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07/05/2025 s 09:43 2n4p2l

Mes empreendedoras: o legado que ningum v 2h4iv

*Cristhiane Athayde

No debate sobre empreendedorismo feminino, existe uma narrativa subterrnea que raramente chega superfcie: a realidade das mes que empreendem no por escolha estratgica, mas por necessidade existencial.

Sou me de quatro filhos e empreendedora. Esses dois mundos no se tocam ocasionalmente – colidem diariamente, s vezes violentamente. dessa coliso que nasce uma economia invisvel aos olhos do mercado tradicional e das estatsticas oficiais.

Para muitas mulheres, empreender no representa liberdade geogrfica, autonomia financeira ou realizao pessoal – inicialmente, a nica arquitetura possvel para uma vida em que ser me e profissional no seja uma equao impossvel.

Quando o mercado exige presena integral e inflexvel, a maternidade exige presena fracionada, mas constante. Entre esses dois modelos irreconciliveis, o empreendedorismo surge no como sonho, mas como o caminho vivel.

Existe um PIB produzido em horrios que nenhuma planilha contabiliza. o trabalho executado de madrugada, quando a casa silencia. So e-mails respondidos ao amamentar, estratgias desenvolvidas no trajeto escolar, negociaes conduzidas em estacionamentos de hospitais peditricos.

Este um mercado paralelo que gera bilhes, mas que no aparece nos ndices. Uma economia construda nosinterstcios da vida familiar, nos momentos de "entre": entre uma tarefa e um treino de futebol, entre uma emergncia infantil e outra, entre um aniversrio e uma apresentao de negcios.

O empreendedorismo materno carrega uma varivel ausente para muitos: a culpa. Ela opera como taxa de juros emocional sobre cada minuto dedicado ao trabalho que poderia ser para os filhos, e sobre cada momento com os filhos que poderia fazer o negcio crescer.

Isso cria um paradoxo: mesmo quando o empreendedorismo a soluo encontrada para estar mais presente, ele se torna fonte de ausncia. E na impossibilidade de resolver esta equao impiedosa, muitas mulheres adotam como estratgia trabalhar mais, dormir menos, e aceitar que perfeio no faz parte do vocabulrio.

Tanto que o capital da empresa materna tem uma coluna extra: resilincia. a capacidade de pivotar em segundos quando a bab cancela, de conduzir reunies com uma criana febril no colo, de reformular estratgias inteiras entre um dever de casa e outro. Esta resilincia no s um trao de personalidade. um ativo econmico tangvel.

Como especialista em propriedade intelectual, protejo o ativo intangvel – a criatividade que emerge em paralelo capacidade de fazer muito com pouco, de maximizar minutos, e desenvolver uma inteligncia contextual que apenas nasce sob presso constante. Blindo justamente os legados construdos contra todas as probabilidades.

E no. Mes empreendedoras no so heronas de exceo. So mulheres que esto inadvertidamente reinventando modelos de negcios para que estes comportem a humanidade, a fragilidade e a imprevisibilidade que fazem parte da maternidade real – no a romantizada.

Enquanto construmos negcios e inovamos, educamos a prxima gerao sobre resilincia e autodeterminao. Nossos filhos aprendem que sistemas podem ser recriados; impossibilidades podem ser desafiadas; e que o cuidado parte intrnseca da economia, no seu opositor.

O que proponho aqui no apenas reconhecimento – embora este seja necessrio –, mas uma reflexo. Para que o trabalho reprodutivo (criar humanos) e o trabalho produtivo (criar valor econmico) no sejam mais tratados como mundos separados e antagnicos.

Afinal, a pergunta no se possvel ser me e empreendedora simultaneamente. A pergunta : o que seria da economia se todas ns desistssemos?

Cristhiane Athayde

Cristhiane Athayde
empresria e diretora da Intelivo Ativos Intelectuais
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