo mundo que votou e espero continuar produzindo filmes que consigam encontrar essa conexo com o pblico.
Leiagora-Sobre o lanamento comercial, o filme acabou de chegar aos cinemas, mas ainda num contexto de pandemia. Qual a sua expectativa?
Bruno Bini- um lanamento muito diferente do que a gente planejava fazer em 2019. A gente tem falado que um lanamento pandmico, que tem uma distribuio bem limitada para os cinemas, mas que vai ter um foco maior, uma distribuio um pouco mais ampla nas plataformas de streaming, depois na TV por e depois TV aberta. uma adaptao a esse momento que estamos vivendo.
Numa conversa entre os produtores e as distribuidoras, a gente sentiu a necessidade de ser realista e reconhecer as limitaes que o momento est trazendo. E tambm h um incmodo em convidar as pessoas para sair de casa e ir at um lugar onde possa ter uma aglomerao, isso uma coisa que a gente teria uma certa dificuldade para fazer.
Ento eu tenho dito que a gente quer que as pessoas vejam o filme, mas que vejam com segurana. E se essa segurana vai se dar no conforto das suas casas, ento por a que a gente vai afunilar o esforo de distribuio. Vamos nos esforar para fazer ele chegar ao maior nmero de pessoas no streaming.
Leiagora-Ento no tem expectativa dele chegar aos cinemas comerciais de Cuiab?
Bruno Bini-Essa uma resposta que eu no tenho… Assim, pode ser que acontea, mas depende muito da demanda. Vamos supor que daqui a algumas semanas ele encerre a carreira l em So Paulo, ento a gente poderia, de repente, botar numa sala aqui, mas uma questo de demanda.
Se houver uma busca do pblico pelo filme, e bvio que a gente torce por isso, talvez a gente consiga formatar uma maneira de exibir ele em sala de cinema aqui, mas tentando garantir, obviamente, a segurana de todos. Eu acho que eu vou ter uma conversa com a distribuidora para ver o que a gente pode fazer.
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