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27/09/2021 s 15:16 1qn5x

Especial: Igreja de So Benedito se prepara para nova restaurao 305x2y

Obra orada em R$ 4,3 milhes ir focar na integridade do prdio histrico, cuja data de construo se aproxima da fundao de Cuiab 5p6x4f

Priscila Mendes

Especial: Igreja de S

Foto: Priscila Mendes / Entret

O momento de ‘identificar as patologias e propor terapias’ para a Igreja de Nossa Senhora do Rosrio e So Benedito, esse ser vivo e pulsante, do ponto de vista histrico e cultural.A igreja, smbolo da cuiabania e da expresso de f catlica, localizada na regio central da capital de Mato Grosso, est em processo de levantar recursos para uma nova restaurao. A ltima foi em 2003 e, nesses 18 anos, ou apenas por reparos.

O arquiteto Igor Oliveira, da A4 Projetos, responsvel pela gesto da equipe de projetistas desta nova proposta de restaurao, sequer chama de ‘manuteno’ os reparos pelos quais a igreja ou, prefere chamar de ‘solues’.

Isso porque um patrimnio histrico e cultural como a Igreja do Rosrio e So Benedito no a por reforma, mas restaurao. E todas as etapas precisam ser aprovadas pelos rgos responsveis. No caso, pela equipe do ‘Preservao do Patrimnio Histrico e Museolgico’ da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT) e pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan).

Apontando para um pedao de madeira no assoalho, que visivelmente substituiu uma parte danificada, o arquiteto exemplificou: “A inteno foi de criar uma soluo temporria, porque a gente sabe que isso aqui vai sair”. Inclusive, Igor explicou que esses reparos precisam ser visveis, para no se misturarem ao material original e permitir a troca correta no momento de restaurao.

A nova restaurao, cujos levantamento de demandas e captao de recursos esto em andamento desde 2018, est orada, neste momento, em R$ 4,3 milhes. Isso para um projeto geral de ‘sade’ da igreja, ou seja, preocupado em manter a edificao ntegra e segura, alm de garantir mais vida til a ela. “No primeiro momento, a gente tem que tentar manter a igreja em p”, esclarece.

Portanto, no esto previstas restauraes nas partes “artsticas” da igreja, como retbulos (estruturas ornamentais frente de um altar) folheados a ouro, portais, altar e sacadas - peas coloridas e entalhadas.

“Nas coxas”

A previso da atual restaurao, que considerou “patologias” na edificao, atuar nas seguintes demandas: novo sistema de ar condicionado, que permita fcil manuteno e que no interfira nas paredes e assoalho da igreja; no telhado, a fim de corrigir infiltraes; na pintura no artstica, justamente pelas infiltraes, que inclui a parte interna da igreja e a fachada; no assoalho; na iluminao, de forma a no interferir esteticamente no prdio; na sonorizao; e nas esquadrias de madeira (janelas e portas com eroso).

O desafio que, por se tratar de uma restaurao, necessrio utilizar materiais e tecnologias idnticos aos utilizados poca da construo, em 1730, e, para isso, so necessrios artesos.

As madeiras do assoalho, por exemplo, demandam de um engenheiro florestal para identificar quais rvores foram utilizadas; e de um carpinteiro-arteso para reproduzir as larguras das peas. “Quando a igreja foi levantada, no existia serraria, ento, no tiravam as tbuas do mesmo tamanho”, explica o arquiteto, comparando com as tcnicas atuais.

Para corrigir as goteiras, no basta trocar telhas. necessrio que um ceramista produza as peas literalmente nas coxas, como era feito no sculo 18. “s vezes, o encaixe no fica perfeito e d goteira”, comenta Igor, acrescentando que o projeto prev uma manta para o telhado, para proteger de infiltraes, mas manter a cobertura original aparente.

Ocuidado com a infiltrao nas paredes ar tambm pelo respeito ao material utilizado: a construo foi de adobe, rebocada (massa de cimento), j foi caiada (isolada com cal) e, atualmente, pintada com tinta ltex. “O que acontece com parede de barro com infiltrao? Ela expande, quebra e cai”, lembra o responsvel pelos projetos.

O sistema de climatizao ser completamente alterado. Atualmente, h dutos na cobertura (com p direito de 9,5m), com sadas de ar pelo forro. A proposta devolver a integridade do forro e criar um sistema com mquinas em uma sala aos fundos, com dutos de ar pelo cho, sem rasgar o piso de ladrilho hidrulico da Capela de So Benedito, nem a parede.

Aps, os chamados evaporadores, de onde sai o ar frio, ficaro mostra, no cho, nas laterais da igreja. Seria mais fcil colocar a mquina da “rede frigorgena” l fora, mas “a gente no pode comprometer a fachada, descaracterizar a arquitetura”, registra Igor.

As portas e janelas sero recuperadas. Em vez de substitu-las, sero retiradas apenas as partes que sofreram eroso. “A gente desmonta aquela janela, tira aquela viga, coloca outra e remonta a janela, porque ela tem histria”, apresenta o arquiteto, registrando que a pea substituda ir para um museu a ser montado, aps levantamento arqueolgico.

H tambm a preocupao com a iluminao. Atualmente h luminrias que dialogam com a arquitetura da igreja e outras, pretas, que foram colocadas naquele mtodo de “soluo” e sero removidas. “Quando essa igreja foi criada, era iluminao de tocha, de vela”, lembra e completa sobre o projeto a ser executado: “a luminria bem sutil, ela ilumina a abbada, o forro, para o forro dar iluminao para a nave”.

Tal projeto de iluminao, a ser desenvolvido por um engenheiro eletricista especialista em luminotcnica, considera as partes artsticas da igreja. “Dependendo de qual iluminao, pode queimar o ouro e estragar mais rpido”, narra.

A sonorizao tambm ser toda nova, tambm pensada para interferir o mnimo na arquitetura da igreja. “O som vai ser via sinal de rdio, ns no vamos mais ar cabo” e as caixas de som estaro integradas na edificao visualmente, de forma, ainda, a no “comprometer a integridade da parede”, feita de adobe (barro). Tambm ser considerada a potncia do som, para que a vibrao no derrube o reboco ou a pintura.

Esto previstas, ainda, correes estruturais com vistas segurana, como o cuidado com os pilares que sustentam o mezanino e os projetos de preveno e combate incndio e de para-raios.

A proposta reproduzir as tcnicas histricas da igreja, mas, quando a tecnologia utilizada a recente, a exemplo da climatizao, o mtodo deixar a interveno visvel e evidente, para no confundir com a parte que atravessou os tempos.

Equipe multidisciplinar

Alm de engenheiros civis e arquitetos e profissionais que vo executar a obra, como pedreiros, so necessrios para a restaurao arquelogo, engenheiro florestal, artesos, engenheiro luminotcnico, engenheiro de som e projetistas, do ponto de vista de planilha oramentria.

A restaurao conta tambm com participao e apoio de profissionais da Secel-MT e do IPHAN.

Nesses trs anos de estudos para uma nova restaurao, j houve auxlio tambm de uma equipe de alunos e professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que fez “alguns servios, levantamentos”.

O momento agora de “prospeco, dilogo e planejamento”, especialmente na busca de financiadores. Mas uma parte do dinheiro j foi garantida por fiis da igreja e entusiasta da cultura cuiabana. “Muita gente j doou”, se referindo ao dinheiro arrecadado e aos servios prestados por voluntrios.

Inclusive, esta etapa conduzida pela A4 projetos voluntria. Todos os envolvidos s aro a receber pelo trabalho quando o recurso estiver completo e os projetos de cada rea aro a ser feitos.

Isso porque, explica Igor, a agem do tempo pode gerar outras demandas, como outros pontos de infiltrao ou outras peas de assoalho que demandariam troca, impactando nos projetos e no oramento.

Testemunho

Quem quiser conhecer as diversas intervenes que a Igreja de Nossa Senhora do Rosrio e de So Benedito ou tem a oportunidade de ver o chamado “testemunho da histria do sistema construtivo”.

Isso, porque, na ltima restaurao, a equipe responsvel deixou mostra um pedao de parede, deixando mostra o adobe (com pedaos de razes de rvores, alm do barro), pedras, camadas diferentes de barro, cacos de telha e de tijolos e reboco de cimento. “Isso significa que, ao longo dos anos, eles foram restaurando a igreja com vrios tipos de materiais”, conta Igor. “Est vendo este pilar de madeira? isso mostra que, primeiramente, a igreja foi s uma choupana e depois vieram fechando com paredes”, explica, destacando a importncia de deixar tal registro mostra, “para a gente entender as mudanas que houve”.

Histria

A igreja foi levantada na dcada de 1730 por mos escravas e, na restaurao, fundamental ter acompanhamento de um arquelogo, para resguardar peas removidas bem como outras que possam ser encontradas.

Aps, sero catalogadas e colocadas exposio, com o registro histrico daquela pea.

O espao de f catlica um dos marcos de fundao da cidade de Cuiab, tendo sido construdo prximo s guas do crrego da Prainha. A fachada simples tpica da arquitetura colonial brasileira. A decorao barroca-rococ do altar e retbulos contrasta com a simplicidade externa, todavia.

Ela foi tombada pelo IPHAN em 1975, pela Fundao Cultural de Mato Grosso em 1987 foi includa no permetro tombado do Centro Histrico de Cuiab em 1993.

A edificao, testemunha da histria de Cuiab, tambm palco da Festa de So Benedito, mais longa festa religiosa do estado, que, aps uma pausa em 2020, em funo da pandemia do novo coronavrus, ser realizada em outubro, com programao adaptada para o “novo normal”, com retirada de marmitas das comidas tpicas e carreata substituindo o cortejo.
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