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09/04/2022 s 19:20 4y2o2f

Relatos dos primeiros anos de Cuyab pelos olhos de um vereador do sculo 18 6jl2u

A segunda reportagem da srie do Entret "Cuiab, 303 anos" fala de descobertas e fundaes entre 1719 e 1722 6r6b3t

Priscila Mendes

Relatos dos primeiros anos de Cuyab

Recorte da capa da publicao do Arquivo Pblico, que reproduziu o fragmento do Prospecto da Villa do Bom Jesus de Cuiab, do Acervo do Museu Botnico Bocage, Lisboa (1790)

Foto: Reproduo

“Aos oito dias do mez de Abril de mil setecentos e dezenove annos, neste arraial do Cuyab fez junta o capito-mr Paschoal Moreira Cabral com os seus companheiros e lhes requereu a elles este termo de certido para noticia do descobrimento novo que achmos no ribeiro do Coxip”. Assim, exatamente com essa grafia, comeou a ata registrada por Manoel dos Santos Coimbra, escrivo do arraial de Cuyab, que nem vila era ainda. Mas, com o documento, Paschoal Moreira Cabral fundava as Minas de Cuyab e garantia os direitos pela descoberta perante a Capitania de So Paulo e Minas de Ouro.

Sim, boa parte de vocs sabe sobre a ata de fundao de Cuyab, mas este trecho foi retirado de outro documento: os Annaes do Sennado da Camara do Cuyab. Tais anais foram produzidos por vereadores eleitos a partir de 1786, como atividade formal da Cmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab e, inicialmente resgataram documentaes anteriores prpria criao, que ocorreu em 1 de janeiro de 1727, data em que o territrio de Cuyab foi elevado categoria de vila pelo governador capito-general da capitania de So Paulo (j desmembrada da capitania de Minas Gerais), Dom Rodrigo Cesar de Meneses.

Produzir os Annaes do Sennado da Camara era, na verdade, uma imposio do governo colonial s Cmaras Municipais. Diferentemente da separao dos poderes conhecida atualmente, no Brasil colonial, eram as unidades “regionais” vinculadas diretamente ao governador capito-general da capitania. E a Cmara reunia as funes istrativa, judiciria, fazendria e de polcia existentes.

Em 2007, o Arquivo Pblico de Mato Grosso e a Editora Entrelinhas reuniram os documentos da Cmara e publicaram o “Annaes do Sennado da Camara do Cuyab: 1719-1830” em dois formatos: o fac-similar (fotografias do documento original) e a transcrio. E todos podem ter o. A transcrio est disponvel neste link e a reproduo fotogrfica dos documentos oficiais pode ser requerida pelo e-mail [email protected].

Confira alguns relatos dos anais da Cmara de Cuiab nos primeiros anos do arraial. O Entret resguardou a escrita original, para que o leitor seja transportado atravs do tempo:

Trocando filho por pacu

Em 1786, foi iniciada a compilao dos primeiros anos de Cuiab. O perodo relativo a 1719-1786 foi narrado por Joaquim da Costa Siqueira, segundo vereador (o correspondente a vereador secretrio). Alm das pesquisas que realizou, tendo ajuda de colaboradores, a partir de 1765, j eram memrias prprias, tendo em vista que ele j compunha a Cmara.

Logo no incio da narrativa, ado registro da ata de fundao, Joaquim da Costa Siqueira se dedica a descrever as dificuldades de chegar a Cuiab no primeiro ano do arraial:

“Entrado o anno de 1720, fizeram viagem para estas minas algumas gentes divididas em diversos comboios, subindo o rio Anhanduhy, atravessando a Vaccaria, descendo pelo Matete, e deste pelo Paraguay acima. Padeceram grandes destroos, perdies de canas nas cachoeiras por falta de pilotos e praticos, que ainda ento no havia, mortandades de gentes por falta de mantimentos, doenas, comidas das onas, e outras muitas miserias. No sabiam ainda pescar, nem caar, nem o uso de toldar as canas, que tudo lhes apodrecia com as chuvas, nem tambem dos mosqueiteiros para a defesa dos mosquitos, que muitos annos depois foram a experiencia e a necessidade ensinando todas estas cousas pelo que padeceram de miserias sobre miserias os que escaparam da morte. Houve comboyo de canas em que morreram todos sem ficar um vivo, pois eram achadas as canas e fazendas podres pelos que vinham atraz, e os corpos mortos pelos reductos e barrancos”.

Mais a frente, o segundo vereador lista algumas pessoas “de maior nome” que chegaram ao arraial e descreve a seguinte “troca”: “o capito Jos Pires de Almeida, que, morrendo-lhe a escravatura e perdendo tudo o mais que trazia, chegou a dar um mulatinho que tinha em conta de filho por um peixe pac por conservar a vida.

Em busca de mel, nasce a Lavra do Sutil


Quadro de Moacyr Freitas - As lavras do Sutil. Crdito da foto: Andr Romeu / Gcom/MT.

O agricultor Miguel Sutil de Oliveira, tambm vindo da Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba, tinha uma terra nas imediaes de onde atualmente a Igreja do Rosrio, margeando a Avenida Prainha. Em outubro de 1722, Miguel Sutil mandou dois ndios escravos procura de mel. Foi a que encontraram ouro em abundncia nas margens do crrego da Prainha. Em razo da descoberta, o fluxo de mineradores aumentou consideravelmente, dando incio ao aspecto de “cidade”.

Mas esse resumo histrico objetivo retira um tanto do brilho do fato. Joaquim da Costa Siqueira mais detalhista. E tamanha a riqueza da descrio, que fica at difcil cortar. Confira:

“No mez de Outubro deste anno fez Miguel Sutil, natural da villa de Sorocaba, viagem para uma roa que havia principiado a beira do Cuyab, logar que depois foi sitio de Manoel dos Santos Ferreira [...]. Chegado a este logar a proseguir os fins das suas plantaes, mandou no seguinte dia dous indios ao mel com os preparatorios necessarios, que eram machados e cabaas; ado o dia chegaram ao rancho alta noite sem mel algum os dous enviados, contra os quaes enfurecido o amo os reprehendeu asperamente por haverem gasto o dia todo sem montaria, a cujas vzes respondeu o mais ladino: – Vs viestes a buscar ouro ou a buscar mel, e perguntando-lhe o amo si tinha achado ouro, metteu o indio a mo ao seio de um jaleco de baeta que tinha vestido, cingido com um cinto por cima, e tirou um embrulho de folhas do matto e o metteu nas mos do amo; abrindo este as folhas achou 23 granetes de ouro, que todos pesaram 120 oitavas, dizendo o indio que achara muito daquillo. Naquella noite no dormiram o Sutil e um camarada europo chamado Joo Francisco, por alcunha o Barbado, considerando-se mimosos da fortuna e livres das penses da pobreza”.

“No segundo dia regressaram para o arraial Cuxip e fizeram publico o descoberto, ao que se seguiu despejarem todos o arraial e mudarem-se para este sitio, a que chamaram Lavra do Sutil, em que foram formando arraial e defructando-as com a grande machina de ouro que extrahiram, pois consta ser a maior mancha que se tem achado em todo o Brazil. Isto succedeu no logar em que est hoje [1786] o tanque, pela quadra abaixo at o corrego, e cousa de vinte braas para cada lado, avaliou-se tirar-se deste logar o melhor de quatrocentos arrobas de oiro [o equivalente a seis toneladas]".

Fundao da Igreja do Senhor Bom Jesus do Cuyab

O ano de 1722 foi muito prspero e permitiu o crescimento da cidade para a regio que conhecida como o Largo da Matriz. Confira narrao de Joaquim da Costa Siqueira:

“Neste mesmo anno levantou o capito-mr Jacintho Barbosa Lopes, a sua custa, a Egreja Matriz, coberta de palha, no mesmo logar em que se acha a que hoje [1786] existe, dando-lhe o titulo de Egreja do Senhor Bom Jesus do Cuyab, adonde celebrou primeiro missa seu irmo Fr. Pacifico dos Anjos, religioso franciscano”.


Igreja Matriz, uma das construes do sculo 18.
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