Com mais de 40 anos de experincia na dana e uma dcada de servios prestados como professora no Centro de Atendimento Socioeducativo de Cuiab, Elka Victorino reuniu esses dois universos em “Para Menores”, premiado espetculo de dana performativa que abre curta temporada em Cuiab com trs apresentaes gratuitas.
As duas primeiras sero nesse final de semana, 30 e 31 de agosto, na Caixa Cnica (Rua Srio Libanesa, 48c Popular) e a terceira ser no dia 05 de setembro no Museu da Imagem e do Som de Cuiab (MISC), sempre s 20h. Pessoas cegas ou com baixa viso podero conhecer o cenrio e tocar objetos cnicos em visitas guiadas antes das apresentaes, alm da presena de um intrprete de libras para surdos e deficientes auditivos. A classificao indicativa de 16 anos e os ingressos - limitados - esto disponveis na plataforma Sympla.
“Para Menores” foi apresentado pela primeira vez h oito anos. A boa repercusso e o apelo do pblico tem possibilitado sua volta aos palcos de tempos em tempos. Em 2023, foi um dos vencedores do 2 Prmio MT Artes na categoria Dana. No mesmo ano, foi selecionado para o XVII Festival Velha Joana e para o 1 Festival de Teatro, ambas as apresentaes com salas lotadas. Essa curta temporada foi um dos projetos aprovados pelo Edital Municipal de Cultura com recursos da Lei Paulo Gustavo.
Uma autofico permeada por memrias
Concebido por Elka Victorino a partir de suas experincias pessoais como professora de educao fsica e dana no Centro Socioeducativo de Cuiab, “Para Menores” resultado de um ntimo processo ruminativo, que s encontrou vazo na expresso artstica. “Os conflitos vividos estavam pulsando em mim. Foi necessrio digerir tudo que eu estava ando para que eu pudesse continuar. No processo de digesto tem a parte final, que eliminar, no meu caso eliminar em forma de arte, de dana”, revela.
Trata-se de uma autofico, de modo que, assim como na vida fora dos palcos, a bailarina indissocivel da professora de reeducandos em crcere. Diante do pblico, a plasticidade de seus os de dana so atravessados por histrias de jovens que so vtimas e autores de violncias. A memria, transitando entre suas partituras corporais e vivncias cotidianas, o elo entre esses dois universos que compem o espetculo.
“A memria como algo dinmico, que a cada ensaio, a cada momento criativo, visita as experincias com os adolescentes. E a cada experincia com os adolescentes visita a sala de ensaios. A memria como algo que pulsa no processo criativo, como pontos brilhantes que chamam a ateno para o desejo de criar”, detalha Elka.
O encontro entre sua vida pessoal e o trabalho artstico tambm foi tema da tese de doutorado de Elka, intitulada “Do Crcere Cena: Corpos Atravessados na Dana Performativa Para Menores”. A diretora do espetculo, Thereza Helena, explica que uma dana performativa porque h um roteiro pr-definido de aes que conduz a estrutura cnica e coreogrfica, caractersticas comuns dana, mas simultaneamente o espetculo rene elementos da performance, como a relao umbilical entre vida e arte, o espao para improvisaes, o contato com a plateia e a possibilidade do pblico tambm experienciar, e no s assistir.
“Fizemos essa escolha por considerar que a frico favorecida pela performance poderia abrir espao para que a plateia pudesse sofrer a experincia durante o espetculo. Outro ponto que nos propusemos a realizar, com uma finalidade semelhante, foi a investida em elementos da sinestesia, como quando o pblico entra e pode sentir um cheiro diferente vindo da cena”, comenta Thereza.
Os conflitos e paradoxos presentes no processo de socioeducao, como a tentativa de docilizao de corpos jovens por meio de um adestramento religioso, corporal e comportamental foi uma das fascas para a concepo do espetculo. Afinal, em outro contexto, Elka Victorino tambm se reconhece nessa dicotomia entre liberdade e encarceramento.
“De um lado, corpos dos jovens, muitas vezes rebeldes, buscando o que era possvel de liberdade dentro do ambiente de crcere; do outro, o corpo da bailarina adestrado pela dana clssica, buscando novas formas de se movimentar e outras formas de traduzir essa vivncia, tentando fugir do rigor tcnico de sua formao e se experimentando numa forma performativa”, diz trecho da elogiosa resenha “Para Menores: Quando a experincia atravessa a artista”, assinada por Everton Britto e Leandro Brito.
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