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14/11/2024 s 09:17 6u3j6m

A Moratria da Soja e a narrativa de caos ambiental: uma crtica ABIOVE e ao Impacto no Desenvolvimento do Mato Grosso 6x5612


Nesta semana, Bernardo Pires, diretor de sustentabilidade da ABIOVE, lanou duras crticas contra o Governador, prefeitos, vereadores e a Assembleia Legislativa do estado de Mato Grosso. Em tom ofensivo, o Diretor acusou o Governador de atender a interesses “extremistas” da bancada ruralista e de promover a destruio ambiental. Tal discurso, no entanto, desvia o foco das verdadeiras intenes e prticas de entidades como a ABIOVE, que, ao invs de promover a sustentabilidade de forma justa e transparente, tem construdo uma narrativa de caos ambiental para lucrar com a venda de uma “soluo sustentvel” imposta aos produtores brasileiros.

A ABIOVE representa mais de 94% do mercado comprador de soja, e suas restries afetam a vida de milhares de famlias que vivem em propriedades rurais do bioma amaznico, tratados como “sub-cidados” sob a tica da ABIOVE. Esse controle da oferta de soja, que nenhuma relao tem com incentivo preservao, restringe o direito constitucional livre iniciativa, especialmente daqueles que cumprem todas as exigncias do Cdigo Florestal Brasileiro, um dos mais rigorosos do mundo. Dessa forma, a ABIOVE aufere ganhos financeiros com a soja “sustentvel” no exterior, vendendo a imagem de preservao sem compartilhar os benefcios econmicos com os produtores brasileiros que seguem essas regras restritivas.

O modelo imposto pela ABIOVE desconsidera o impacto econmico e social nas regies onde a produo agrcola uma das principais fontes de desenvolvimento. Em vez de criar um sistema de certificao e rastreabilidade que permita atender aos anseios de clientes mais exigentes, como aqueles que demandam soja de reas convertidas para a agricultura anteriormente a 2008, a ABIOVE aplica uma regra nica a todos. Isso gera desigualdades sociais e regionais, prejudicando municpios do bioma amaznico que poderiam levar melhor qualidade de vida aos seus cidados. Ao desprezar essas comunidades, a ABIOVE cria uma segregao injusta entre municpios que j se desenvolveram e aqueles que, segundo sua viso egocntrica, deveriam pagar o preo para que as empresas apresentem aos compradores o famigerado certificado de soja livre de desmatamento. No bastassem todos os impactos sociais que o acordo comercial da Moratria da Soja causa populao desses municpios, a crueldade da ABIOVE no se limita, utilizando-se de fruns importantes para demonizar quem produz no Bioma Amaznia.

A ABIOVE nunca destacou publicamente os resultados positivos alcanados pelos produtores brasileiros em preservao e sustentabilidade. Mato Grosso um exemplo notvel: apenas 14% do seu territrio usado para a produo de soja, sendo que os agricultores locais respeitam uma legislao que exige a preservao de 80% de reas nativas no bioma amaznico e 35% no Cerrado. Com prticas avanadas de conservao, os produtores mato-grossenses no s mantm a vegetao nativa em suas propriedades, mas tambm aplicam o plantio direto, rotao de culturas e uso de bioinsumos, tcnicas que aumentam a matria orgnica do solo, reduzem sistematicamente a adio de insumos qumicos e promovem o sequestro de carbono. Estudos da ESALQ comprovam que a agricultura brasileira capaz de sequestrar at 1,6 tonelada de carbono por hectare ao ano, transformando a produo agrcola em uma atividade que contribui para a mitigao de emisses.

O projeto Guardio das guas, desenvolvido pela APROSOJA em Mato Grosso, atesta o compromisso ambiental dos produtores. Com mais de 105 mil nascentes monitoradas, o estudo apontou que 95% dessas nascentes esto em bom ou timo estado de conservao, evidenciando o cuidado dos agricultores com os recursos hdricos. Essa prtica rara globalmente, especialmente quando comparada a regies agrcolas da Europa e dos Estados Unidos, onde a preservao de reas agricultveis mnima.

Com o discurso de que a paladina da preservao, nica e capaz de “erradicar o desmatamento,” a ABIOVE vende uma narrativa que no representa a realidade do agronegcio brasileiro, promovendo uma imagem injusta e depreciativa dos produtores. Alm disso, o modelo de moratria imposto por essas empresas se mostra contrrio ao desenvolvimento econmico de Mato Grosso e do Brasil, uma vez que restringe o livre comrcio e nega aos produtores a oportunidade de usar suas terras de forma produtiva e dentro da legalidade.

Se o objetivo fosse realmente incentivar a sustentabilidade, as empresas signatrias da moratria deveriam assumir os custos de uma logstica de segregao de produtos e implementar um sistema robusto de rastreabilidade, reando esses custos operacionais aos compradores internacionais que exigem produtos com qualidades especficas. No entanto, o que ocorre na prtica a imposio de barreiras para o desenvolvimento do mercado interno, limitando o o dos produtores a compradores e concentrando o poder econmico nas mos de poucos. Ao captarem recursos com taxas de juros mais atrativas no exterior, alegando vender produtos sustentveis, essas empresas maximizam seus lucros sem compartilhar esses ganhos com os produtores que cumprem as normas impostas pela moratria.

Em resumo, a Moratria da Soja, ao invs de ser uma medida que valorize e promova a sustentabilidade real, vem se tornando um instrumento de controle de oferta que prejudica o desenvolvimento de estados como Mato Grosso, cria barreiras para a reduo das desigualdades sociais e projeta uma imagem equivocada do agronegcio brasileiro. O produtor rural brasileiro, principalmente o de Mato Grosso, j modelo em preservao ambiental, conservao do solo e boas prticas agrcolas. O Brasil, com apenas 7,6% do seu territrio destinado agricultura e mais de 66% do territrio nacional preservado com vegetao nativa, um exemplo para o mundo, mas essa realidade frequentemente desconsiderada no discurso de representantes da ABIOVE em conferncias importantes, como no ltimo congresso de crdito do agronegcio.

hora de questionar se a moratria realmente cumpre o propsito de promover um desenvolvimento sustentvel e inclusivo ou se tem sido usada como ferramenta para criar um problema que as empresas vendem como soluo, beneficiando-se financeiramente s custas da sociedade brasileira e da imagem do pas na comunidade internacional.

Lucas Costa Beber

Lucas Costa Beber
Lucas Costa Beber

Presidente da Aprosoja-MT
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