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19/06/2019 s 10:46 4a3g17

Obesidade, vcios e prazeres: o que eles tm em comum? 3e374v

Foto: VivaBem Uol

Quem j tentou emagrecer conhece a enorme dificuldade para chegar ao peso desejado. A obesidade , sem dvidas, um grave problema de sade individual e coletiva neste sculo. Em 2025, o mundo ter mais de 700 milhes de adultos obesos[1]. No Brasil, hoje, mais de 50% da populao adulta est acima do peso e um quinto dos adultos est com obesidade[2].

At hoje, os mecanismos envolvidos no ganho de peso descontrolado eram pouco claros. Temos percebido o fracasso da maioria das dietas e os resultados insatisfatrios das terapias mais agressivas, como a cirurgia baritrica. Segundo a Universidade da Califrnia, indivduos que se submetem a dieta para emagrecer por seis meses perdem apenas 5% a 10% do seu peso inicial, e, nos anos subsequentes, dois teros deles, ganham mais peso do que perderam[3].

No entanto, a neurocincia parece que nos d uma luz para entender melhor esse grande problema e um caminho para enfrentar a dificuldade para emagrecer.

O estudo do comportamento humano frente aos vcios teve incio em meados do sculo ado. Por dcadas, atribuiu-se esse mecanismo de repetio descontrolada de um ato prazeroso a um grupo de pessoas consideradas de personalidade fraca ou de formao moral incompleta. Tempos depois, por meio do uso da neuroimagem funcional, que um mtodo de imagem que permite mapear as reas cerebrais ativadas em determinados comportamentos, a cincia descobriu que o crebro humano processa de forma semelhante praticamente todas as formas de prazer.

Independentemente de o prazer ser originado por ingesto de uma substncia qumica (drogas), recompensa financeira, encontro sexual, jogos, compras, pornografia, ingesto de uma refeio ou outra fonte qualquer, ocorre liberao de dopamina – uma substncia qumica que transmite informao aos neurnios – no ncleo acumbente, que uma pequena regio no crebro responsvel pelo prazer. Este ncleo to especfico para essa atividade que conhecido comoncleo do prazer.

Uma vez estimulado o ncleo do prazer, independentemente do fator gerador, ocorre a ativao de outros dois centros no crebro: um centro que memoriza o prazer (hippocampus) e outro que associa o prazer a seu ato gerador, induzindo a sua repetio (amigdala). Portanto, ao experimentar uma sensao de prazer, o crebro, alm de memoriz-la, armazena a forma como ela foi obtida, fixando uma tendncia comportamental para repeti-la. como se o crebro montasse uma armadilha para que o indivduo repita incansavelmente o ato prazeroso[4].

Tudo isso funciona muito bem - e essencial para a sobrevivncia do ser humano – at o momento em que o ato que desencadeia a sensao de prazer possa ser repetido de forma fcil ou pouco custosa para o organismo. Nesta situao, ou ainda quando induzido por algumas substncias qumicas como as drogas, o crebro capaz de fazer uma autorregulao na regio do prazer, diminuindo o efeito da “substncia do prazer”, a dopamina. Ou seja, o crebro humano a a ficar mais resistente ao efeito prazeroso desencadeado por determinado estmulo. Com isso, as demais regies encarregadas em repetir o ato gerador do estmulo se hiperativam na tentativa de gerar o mesmo resultado. Nesse momento, o mecanismo de vcio est instalado. O mesmo cigarro fumado, o mesmo dinheiro ganho ou o mesmo pedao de bolo no sero mais capazes de gerar o mesmo nvel de prazer ao crebro humano que eles geravam no incio. Ele quer mais.

A distncia entre o ato de prazer e o vcio varivel e depende de uma srie de fatores como predisposio gentica, atos ou substncias indutoras e capacidade de controle. A facilidade de repetio do ato parece ter papel fundamental, e isso facilmente observado na alimentao. A ingesto de alimentos sempre gerou essa recompensa no crebro. Ocorre que, no ado, a obteno de alimento era acompanhada de grande gasto de energia, o que dificultava sua repetio frequente. Com o avano tecnolgico, a comida tornou-se barata e de fcil obteno, favorecendo e aumentando exponencialmente a incidncia de obesidade.

O que nos resta, at que se descubra uma forma de mudar essa dinmica, treinarmos, desde pequenos, a conter essa aparente tendncia do comportamento humano.

No caso especfico da preveno da obesidade, luz dessas novas evidncias, abre-se um caminho para o controle do ganho de peso, que consiste em cortar esse ciclo gerador de prazer, exatamente no momento em que percebemos a tendncia ao vcio em comida. Ter o hbito cotidiano de se alimentar com moderao, frente a esse novo achado cientfico, surge como um mecanismo, embora aparentemente desagradvel, promissor no controle da obesidade.

[1]Organizao Mundial da Sade (OMS)

[2]Associao Brasileira para Estudo da Obesidade e da Sndrome Metablica.

[3]Dieting does not work. UCLA researchers report, 2007.

[4]How addiction hijacks the brain. Harvard Health Publishing, Harvard Medical School, 2011

Dr. Renato Falci Jnior

Dr. Renato Falci J

Dr. Renato Falci Jnior urologista e membro do comit cientfico do Instituto Lado a Lado pela Vida
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