As filmagens do filme “Mansos”, curta-metragem de fico da cineasta Juliana Segvia, tiveram incio nessa segunda-feira (7). A produo retrata a histria de uma me e suas duas filhas, mulheres negras moradoras da regio de gua Fria, em Chapada dos Guimares, que veem a sua vida ser completamente transformada com a construo de uma usina hidreltrica.
O roteiro, assinado por Segvia, inspirado em uma vasta coleo de referncias pessoais e profissionais. Conta a histria de Teresa, uma agricultora familiar e lder comunitria, que assassinada na frente das duas filhas quando elas ainda eram crianas. Vinte anos depois, Benedita e Jurema, j adultas, se veem diante daquele que o responsvel pela tragdia que destruiu a sua famlia.
“A histria traa uma perspectiva de uma vingana simblica. A personagem principal, Benedita, segue esse percurso. E tambm teve inspirao das mulheres fortes que peram a minha vida, minha me, minhas tias, que so mulheres que enfrentaram barreiras na vida”, conta Juliana.
O nome “Mansos” , claro, uma referncia ao local onde a histria se a, mas tambm uma provocao ao espectador mais atento. “A gente no tem nada de manso quando tem a possibilidade de refletir sobre uma sociedade atravs de um vis poltico-crtico”, diz.
Conforme a diretora, o curta aborda a questo da memria e do apagamento da histria da populao negra. O nome da matriarca, Teresa, inspirado na rainha quilombola Teresa de Benguela, smbolo da resistncia e inspirao para novas geraes de mulheres negras. Benedita uma homenagem atriz Benedita Silveira, com quem Juliana trabalhou em outro projeto, o filme “A Velhice Ilumina o Vento”, de 2022, produzido com apoio do edital do Ita Rumos Cultural 2019/2020. Por sua vez, Jurema fala das mulheres caboclas e indgenas do Brasil, alm de ser uma referncia s religies de matriz africana.
“Foi uma colagem que eu fiz de referncias para pensar uma histria que eu queria trazer tona, que tambm interna minha, que uma necessidade de uma resposta daquilo que me movimenta e me deixa revoltada, indignada em questo de sociedade”, revela.
O projeto
O projeto comeou a ser gestado em 2019. poca, Juliana tambm era facilitadora do Ncleo de Cinema do Sesc Pocon e, por essa razo, ia quinzenalmente para a cidade. “E na estrada tem muita minerao, entre mineradoras que so conhecidas e muitas mineraes ilegais. Isso me impactou para pensar essa histria, como a minerao envolvida diretamente com as populaes que ali habitam, se as pessoas no esto sendo retiradas por conta disso”, recorda.
Com a ideia desenvolvida, o roteiro foi aceiro pelo laboratrio “Negras Narrativas”, uma parceria da Associao de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) com o Amazon Prime Video. Alm disso, posteriormente, o curta foi contemplado tambm pelo edital de audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT).
O projeto realizado pelo Instituto Quariter, que leva o mesmo nome do quilombo liderado por Teresa de Benguela. O foco do instituto pensar e incluir os profissionais do audiovisual a partir de uma perspectiva racial e de gnero.
“Ento a gente traz isso tona enquanto bastidor, do protagonismo de pessoas negras, de mulheres negras, e outros grupos sociais excludos nas variadas funes. A gente tenta fazer um outro tipo de elaborao, de execuo, que pensando nas tratativas do respeito, de no ter assdio em set de filmagem, numa vivncia de colaborao e coletividade, comunidade, que a gente v atravessado nas populaes negras brasileiras, que vem dessa origem africana”, explica.
Com locaes em Cuiab, Vrzea Grande e na regio de gua Fria, em Chapada dos Guimares, a previso que o lanamento ocorra em fevereiro de 2024.
Da assessoria