Por Alline Marques
A transformao da comunicao nas ltimas dcadas impactou diretamente o exerccio do jornalismo. Em tempos de ps-verdade, onde os sentimentos e crenas pessoais frequentemente se sobrepem aos fatos, e em meio ao avano da inteligncia artificial, o papel do jornalista se torna ainda mais desafiador — e necessrio.
A avalanche de fake news um dos principais obstculos enfrentados atualmente. Segundo levantamento da empresa Meta, divulgado em fevereiro de 2024, 29% dos brasileiros itiram j ter acreditado em uma notcia falsa antes de descobrir que era mentira. Alm disso, a pesquisa mostrou que 41% das pessoas so contra o fim das polticas de checagem nas redes sociais, revelando o quanto a desinformao preocupa a sociedade.
Apesar disso, a credibilidade da imprensa tambm vem sendo colocada prova. Dados da pesquisa Trust Barometer 2024, do instituto Edelman, apontam que apenas 50% dos brasileiros confiam na mdia tradicional. Esse nmero, embora estvel nos ltimos anos, mostra como a confiana no jornalismo vem sendo pressionada pelo crescimento das redes sociais como fonte primria de informao — muitas vezes sem curadoria, sem contexto e sem responsabilidade editorial.
Nesse contexto, o jornalista precisa se reinventar. Mais do que informar, necessrio interpretar, contextualizar, checar, confrontar e, acima de tudo, se conectar com o pblico. O contedo precisa migrar para as redes sociais, dialogar com novas linguagens e formatos, sem perder o compromisso com a apurao responsvel. A versatilidade nunca foi to importante. O jornalista hoje precisa ser multimdia, compreender algoritmos, acompanhar mtricas e adaptar sua linguagem — sem abandonar a essncia do ofcio.
A inteligncia artificial tambm entra nesse debate. Ela j est presente em rotinas de produo de contedo, atendimento automatizado e at mesmo em redaes. Mas no substitui o olhar humano, a sensibilidade, a escuta atenta, o vnculo com fontes, o faro para a notcia e a capacidade de interpretar nuances. A IA uma ferramenta poderosa, que pode auxiliar o jornalista — mas jamais poder ocupar seu lugar.
Falo com a experincia de quem est na redao desde o incio dos anos 2000. Vi os releases deixarem o fax e chegarem no WhatsApp. As gravaes deixaram as fitas e agora so feitas com um clique no celular. Vi as redaes diminurem, os formatos se multiplicarem, os canais se digitalizarem. E, mesmo com tudo isso, o jornalismo sobreviveu. Resistiu. Se adaptou.
Assim como sobreviveram o rdio, a TV e o impresso — ainda que em novas roupagens, com novas tecnologias. A essncia continua: informar com responsabilidade, tica e compromisso com a sociedade.
O papel do jornalista hoje resistir com criatividade, se reinventar com responsabilidade e, sobretudo, manter viva a credibilidade da informao em tempos de tanta incerteza. Porque, mesmo em meio ps-verdade e inteligncia artificial, ainda so os jornalistas que sustentam a ponte entre o fato e o pblico. E essa ponte precisa ser firme, confivel — e humana.